A maratona de quarta-feira começa com um borrego para matar. Sabia que os holandeses nunca venceram os australianos? E até tiveram três oportunidades para tal, mas a sabedoria de treinadores holandeses no banco australiano não o permitiu. Robben, Robin van Persie e companhia foram sublimes no contra-ataque na tareia contra a Espanha, mas a abordagem contra a Austrália terá de ser, obrigatoriamente, diferente. Tim Cahill é a grande figura dos socceroos.

O prato forte do dia chega a seguir. Os espanhóis tentam corrigir aquela humilhação da estreia, enquanto os chilenos procuram a segunda vitória na prova. Arturo Vidal, médio da Juventus, já avisou que estão no Brasil para ganhar o Campeonato do Mundo. Uma sondagem do diário espanhol Marca revela que os adeptos da La Roja querem três mexidas no 11 de Vicente del Bosque: Javi Martínez por Piqué, Koke por Xavi e Pedro por Silva —  importante não ignorar que falamos de um jornal de Madrid.

Para fechar a barrigada de bola temos a seguir o Croácia-Camarões. Os africanos têm de fazer pela vida depois da derrota diante do México. E a tarefa não se adivinha fácil, não só pelo valor da Croácia mas também pela lesão de Samuel Eto’o. Os croatas revelaram muita qualidade na estreia contra o Brasil e o regresso de Mandzukic será essencial para a seleção de Kovac triunfar.

Austrália — Holanda, às 17h

Cinco a um, à Espanha. Se o futebol fosse uma montanha, isto seria chegar ao cume logo no primeiro dia. A par do 3-1 que a Costa Rica e um endiabrado Joel Campbell deram ao Uruguai, a goleada dos holandeses aos campeões da Europa e do Mundo é talvez a maior surpresa deste Mundial. Basta lembrar o pouco que se esperava desta Holanda. Até o próprio seleccionador, Louis Van Gaal, insistiu antes da prova que havia “oito ou dez equipas melhores” que a sua.

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Um bluff à moda holandesa. Três centrais, dois laterais promissores – um deles, Daley Bling, com uma canhota certeira que já deu duas assistências -, um De Jong mais calmo a segurar o meio campo e, à frente, o ataque a cargo do trio trintão de Sneijder, Robben e Van Persie. Frente a uma Espanha que, desde 2008, reivindica a bola em todos os jogos que faz, as armas holandesas foram o contra-ataque e os poucos mas diretos passes para a frente quando recuperava a bola. Contra a Austrália terá de ser diferente.

Os socceroos não vieram ao Brasil para dominar, mas para surpreender. Não há muitas equipas no mundo contra quem a Austrália consiga entrar no relvado e dominar o que vai acontecendo à bola. Não aconteceu na derrota (3-1) com o Chile e tão pouco o veremos contra a Holanda. Há uma coisa, porém, que os australianos sabem fazer — surpreender os holandeses. Nos três amigáveis em que se encontraram, nunca os europeus venceram a Austrália: 1-1 em 2006, 1-2 em 2008 e um 0-0 em 2009. Talvez por ter estado sempre um holandês no banco aussie a dar ordens — Guus Hiddink, no primeiro e, depois, Pim Verbeek. Esses tempos já acabaram e agora é um homem da casa, Ange Postecoglou (sim, é australiano) que está no banco.

Das poucas coisas que restam é Tim Cahill, avançado de 34 anos. “Temos de ter cuidado porque o seu timing para atacar a bola de cabeça é um dos melhores”, avisou Nigel de Jong. Pudera. Nos oito anos que passou na Premier League, com o Everton (2004-2012), e com os seus 1,78m de altura, Cahill marcou 21 golos de cabeça — pior apenas, nesse período, que Peter Crouch, avançado de 2,03m.

