Chegou o momento tão esperado. Portugal vai estrear-se na Copa do Brasil, e logo contra uma seleção que já disputou sete finais de Mundiais. Desde aquele memorável três-zero no Euro-2000, Portugal tem perdido sempre com a Alemanha nos momentos decisivos. Neuer, o guarda-redes alemão, diz que jogar contra Portugal “é como se fosse a final do Mundial”.  As grandes duvidas de Paulo Bento devem prender-se com duas posições: trinco e avançado. Veloso ou William Carvalho? Postiga ou Hugo Almeida? Veremos.

Mais tarde, para uma libertação de adrenalina e emoção, teremos dois jogos mais humildes. O Irão defronta a Nigéria e procura a sua segunda vitória em fases finais de Campeonatos do Mundo. A única aconteceu no França-98 contra os Estados Unidos. A Nigéria vai para a quinta participação em Mundiais e não conta com jogadores com a dimensão do passado como Oliseh, Finidi e Okocha, mas tem alguns valores que podem dar que falar na prova.

O Gana-Estados Unidos é o último duelo do dia. Os africanos estiveram muito perto das meias-finais em 2010, mas Suárez não deixou, duas vezes (lembramos o episódio abaixo). Os Estados Unidos, para surpresa de muitos, chegaram às meias-finais no primeiro Mundial da história (1930) e não falham uma presença desde 1990. Em 2002, os norte-americanos ficaram no grupo de Portugal e levaram a melhor, acabando por atingir os quartos-de-final, o melhor desempenho desde 1930.

Alemanha – Portugal, às 17h00

“O futebol é um jogo em que 22 homens correm atrás de uma bola e no fim ganha a Alemanha.” Sabe quem disse esta frase? Foi o avançado inglês que marcou contra os alemães na meia-final do Itália-90 e que obrigou a partida a ir para prolongamento, que não teria qualquer golo. Na hora dos penáltis a Alemanha não falharia nenhum, enquanto a Inglaterra falharia dois (Pearce e Waddle). O autor da frase é Gary Lineker, um homem que deixou pegada no Leicester City, Everton, Barcelona e Tottenham. As botas seriam penduradas em 1994, depois de jogar dois anos no Nagoya Grampus Eight do Japão. Até se percebe esta conversa do inglês quando olhamos para os números: entre 1930 e 2010, a Alemanha chegou a sete finais dos Mundiais; ganhou três (1954, 1974, 1990) e perdeu quatro (1966, 1982, 1986 e 2002).

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Vamos ao que interessa. “Defrontar Portugal é como se fosse a final do Mundial”, afirmou no domingo Manuel Neuer, o guarda-redes do Bayern Munique e titular da seleção alemã. “Não sei dizer como está Cristiano Ronaldo. Não o conheço. Não posso dizer se está bem preparado ou não. Saberemos amanhã em que forma ele estará”, finalizou. É essa a grande duvida. Como estará Ronaldo? Contra a República da Irlanda não pareceu estar muito bem. O arranque e a mobilidade do extremo foram afetados pela lesão, que teima em atormentar o português e, por arrasto, Portugal. A seleção lusa é simpática, com bons jogadores e um coletivo forte, mas o fado dependerá sempre de Ronaldo, acredita-se.

Portugal tem perdido nos jogos decisivos desde aquele três-zero no Euro-2000, no qual Sérgio Conceição foi o herói com um hat-trick. Desde então, os portugueses só conheceram o sabor da derrota. Em 2006, perdeu o terceiro lugar do Mundial para os germânicos (0-1); em 2008, voltou a perder no Europeu nos quartos-de-final (2-3); e, finalmente, na jornada inaugural do Euro-2012 voltou a registar um desaire (0-1). Claro que nos podemos agarrar àquele grande, grande golo de Carlos Manuel aos alemães, que qualificaria Portugal para o Campeonato do Mundo de 1986, no México. Veja aqui.

Paulo Bento deverá apostar em Rui Patrício, João Pereira, Bruno Alves, Pepe, Fábio Coentrão, Veloso, João Moutinho, Raul Meireles, Cristiano Ronaldo, Nani e Hugo Almeida. As maiores duvidas estarão no trinco e no avançado. As figuras da Alemanha metem respeito: Lahm, Özil, Kroos, Götze, Muller, Klose, Podolski, etc, etc ,etc… A curiosidade aqui é que esta seleção, que em tempos respeitava a utilização do avançado clássico, poderá jogar com um falso 9 — “Guardiolices”.

O site da FIFA dá conta de 17 duelos entre ambas as seleções: a Alemanha venceu nove, Portugal três e registaram-se cinco empates (25-16 para os alemães em golos).

 Irão – Nigéria, às 20h00

Para acalmar a euforia ou a tristeza do Portugal-Alemanha, de seguida temos um super sedutor Irão-Nigéria. Okay, perdoem-nos a ironia. Vamos lá escavar e procurar histórias interessantes…

Mahdavikia. Já ouviu falar? É um iraniano de 36 que terá pendurado as botas no final da época passada mas que está ligado à única vitória do Irão num Campeonato do Mundo. Foi no França-98, e logo contra os Estados Unidos. Se pensarmos bem, isto foi muito mais do que uma partida de futebol. Antes da Copa-2014, o Irão já tinha disputado três Mundiais. A primeira foi em 1978, quando acabou em último do Grupo 4, onde estavam inseridos também Holanda (0-3), Escócia (1-1) e Peru (1-4).

