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A crise no PSOE significa que haverá novo governo em Espanha?

A demissão de Pedro Sánchez da liderança do PSOE, este sábado, após fracassar na proposta de realizar primárias para a escolha de secretário-geral, evidenciou a crise interna do partido. Na última quinta-feira, 17 membros do comité executivo já tinham pedido demissão para forçar a saída de Sánchez. Nas eleições regionais, em setembro, o partido obteve os piores resultados de sempre na Galiza e mínimos históricos no País Basco, o que motivou críticas à liderança de Sánchez.

Atualmente, o PSOE é liderado por uma comissão gestora dirigida por Javier Fernández, do PSOE das Astúrias, e composta, sobretudo, por membros opositores de Pedro Sanchéz. A comissão vai permanecer à frente do partido até à realização de eleições primárias. Até à eleição de um novo líder, caberá ao comité federal — constituído por quase 300 membros e que é o órgão máximo entre congressos — decidir o sentido de voto do partido numa eventual nova investidura de Mariano Rajoy, do PP.

Numa conferência de imprensa, esta segunda-feira, Javier Fernández reconheceu que “a pior solução é disputar eleições; para o PSOE e para o país”, mas ressalvou que “uma abstenção não é o mesmo que um apoio” a um eventual governo de Rajoy.

Fernández explicou que, antes da decisão final, o assunto será discutido com os barões do partido, numa reunião do Conselho de Política Federal, órgão formado pelos líderes territoriais do PSOE e presidido por Susana Díaz, uma das maiores opositoras de Pedro Sánchez. Daqui sairá uma primeira indicação do sentido de voto, que terá depois de passar pelo crivo do comité federal.

“Neste momento, qualquer solução para o problema da governabilidade em Espanha passa pelo PSOE. E é um problema para o PSOE. É evidente que o PSOE tem um problema e assume um desgaste com uma decisão que terá de tomar”, defendeu Fernández, citado pela EFE.

Segundo relata o jornal El Mundo, os presidentes de Castilla-La Mancha, Emiliano García-Page, e da Comunidade Valenciana, Ximo Puig, já avançaram que rejeitam a abstenção do PSOE para que o PP governe.

No sentido oposto, a maioria dos deputados do grupo parlamentar socialista manifestou-se esta terça-feira pela abstenção na votação da investidura e assim deixar passar um governo liderado pelo PP. Dos 26 que tomaram a palavra na reunião do grupo parlamentar, apenas três se mostraram contrários ao “apoio” do PSOE a um governo liderado por Rajoy ou por qualquer outro líder do PP.

A data limite para a formação de um novo governo é 31 de outubro, quando o rei Felipe VI terá de dissolver o parlamento nacional e convocar novas eleições — que, segundo a Constituição, seriam a 25 de dezembro.

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E o que dizem os outros partidos da crise no PSOE?

Pablo Iglesias, líder do Podemos, reconheceu que a possibilidade de formar um governo alternativo ao PP está mais distante, após a demissão de Pedro Sánchez. “Se finalmente vencem no PSOE aqueles que querem entregar o Governo a Rajoy, teremos de oferecer garantias e segurança aos cidadãos de que têm uma opção diferente, claramente diferente ao PP”, afirmou ao canal La Sexta.

Iglesias assegurou que o Podemos e o PSOE ” necessitam-se mutuamente” para enfrentar o PP e advertiu que se o partido deixar Rajoy assumir o governo “vai deixar de liderar a oposição”.

Caso os socialistas decidam ir pela via da abstenção, viabilizando um governo do PP, outras consequências podem surgir nas relações com o Podemos. Pablo Echenique, secretário-geral do partido em Aragão, e Antonio Montiel, homónimo na Comunidade Valenciana, já afirmaram que pretendem repensar os seus pactos regionais com o PSOE.

