No início era apenas um trabalho para a disciplina de Computação Móvel do mestrado em Engenharia Informática, mas como os resultados e as críticas foram positivas, os alunos Cátia Raminhos e Jorge Santos decidiram ir mais longe. “Enforcing Kids” começou por ser uma aplicação para ser usada na terapia de crianças autistas, mas estendeu-se a uma plataforma que reúne informação sobre esta perturbação que afeta o desenvolvimento e as relações sociais.

A aplicação está neste momento em fase de testes pelos terapeutas da instituição PIN-Progresso Infantil, dirigida pelo pediatra Nuno Lobo Antunes. Enquanto a equipa do Lasige (Laboratório de Sistemas Informáticos de Larga Escala), da Universidade de Lisboa, trabalha a criatividade e a parte técnica da aplicação, os terapeutas do PIN vão identificando as limitações da mesma e propondo melhorias. “Nós damos sugestões e [os investigadores do Lasige] são muito receptivos às modificações”, diz ao Observador Carla Almeida, coordenadora do núcleo de Perturbações do Espetro do Autismo e Défice Cognitivo no PIN.

O objetivo da aplicação “Enforcing Kids” é o treino de competências diárias. Perante uma série de imagens apresentada à criança ela tem de as fotografar uma a uma pela sequência correta, explica ao Observador Tiago Guerreiro, investigador no Lasige e orientador do projeto. Quando a criança completa o exercício corretamente tem uma recompensa como a sua música preferida ou um desenho animado de que goste.

Adaptar a aplicação a cada terapia

“A maior vantagem é a possibilidade de adaptar a aplicação, o que dá ao terapeuta muita autonomia”, refere Carla Almeida, ao compará-la com outras que têm parâmetros mais limitantes. Outra vantagem é a possibilidade de a aplicação vir a ser utilizada pelos pais para trabalharem com as crianças em casa, numa forma de complemento à terapia realizada no PIN.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Sentimos que as novas tecnologias não substituem a vertente humana, mas tem um elevado fator de motivação. São extremamente apelativas para as crianças”, reforça a técnica de Educação Especial e Reabilitação que desde o ano passado utiliza outra aplicação apoiada pelo Lasige. O objetivo era reproduzir gestos, porque as crianças autistas têm “dificuldade em utilizar a comunicação não verbal como dizer adeus, mandar beijinhos ou apontar”. Mais uma vez, depois de um exercício completo com sucesso a criança tem como reforço um excerto de um filme que goste.

“A aplicação é um instrumento para os terapeutas, um complemento às várias terapias e não uma terapia específica”, diz Carla Almeida, cujo grupo que coordena não usa nenhum método em exclusivo. “Tudo depende das necessidades da criança.” O centro recebe desde crianças com menos de dois anos a adolescentes e jovens adultos, desde os que não dizem nada até aqueles que têm 18 ou 20 valores a matemática ou físico-química, refere a terapeuta. Esta aplicação começará por ser usada na intervenção precoce e crianças a frequentar o pré-escolar a partir deste mês.

As pessoas com perturbações do espetro do autismo podem ter, de forma geral, dificuldades de aprendizagem, défice de atenção ou hiperatividade. Além da informação generalista, Cátia Raminhos e Jorge Santos sentiram necessidade de obter mais informação, mas não é fácil encontrá-la. Decidiram, por isso, criar um conjunto de serviços: uma página do Facebook, para o grande público; um grupo, na mesma rede social, para debater, procurar ajuda, trocar informações; um blogue com acesso reservado a um público mais especializado; e um serviço de alerta.

Alimentar esta plataforma é algo que fazem de forma totalmente voluntária e no “tempo livre”, mas com empenho. “É muito gratificante para um estudante ver o seu trabalho ter utilidade prática, para além de cumprir os requisitos académicos definidos em cada disciplina curricular”, dizem os autores ao Observador. Aguardam agora que as pessoas tragam novas ideias e partilhem as experiências para enriquecer a plataforma.