André Alves da Cruz. Quando o brasileiro chegou ao Sporting (vindo do Torino) na viragem do século era já trintão. Vinha como outros trintões gozar a “reforma” a Alvalade? Longe disso. Foi muito provavelmente o melhor central que jogou no Sporting desde então. Carregava a verdade e branca número cinquenta. André rapidamente pegou de estaca no centro da defesa ao lado de Beto. Mais do que experiência, trouxe de Itália um pé esquerdo que batia tudo o que parado estava sobre a relva: cantos, livres. E onde metia os olhos, metia a bola. Um livre de André Cruz, perto ou longe, era como um penálti com barreira. Que importa a barreira! A bola sobrevoava-a, quase em câmara lenta, e entrava sempre ou quase sempre (quando o guarda-redes não a defendia ou o poste fazia as vezes de um guarda-redes) no canto superior, tanto fazia se o esquerdo ou direito, era o canto onde se diz que a coruja se aninha e André assarapantava a pobre ave.

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Sporting-Tondela, 2-0

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Manuel Oliveira

Sporting: Rui Patrício; Piccini, Coates, Mathieu e Coentrão (Bruno César, 81′); William Carvalho, Bruno Fernandes, Iuri Medeiros (Gelson Martins, 59’) e Acuña; Alan Ruiz (Battaglia, 53’) e Bas Dost.

Suplentes não utilizados: Salin, André Pinto, Petrovic e Doumbia.

Treinador: Jorge Jesus

Tondela: Cláudio Ramos; David Bruno, Ricardo Costa, Ansell (Junior Pius, 31’) e Joãozinho; Hélder Tavares, Claude Gonçalves e Pedro Nuno (Zachara, 58’); Miguel Cardoso, Murilo e Tomané

Suplentes não utilizados: Ricardo Janota, Fahd Moufi, Bruno Monteiro, Joca e Tyler Boyd

Treinador: Pepa

Golos: Mathieu (13’) e Bruno Fernandes (72’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Bruno Fernandes (75’) e Ricardo Costa (94′)

Jérémy Mathieu fez reviver os dias felizes com André a quem foi a Alvalade este sábado. E cedo o fez, logo aos 13′. Iuri Medeiros sofreu uma falta pertíssimo da área do Tondela, bem em frente à baliza. Não sendo o livre descaído para nenhum lado, não havendo preferência por destros ou canhotos, Bruno Fernandes e Mathieu chegaram-se à frente. Quem bateu foi o francês, de pé esquerdo, a bola sobrevoou a barreira e entrou no canto superior esquerdo da baliza de Cláudio Ramos — não, nem com asas (ele bem se esticou…) o guarda-redes do Tondela lá chegaria. Foi o primeiro golo no Sporting-Tondela e o primeiro de Mathieu desde que chegou a Alvalade. O central não fazia um golo de livre (OK, Messi era o dono da bola no Barcelona) desde janeiro de 2015, então contra o Elche para a Taça do Rei.

O Sporting circulava, circulava e voltava a circular a bola. Serenamente. E o cronómetro a contar, contar e voltar a contar. O Tondela mal lhe sentia o couro — e também não fazia muito para o sentir. Mas remates só mesmo o de Mathieu. Aos 24′, o Sporting recupera a bola a meio-campo, Dost leva-a até à área e apanha a defesa dos visitantes em contra-pé. Entrega-a depois mais à direita em Iuri e este, após tirar as medidas à baliza e encontrar o ângulo certo para onde rematar, rematou. A bola sairia um palmo ao lado do poste esquerdo do Tondela.

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Por falar em poste. O argentino Alan Ruiz, do meio da rua, encheu a canhota (40′) e rematou. Não, não foi ao poste. Cláudio Ramos viu a bola saltitar-lhe à frente, subindo depois e quase atraiçoando o guarda-redes visitante, e não a conseguiria encaixar. Na recarga, Bruno Fernandes acertou com estrondo no ferro. Manuel Oliveira apitaria logo em seguida: Bruno estava em fora-de-jogo e a recarga não contou.

À falta de oportunidades, a primeira parte permitiu tirar duas notas. Brevíssimas. Primeira: o Tondela foi jogar ao “quatro-em-linha” em Alvalade, com a linha de quatro médios colada à linha de quatro defesas — e apenas com Tomané à deriva no ataque, sendo presa fácil para os centrais do Sporting. Segunda: Alan Ruiz foi, como dizê-lo?, uma absoluta nulidade durante todo o jogo, apresentando-se neste começo de época (tal como na anterior…) com peso a mais e uma barriguinha proeminente — algo que a profissional, mais a mais de um clube como o Sporting, não se aceita nem pode aceitar nunca.

Jesus percebeu que Ruiz não aquecia nem arrefecia no apoio a Bas Dost. Entrou Battaglia na sua vez, Bruno Fernandes avançou para a posição que era a do argentino: “nove e meio”. Isto ao minuto 53′. O Tondela haveria pouco a pouco (a perder, tinha que o fazer) a desmontar o “quatro-em-linha” e a subir no relvado, pouco mas a subir. Facto: havia mais espaço à entrada da sua área. Espaço que Bruno Fernandes ocuparia. Quando se viu (72′) com uma nesga para chutar, chutou. Em jeito, em força, em direção ao canto superior direito da baliza dos visitantes. Cláudio Ramos bem se esticou. Outra vez (tal como no livre de Mathieu) em vão. Foi o sexto golo de Fernandes esta temporada, o quarto nos últimos quatro jogos.

O Sporting era como o “Melhorar” (o célebre analgésico, anti-inflamatório, antipirético, anti-tudo das décadas de sessenta e setenta do século passado), não jogava bem nem jogava mal — vencia e cumpria. Mas podia até ter vencido por mais — não fosse a atração de William pelo ferro. E tudo aos 83′. Primeiro, canto de Bruno Fernandes à direita, William desvia com pé direito e Cláudio Ramos desviaria também, este com a luva, para a barra. A bola sairia. Outro canto, outra vez Bruno a bater. Outra vez William a desviar — agora de cabeça e na direção do poste esquerdo. Seis partidas, seis vitórias. O Sporting é líder em Portugal.