Já o presidente do partido Ciudadanos Albert Rivera disse, pouco depois da demissão de Pedro Sánchez, que “os espanhóis não têm mais tempo nem merecem mais bloqueio” político. “Ninguém está à frente de Espanha, só seguiremos em frente com mudanças e diálogo.”

Esta segunda-feira, durante um evento em Madrid, foi mais incisivo ao dizer que espera que o PSOE não tenha “feito tudo o que fez” (em referência à longa reunião que terminou com a demissão de Sánchez) para continuar a negar-se a negociar com o PP. Para Rivera, a comissão gestora do PSOE tem a “obrigação moral” de sentar-se à mesa, e o PP de não se levantar da mesa e negociar um governo.”

O Partido Popular é mais cauteloso. Segundo relata o jornal El Mundo, o PP acredita na possibilidade de abstenção do PSOE, mas adverte que tal não é suficiente para garantir a governabilidade a longo prazo. “Não devemos dar nada por garantido, nem devemos alimentar cenários”, afirmaram fontes do partido ao El País.

A publicação descreve ainda que Rajoy solicitou aos seus ministros que não opinem sobre a crise interna do PSOE ou sobre uma eventual investidura. O líder do PP já terá telefonado a Javier Fernández, diretor da comissão gestora do PSOE, mostrando-se disponível a retomar as negociações.

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A demissão de Sanchez representa o seu fim político?

Não. Pedro Sánchez anunciou, esta segunda-feira, que vai manter-se como deputado.

“Tenho um compromisso com os eleitores e vou continuar a trabalhar como deputado para melhorar a vida dos cidadãos”, escreveu no Twitter.

O ex-líder do PSOE disse ainda: “Hoje, mais que nunca, os militantes do PSOE são o mais importante. Vocês são a voz deste partido. Devemos permanecer juntos”.

Segundo relatou o jornal El País, as mensagens foram publicadas enquanto se realizava a primeira reunião da comissão gestora do PSOE.

 

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E o que se segue no PSOE? Quando há eleições primárias?

Ainda não há data prevista para a realização de eleições primárias. Na quinta-feira passada, aquando das 17 demissões na cúpula do PSOE, Sánchez marcou eleições primárias para o dia 23 de outubro, antes portanto da data limite para a formação de um novo governo.

Mas com a saída de Sánchez tudo isto caiu e será a comissão gestora a decidir agora quando haverá primárias no partido para escolher um novo líder.

Javier Fernández, presidente da comissão, garantiu, esta segunda-feira, que o novo secretário-geral será escolhido a partir de eleições primárias, de acordo com o que está definido nos estatutos do partido. “Ninguém está em condição de tentar infringi-los”, defendeu.

Segundo relata o jornal El Confidencial Digital, há uma desconfiança entre os apoiantes de Sánchez de que a comissão gestora se prepara para adiar o mais possível a convocação das primárias, para assim “facilitar” a investidura de Rajoy e para que os militantes “esqueçam” o processo “traumático” de destituição do ex-líder socialista.

 

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Pedro Sánchez pode recandidatar-se à liderança do PSOE?

Pedro Sánchez não só pode, como deve fazê-lo, segundo alguns socialistas.

É o caso do ex-presidente de Cantábria, Miguel Ángel Revilla, que avançou que a ideia de Pedro Sánchez é apresentar-se nas primárias para retomar a liderança do partido. “Falei com Pedro [Sánchez], após a sua demissão, e ele disse-me que pensa apresentar-se nas primárias”, afirmou ao canal La Sexta.

Já Odón Elorza, deputado do PSOE e ex-presidente da Câmara de São Sebastião, acredita que Sánchez “vai apresentar-se para ganhar as primárias do PSOE” ao posicionar-se como “vítima, objeto de uma perseguição e de uma manobra suja por se negar a apoiar Rajoy”, disse, citado pelo jornal La Vanguardia.

Núria Parlon, vice-primeira-secretária do PSC (Partido Socialista da Catalunha), concorda com a opinião dos seus companheiros socialistas. “Se a comissão gestora do PSOE decidir convocar primárias e Pedro Sánchez decidir apresentar-se, ganhará evidentemente “, garantiu.