Foi preciso esperar 20 anos para esta gente voltar a pisar um relvado nesta competição. No França-98, e apesar da vitória contra os Estados Unidos, ficaram pelo caminho depois das derrotas com a Jugoslávia (0-1) e Alemanha (0-2). A última aparição foi em 2006 e até meteu Portugal ao barulho. Os iranianos acabaram em último num grupo com México (1-3), Portugal (0-2; Deco e Ronaldo) e Angola (1-1). Teremos a segunda vitória passados 16 anos? Curiosidade: Alireza Haghighi, um dos guarda-redes, jogou este ano no Sporting da Covilhã por empréstimo do Rubin Kazan.

Agora a Nigéria. Quem não sente saudades de Oliseh, Finidi, Okocha e companhia que fez estragos no Mundial de 1998? Esta seleção de 2014 não tem a mesma ginga mas tem alguns trunfos. Enyeama é o Peter Rufai 2.0 com mais elasticidade e excentricidade. Depois há a experiência de Yobo e Ambrose na defesa — este último é um perigo… para a sua baliza às vezes. Obi Mikel no Chelsea parece um jogar banal mas na seleção assume muito protagonismo. Mas é na frente que esta equipa promete causar sensação, com Odemwingie, Musa, Emenike, Moses e o experiente Shola Ameobi.

Este é o quinto Campeonato do Mundo em que participam — 1994, 1998, 2002, 2010 –, mas curiosamente não vencem também desde o França-98. Essa última boa memória aconteceu a 19 de junho, quando, no Parque dos Príncipes, venceram a Bulgária de Kostadinov, Balakov, Penev, Ivanov e Iliev. Lembra-se deste último? Vestiu a camisola do Benfica entre 1995 e 1997 — jogaria ainda, uns anos mais tarde, no Marítimo e Salgueiros. A Nigéria venceu a última edição da Taça das Nações Africanas (CAN): um-zero ao Burkina Faso (2013).

Gana – Estados Unidos, às 23h00

Vale a pena ficar acordado até tarde para tirarmos a pinta aos adversários de Portugal no Grupo G. Esperemos que não seja “G” de Gana, pois esta seleção anda a ameaçar fazer estragos. Ninguém pode esquecer como terminou a sua aventura no Mundial de há quatro anos. Já muito perto do final do prolongamento, Gana e Uruguai lutavam desesperadamente por um lugar nas meias-finais. Um livre lateral permitia ao Gana mais uma chance. Kevin-Prince Boateng cabeceou para o golo mas… Luis Suárez colocou-se à frente em cima da linha e bloqueou a bola; na recarga, o avançado voltou a defender, agora com as mãos, qual Oliver Kahn. Olegário Benquerença mostrou-lhe o vermelho e Suárez saiu em lágrimas. Asamoah Gyan iria carimbar o acesso às meias-finais na segunda participação em Mundiais. Iria se marcasse: bola na trave e desespero do ganeses. Suárez viu o lance no écran gigante enquanto caminhava para o túnel e virou louco, pois claro. O Uruguai venceria nos penáltis. Épico. Vale a pena lembrar aqui.

As figuras maiores do Gana são Mensah, Essien, Kevin-Prince Boateng, Muntari, Asamoah, Gyan e os irmãos Ayew, André e Jordan, filhos do mítico Abédi Pelé e sobrinhos do ex-jogador do Sporting Kwame Ayew.

Os Estados Unidos, para surpresa de muita gente, estiveram presentes no primeiro Campeonato do Mundo da história, em 1930. Sim, foi o único sem qualificação, mas não deixa de impressionar o facto de terem chegado às meias-finais. Para isso tiveram de ultrapassar a Bélgica (3-0) e o Paraguai (3-0) na fase de grupos. Na meia-final seriam atropelados pela Argentina (1-6), que perderia a primeira final da história para o Uruguai, o país organizador.Seguiram-se as participações em 1934 e 1950, a que se seguiu um jejum de 40 anos. O regresso dos norte-americanos foi celebrado no Itália-90. Atenção: não falham um Mundial desde 1990, sendo que pelo meio organizaram um (1994). Em 2002, naquele fatídico Mundial para os portugueses em que venceram e eliminaram Figo e companhia na fase de grupos, chegaram aos quartos-de-final, o seu melhor desempenho desde 1930.

A baliza está bem entregue a Tim Howard e aos seus 35 anos. Depois fica mais complicado de reconhecer um jogador mais reputado, mas Dempsey (ex-Tottenham) e Jermaine Jones saltam à vista. Jürgen Klinsmann, o selecionador, decidiu deixar meio mundo de queixo caído e não convocou Donovan. A estrela passa a ser Jozy Altidore, um avançado de 24 anos que atua no Sunderland.