Espanha — Chile, às 20h

E se a campeã do mundo Espanha ficasse pelo caminho na fase de grupos? Era a mesma coisa que o Homem-Aranha esbarrar contra um prédio nos primeiros 15 minutos do filme ou o Super-Homem decidir arrumar a capa e tornar-se jardineiro a tempo inteiro. Depois do festival da Laranja Mecânica 2.0 — goleada por 5-1 –, segue-se o Chile. Os sul-americanos já venceram a Austrália (3-1) e não estão para brincadeiras. “Esperamos jogar bem contra Espanha, levar os três pontos e se os deixarmos de fora será ótimo. Mas não viemos cá para eliminar a Espanha, nós viemos para ganhar o Campeonato do Mundo”, avisou Arturo Vidal, o médio da Juventus. Na estreia, esta equipa chilena registou 63% de posse de bola e marcou três golos em 11 remates. As estrelas são fáceis de assinalar: Valdivia, Vidal e Alexis Sánchez. Este último ganha vida na seleção, a que não tem no Barcelona. É um regalo vê-lo descomplexado.

Os olhos do mundo estão agora colocados em Espanha. Como será a reação? Irá jogar Casillas? O meio-campo terá sangue novo? E o avançado, será Diego Costa? Fernando Torres já disse que procurar culpados é coisa de perdedores. Fàbregas, o novo reforço do Chelsea, já prometeu que estão prontos para reagir. Afinal, é esta a cultura espanhola, que, arriscamos dizer, deveria ter mais seguidores. Nunca, desde que estão no topo do mundo, os espanhóis foram tão questionados. “Nas situações limite sacamos o melhor de nós”, prometeu Reina. Mais do que um jogo, está em causa a identidade e o estilo. Será para manter? Juan Mata diz que não vê razões para mudar…

Uma sondagem do diário espanhol Marca mostra que os adeptos da La Roja preferem ver de início Javi Martínez, Koke e Pedro em detrimento de Piqué, Xavi e Silva. Casillas continua, pois claro, de pedra e cal. José Mourinho decidiu meter a colher e, logo ele que sentou o histórico guarda-redes no Real Madrid, afirmou que Casillas deveria continuar a ser o titular.

A história diz que os espanhóis nunca perderam com os chilenos: oito vitórias e dois empates. Mas, entre estes triunfos, há um que terá de servir de inspiração. Em 29 de junho de 1950 as duas seleções encontraram-se para jogar a fase de grupos de um Mundial. Coincidências? Esse Mundial era no Brasil, tal como em 2014, o palco foi o Maracanã, tal como será nesta quarta-feira. Se isto não é engraçado… Na altura, Basora e Zarra deram a vitória aos espanhóis e empurravam os sul-americanos para fora do Campeonato do Mundo.

Camarões — Croácia, às 23h

Para fechar o dia teremos um Croácia-Camarões, que poderá ser bem mais sedutor do que à primeira vista aparenta. Quem não quer ver a seleção croata depois daquela estreia com o Brasil? Mas já lá vamos.

Sabe quem vai ser o árbitro da partida? Pedro Proença. O árbitro português de 43 anos tem estado ao mais alto nível, nomeadamente ao apitar as finais da Liga dos Campeões e do Campeonato da Europa em 2012, e continua. Em 2013, apitou dois jogos da Taça das Confederações, no Brasil, que o país organizador acabaria por vencer na final contra a Espanha (3-0). E agora segue-se o Campeonato do Mundo.

A estreia dos Camarões contra o México prometia ser um festival sul-americano mas, após alguns erros do árbitro, terminaria apenas 1-0, cortesia de Oribe Peralta. À derrota junta-se agora a lesão de Samuel Eto’o. “Os médicos confirmaram. Provavelmente não estarei em condições para jogar a partida com a Croácia devido a uma lesão no joelho que me está a causar dor”, confirmou o avançado do Chelsea, que participa no quarto Mundial da carreira.

Agora a Croácia. As sensações são boas, mas a margem de erro é mínima, o que trará pressão acrescida. O ouro está no meio-campo, onde Rakitic — novo reforço do Barcelona — e Modric fazem o que querem da bola. Numa posição um pouco mais adiantada estará, se for a mesma equipa da estreia, Kovacic, um médio de 20 anos do Inter de Milão. Ninguém questiona as qualidades do jovem mas esta seleção talvez ficasse ganhar com a entrada de um trinco para soltar Rakitic e Modric. Olic, no seu jeito trapalhão, continua a ser um quebra-cabeças pela esquerda, enquanto Perisic vai mostrando dotes de qualidade. De regresso, estará Mandzukic, o avançado do Bayern Munique. Kovac, o selecionador, tem razões para sorrir. Camarões e Croácia nunca se defrontaram.