Sánchez ainda não anunciou o que irá fazer.

 

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E quais são os possíveis candidatos à liderança do PSOE?

A imprensa espanhola tem mencionado o nome de alguns candidatos que poderão concorrer às eleições primárias do PSOE:

  • Susana Díaz: secretária-geral do PSOE na Andaluzia, é uma das principais opositoras de Pedro Sánchez. Declarou que estará “onde os militantes quiserem, mas este não é o tempo para falar do assunto”. O seu nome é falado há anos para o cargo, devido aos bons resultados obtidos pelos socialistas na Andaluzia.

  • Patxi López: deputado, ex-presidente do Congresso e ex-presidente do governo basco, é considerada uma voz moderada dentro do PSOE, tem a confiança de Pedro Sánchez e um bom entendimento com Susana Díaz.

  • Eduardo Madina: deputado e ex-secretário geral do grupo parlamentar socialista no Congresso, perdeu as eleições primárias contra Pedro Sánchez, em 2014. É considerado um dos maiores críticos internos ao ex-líder do PSOE.

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No PP, Rajoy fica ou abre espaço para Feijóo?

Alberto Núñez Feijóo é presidente do governo regional da Galiza e principal líder do PP na região. Em setembro, ganhou as legislativas regionais, depois de oito anos no cargo, com maioria absoluta, mantendo 41 deputados em 75, tornando a Galiza a única Comunidade Autónoma espanhola governada por um partido com maioria absoluta. O bom resultado qualificou Feijóo como o mais provável sucessor de Mariano Rajoy à frente do PP num futuro próximo, segundo especulam os media espanhóis.

Conforme relata o jornal El País, Feijóo não quer alimentar estas especulações sobre a sucessão de Rajoy, porque defende que este debate poderia fragilizar a intenção do líder do PP de presidir ao governo espanhol. De acordo com a publicação, o seu plano seria terminar o mandato na Galiza — até 2020 —, liderar a sucessão em 2019 e esperar que Rajoy termine a legislatura e se despeça da vida política.

Os votantes do PP parecem gostar da ideia. Uma sondagem da empresa GAD3, publicada pelo jornal ABC, revela que 50% dos eleitores do partido, nas últimas eleições gerais, acreditam que Feijóo é o “sucessor natural” de Rajoy. 17% responderam que estão em desacordo com esta afirmação, 12% não estão de acordo ou em desacordo e 21% não quiseram ou souberam responder a questão.

Em declarações ao ABC, o presidente reeleito do governo regional da Galiza disse desconhecer a possibilidade de liderar os populares. “Estão a falar-me do futuro e disso não sei nada”. Garantiu ainda que “não se moverá contra Rajoy”. “Jamais vou dar este passo contra Rajoy, ele não merece”, assegurou.

 

 

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Já começam as pressões para um novo referendo na Catalunha. A tensão vai voltar a subir?

Não basta a Espanha estar sem Governo há quase um ano, agora os independentistas catalães decidiram voltar à carga.

Carles Puigdemont, presidente do governo da Catalunha, anunciou na última semana que vai convocar um referendo sobre a independência da região em setembro de 2017 “com ou sem o aval do Estado”. “Ou referendo ou referendo”, disse, durante uma sessão parlamentar, na última semana.

Para Puigdemont, a Catalunha estará preparada para “desconectar-se” de Espanha em julho de 2017, altura em que o Parlament já terá aprovado o que ele chama de “estruturas de Estado básicas”, para que a região “funcione como um Estado Independente”.

O anúncio de Puigdemont provocou críticas de opositores à independência da Catalunha. Para o porta-voz do Ciudadanos, Fernando de Páramo, a solução para a questão “é a unidade” e não “desconectarmo-nos em pleno século XXI”, qualificando de “remendos fracassados” os planos do presidente do governo da Catalunha sobre o referendo.

