O debate da moção de censura do PCP ao Governo acabou por servir de arma de arremesso contra o PS. Os socialistas até se mostraram unidos na votação do texto do Partido Comunista, tal como queria António José Seguro, mas a ausência do secretário-geral do debate, e o facto de o texto comunista criticar algumas ideias dos socialistas, acabou por dominar o debate.

Numa altura de disputa interna pela liderança do partido, o PS deu apenas sinais de unidade na votação da moção de censura. Dos 74 deputados eleitos, estavam presentes na sala na altura da votação, 65, e todos votaram a favor, como tinha pedido António José Seguro. Mesmo aqueles que criticaram a opção do líder do partido. Mas houve quem faltasse e houve também quem saísse da sala antes da votação. Francisco Assis, que foi cabeça-de-lista às eleições europeias, saiu do plenário antes de a presidente da Assembleia da República partir para as votações. O deputado, que já mostrou apoio público a António José Seguro nas questões internas, foi esta quinta-feira à tarde bastante crítico da opção do líder de votar favoravelmente a moção do PCP. Na reunião da bancada parlamentar, Assis considerou “um erro” que o PS votasse a favor e pediu mesmo uma “reavaliação” da posição, tal como noticiou o Observador.

Mas se a votação correu bem ao líder do PS, a decisão de se ausentar do debate, contribuiu para fortes críticas e para servir de arma ao próprio governo e às bancadas da maioria. Do lado do Governo, a intenção foi mais a de vincar a colagem do PS ao PCP e não tanto da ausência de Seguro. Além de Passos Coelho, Paulo Portas, vice-primeiro-ministro, que ficou a cargo do encerramento atacou diretamente o PS, citando Álvaro Cunhal:

“No campo da iniciativa, o PCP vai na frente. O PCP quis embaraçar o PS” e, citando Álvaro Cunhal disse:”Na ideologia não ceder, seja qual for a realidade”.

Paulo Portas foi ainda mais longe: “Do que Portugal precisa e ainda mais depois da troika é de um elevado sentido de compromisso. (…) Parece-me que não precisamos dessas alianças tácticas ou ocasionais destes partidos que têm uma visão diferente do mundo” [referindo-se ao PS e ao PCP]. (…) foi o contributo do PS para se afastar do centro político. Não me parece que alguém lhes agradeça, muito menos o PCP”, disse.

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Ausência justificada como “frete”

A ausência do líder do PS, António José Seguro, no debate da moção de censura do PCP ao Governo de Passos Coelho agitou o início dos trabalhos parlamentares. Enquanto decorria o debate, o socialista justificou a ausência numa conferência de imprensa nos corredores da Assembleia da República.

Logo pela manhã, o gabinete de Seguro justificava a ausência:

“O secretário-geral do PS considera esta moção um frete ao Governo e a sua ausência no início do debate tem esse sentido político. Estará presente na votação da moção. Também por coerência. Para censurar o Governo”.

O debate prosseguiu no Parlamento, com o PS debaixo de fogo. Além dos líderes parlamentares de PSD e CDS aproveitarem a ausência de Seguro para atacar a oposição, mais tarde foi a vez de Passos Coelho fazer o mesmo. Assumindo a derrota, o primeiro-ministro atirou indiretamente ao PS:

“Pode ser que o Governo e os partidos que o apoiam não tenham tido um bom resultado, mas isso não me impediu de estar aqui neste Parlamento e de responder aos senhores deputados”, disse.

Durante a resposta de Passos Coelho aos 11 deputados que se tinham inscrito para intervir, António José Seguro decidiu falar nos corredores. Visivelmente incomodado, nas respostas aos jornalistas – falando até em regras de “boa educação” durante as perguntas dos jornalistas – , o líder do PS quis apenas reforçar a ideia de que a moção de censura é um “frete” que o “impediu” de estar presente e de confrontar o Governo de Passos Coelho, uma vez que para o dia de hoje estava marcado um debate quinzenal. Chamou à moção do PCP um “circo mediático” e insistiu na ideia que os comunistas estão a fazer um favor ao governo. “Enquanto políticos andam na política e politiquice, os portugueses estão a sofrer”, disse Seguro.

Já quanto à vida interna do partido, remeteu para amanhã. A declaração acabou por ser rápida, Seguro evitou responder a mais perguntas, ficando a conferência a meio.