O primeiro jogo do Mundial de Futebol 2014 vai realizar-se esta quinta-feira pelas 17 horas (21 horas em Portugal), entre o Brasil e a Croácia. Cerca de hora e meia antes do jogo, o estádio Arena Corinthians vai vibrar com as cores e sons da cerimónia de abertura, mas também com os movimentos apresentados durante o evento. Não serão só os da capoeira e danças tradicionais a serem recordados, mas especialmente o pontapé de saída por um paraplégico num exoesqueleto.

Há mais de dez anos a trabalhar num esqueleto robótico que possa ser controlado pela mente, a equipa liderada por Miguel Nicolelis, neuroengenheiro brasileiro a trabalhar na Universidade de Duke, na Carolina do Norte (Estados Unidos), vai poder apresentá-lo no evento futebolístico mais importante. A criação deste robô foi possível graças à parceria com vários institutos, incluindo a equipa Gordon Cheng, investigador na Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, lê-se na página do Jornalismo Ponto Net (JPN).

O investigador brasileiro está desde novembro de 2013 sediado perto de São Paulo para acompanhar toda a preparação da iniciativa, noticia o Estadão. Tem trabalhado com oito doentes que, além de experimentarem um simulador virtual que lhes dá a sensação de caminharem, também já tiveram a oportunidade de testar o exoesqueleto usando comandos cerebrais. Incluindo em alguns jogos de futebol em São Paulo, para perceber como podem reagir as pessoas perante a audiência e se os telemóveis podem afetar o controlo do aparelho, refere o JPN.

Cada utilizador coloca um capacete capaz de detetar e ler as ondas cerebrais e passá-las a um computador numa mochila. Os sinais são aqui descodificados e transmitidos aos motores hidráulicos do exosqueleto. O aparelho, capaz de suportar o corpo e as pernas, vai gerar o movimento idealizado pelo utilizador sem recorrer a nenhum botão. Os doentes paraplégicos vão poder sentir como é caminhar novamente, além de o fazerem de uma forma mecânica, graças aos circuitos existentes nos pés do robô.

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O exoesqueleto, de movimentos fluidos, é alimentado por uma bateria autónoma durante duas horas. Por enquanto, pesa 70 quilos, mas os investigadores planeiam diminuir o peso para 50 quilos, apesar de, à semelhança de outros esqueletos robóticos, o peso não ser suportado pelo doente. Os investigadores planeiam também alargar a utilização desta tecnologia a doentes tetraplégicos.

Miguel Nicolelis pretende mostrar a que a tecnologia é viável, embora ainda não esteja disponível para ser comercializada. “A mensagem principal é que a ciência e tecnologia podem ser agentes de transformações sociais em todo o mundo, podem ser usadas para diminuir o sofrimento e as limitações de milhões de pessoas”, disse o investigador à BBC. Aproveitou a rede social Facebook para divulgar o projeto Walk Again (Andar de Novo) e está em contagem decrescente para uma exposição mediática como raramente um cientista tem oportunidade de experimentar.