Eva Granados, porta-voz do Partido Socialista Catalão, concordou com de Páramo e assegurou que o anúncio de “referendo ou referendo” será um “fracasso ou fracasso”, porque supõe voltar “à idade da pedra”.

Apesar de não descartar a possibilidade de articular o referendo com o governo central, Puigdemont acredita que o próximo governo será “um núcleo duro frentista”, que vai opor-se à realização da consulta popular. Criticou ainda o PSOE por “devorar” Pedro Sánchez, ao abrir-se ao diálogo com os independentistas e advertiu que os barões socialistas cometem “a maior deslealdade para que não se mude nada”, num sistema protagonizado “por um partido imobilista como o PP.”

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Como Bruxelas vê a crise política em Espanha?

A Comissão Europeia espera que o governo espanhol envie até o dia 15 de outubro o esboço do Orçamento de Estado para 2017 e um novo pacote de ajustamento que permita manter o défice de 2016 dentro do objetivo de 4,6%. No entanto, segundo explica o jornal El Confidencial, como o país está com um governo em funções, apenas pode pedir a extensão das contas do atual exercício orçamental, por estar impedido de aprovar medidas que possam comprometer um novo governo.

A publicação ressalva ainda que a extensão do atual exercício orçamental, sob um governo em funções, transfere o poder de decisão sobre a execução das contas públicas para a Inspecção-Geral da Administração do Estado (IGAE), que terá de decidir sobre os gastos que a Moncloa poderá fazer em 2017.

Em setembro, o porta-voz adjunto da Comissão Europeia (CE), Alexander Winterstein, disse que espera que “Espanha tenha um governo estável que se possa comprometer com os seus sócios e com as instituições”. “Temos que ir passo a passo. Temos um compromisso, a 15 de outubro, e a partir daí veremos”, assegurou, citado pelo jornal La Razón.

Em julho, a Comissão Europeia decidiu não aplicar multas a Espanha por não cumprir o objetivo das metas do défice público de 2015 – assim como foi decidido para Portugal. O país terá até 2018 para alcançar a meta de um défice público abaixo do limiar de 3%. A comissão espera que o défice nominal de 2016 se situe nos 4,6% do PIB.

Entretanto, a Comissão Europeia está a analisar a suspensão de fundos comunitários a Espanha e Portugal, a partir de 2017, por “obrigação legal”, uma medida que “desaparecerá” assim que os governos tomarem medidas para conter o défice, explicou Jyrki Katainen, vice-presidente da comissão. Agora, Madrid terá de explicar aos eurodeputados as implicações de um corte nos apoios ao país.

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E como anda a saúde da economia espanhola sem governo?

O Banco de Espanha prevê que este ano o PIB cresça 3,2%, o mesmo valor obtido em 2015. O valor supera a expectativa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que acreditam que o PIB do país apenas vai aumentar 2,8% e 2,6%, respetivamente.

Para 2017, a entidade espera uma desaceleração maior do PIB, que deverá subir 2,3%. Para o FMI, o valor deve ficar em 2,1%. Para a OCDE, em 2,3%.

De acordo com dados do Ministério do Emprego e Segurança Social, publicados esta terça-feira, havia 3.720.297 desempregados em Espanha em setembro, o menor número para o mês de setembro desde 2009. No entanto, em julho, a OCDE registou uma taxa de desemprego de 19,6% da população ativa – o segundo maior valor entre os países que pertencem à organização. O Banco de Espanha prevê que em 2016 o desemprego chegue aos 19,8% e aos 18,3% em 2017.

Já a dívida pública espanhola chegou a 100,5% do PIB no segundo trimestre do ano, segundo valores divulgados pelo Banco de Espanha. Na altura do anúncio, o jornal La Vanguardia observou que esta foi a terceira vez na história que o valor superou a marca dos 100%, desde que a instituição começou a analisar este valor, em 1995.