Quando em 1976, Otelo Saraiva de Carvalho se candidatou à Presidência da República, Augusto Santos Silva foi um dos seus apoiantes. Possivelmente poderíamos ficar só por este facto histórico para perceber de quem é feito Augusto Santos Silva, mas perdoar-se-á este “incidente” por todos sabermos que Portugal à época atravessou uma altura politicamente complicada. De qualquer forma, o ser humano tem por racionalidade o dever de se adaptar e mudar o seu comportamento ao longo da desenvolvimento social das nações. Augusto Santos Silva foi dando provas da sua parca evolução, politicamente falando.

De origem política trotkista, aproxima o seu percurso ao Movimento de Esquerda Socialista e já em 1990 filiado no Partido Socialista, é eleito deputado. Começa então a sua carreira e profissão de político até aos dias de hoje. Foi Secretário de Estado da Administração Educativa (1999-2000) e depois Ministro da Educação (2000-2001) e da Cultura (2001-2002), nos governos de António Guterres , Ministro dos Assuntos Parlamentares (2005-2009) e da Defesa Nacional (2009-2011), com José Sócrates e surge em 2015 como Ministro dos Negócios Estrangeiros, em governo minoritário chefiado por António Costa formado pelo PS, através de acordo parlamentar com o PCP e BE.

Em Março de 2022 é então eleito Presidente da Assembleia da República – a segunda principal figura do Estado – por 156 votos para a XV legislatura. No seu discurso de tomada de posse prometeu exercer uma presidência “imparcial, contida e aglutinadora” e preservar a individualidade de todos os deputados, para além de declarar que o único discurso que não será permitido é o do ódio.

Augusto Santos Silva, um dos elementos que o núcleo duro que Partido Socialista nunca deixou cair, foi talvez o mais controverso Presidente da Assembleia da República de toda a democracia.

A sua família política de origem — a extrema esquerda — nunca desapareceu. Está-lhe no sangue a aproximação mais à esquerda radical e ela foi evidente quando André Ventura chega ao Parlamento. À medida que o Partido Chega ganha força política, mais Augusto Santos Silva mostra a sua fúria.

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Utilizando o seu cargo político como segunda figura do Estado, e servindo-se da Assembleia da República para a sua promoção na tentativa de ascender a um outro estado pessoal, Augusto Santos Silva foi dando voz ao seu principal inimigo, empoderando-o cada vez mais, levando os holofotes da sua história em direção errada.

Normalizando o discurso do outro lado , o da sua família política — BE e PCP .-, depressa André Ventura faz perceber aos eleitores a distinção que Augusto Santos Silva sempre fez entre a extrema esquerda e a extrema direita, tornando-o assim em o Presidente de alguns deputados.

O homem forte do PS que liderou a casa da democracia, caiu e deixou aos seus sucessores uma das mais importantes mensagens políticas: como não lidar como o populismo para não o engordar. A sua derrota foi de facto pessoal. A estratégia de esvaziar o PSD fazendo-o colar ao Chega não convenceu, e de forma clara o “monstro” que tanto quiseram alimentar acabou por engolir sem dó nem piedade o número dois do Estado Português.

Há porém um facto importante que resulta da não eleição da figura de Augusto Santos Silva. O círculo fora de Europa sempre foi de difícil eleição e a rejeição dos eleitores ao nome de Santos Silva, denota a fraca aproximação entre políticos e a diáspora.

Não deixa saudades, não é exemplo para ninguém e a democracia percebeu que o comportamento político de um Presidente da Assembleia da República não poderia ser o que Augusto Santos Silva protagonizou tendo com isso marcado a história da nossa democracia como o único Presidente da Assembleia da República que falhou uma eleição.

Passou e foi diretamente responsável, como todos os ministros de José Sócrates, por Portugal ter que ir ao beija-mão do Fundo Monetário Internacional, do Banco Central Europeu e a Comissão Europeia. A sua responsabilidade política, chegou agora. Porém, a sua derrota, por erro táctico da parte dos socialistas em por o seu nome como a cabeça de lista num dos mais difíceis círculos, é uma derrota exclusiva da arrogância. Uma derrota de alguém prepotente que utilizara no seu discurso a clara e evidente inclinação trotkista. Inclinação essa que lhe corre no sangue político.

Alguém que é a segunda maior figura do Estado Português, não pode tomar partido e deve deixar de lado as emoções políticas do lado de fora do coração porque na verdade é essa a sua função. Augusto Santos Silva foi vítima dos seus próprios erros, provando do seu próprio veneno.

Fez-se história, e com ela se deve aprender. Santos Silva teria o conhecimento necessário para perceber que toda a sua táctica teria um triste fim. Os eleitores quiseram que a sua profissão política chegasse por ora ao fim, bastará agora a Santos Silva perceber que de facto tudo tem o seu tempo e é aconselhável que não se mete em mais aventuras.

Esta humilhação pública deve ficar por aqui. O karma é “bitch”.