O ministro das Finanças do Brasil, Henrique Meirelles, estimou nesta terça-feira que o défice primário das contas públicas do país só será revertido após 2021 e descartou um corte de impostos no curto prazo. Em audiência pública no Comité de Assuntos Económicos do Senado (câmara alta parlamentar do Brasil), Henrique Meirelles previu que o Brasil terá que atingir um excedente fiscal de 2,4% até 2026.

No entanto, o ministro submeteu esses resultados à aprovação de reformas económicas pendentes, como as propostas para o sistema de reformas, que permanecem paralisadas no Congresso após os escândalos de corrupção que atingiram diretamente o Presidente do Brasil, Michel Temer, e paralisaram os trabalhos no Legislativo. Do mesmo modo, Henrique Meirelles reiterou que o executivo brasileiro irá cumprir com o objetivo fiscal deste ano, que foi aumentado para 159 mil milhões de reais (cerca de 41,7 mil milhões de euros).

No entanto, de acordo com dados divulgados pelo Banco Central, o défice primário das contas públicas do Brasil nos últimos doze meses até setembro foi próximo de 152,3 mil milhões de reais (cerca de 39,9 mil milhões euros), o equivalente a 2,35% do Produto Interno Bruto (PIB brasileiro).

O défice primário, utilizado pelo Brasil como referência para suas contas públicas, mede a diferença entre receitas e despesas do Governo central, empresas estatais, administrações regionais e municipais sem incluir os recursos destinados ao pagamento de juros da dívida.

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Henrique Meirelles indicou que uma possível reforma tributária, anunciada pelo próprio Temer como um de seus objetivos antes de 01 de janeiro de 2019, quando termina o seu mandato, não provocaria a redução da carga tributária no curto prazo. “A redução de impostos só será possível no longo prazo, quando houver uma redução nas despesas, o que é possível, mas não nesta reforma tributária, que tem como objetivo inicial uma simplificação fiscal”, afirmou.

Desde a chegada de Temer ao poder, no ano passado, após a destituição de Dilma Rousseff pelo Congresso, o Governo brasileiro lançou uma ambiciosa e controversa agenda de reformas assente num severo ajuste fiscal, cujo objetivo era reverter a profunda recessão que atingiu o país nos últimos dois anos.

A economia brasileira teve uma retração de 3,8% em 2015 e de 3,6% em 2016, registando dois anos consecutivos de crescimento negativo pela primeira vez desde a década de 1930. O Brasil já deu os primeiros sinais de recuperação este ano após o crescimento do Produto Interno Bruto em 1% registado no primeiro trimestre e de 0,2% no segundo.