A nomeação de administradores do banco central angolano para o Banco Espírito Santo Angola (BESA), o saneamento da instituição e, sobretudo, o eco da notícia nos órgãos de comunicação social estatais fizeram despertar hoje a preocupação dos angolanos.

Embora sem nenhuma corrida aos balcões, a agência Lusa constatou alguma preocupação nos clientes do BESA em Luanda, ao mesmo tempo que as medidas de saneamento decididas no dia anterior pelo Banco Nacional de Angola (BNA) fazem o grande destaque das últimas horas na imprensa nacional, pela primeira vez desde o início da crise no BES português.

“Fiquei preocupado com as notícias, pensei que iria haver alguma interferência no funcionamento normal, mas até agora o atendimento tem sido normal”, confessou à Lusa Osvaldo Manuel João, um dos clientes com dúvidas que hoje passou pelos balcões do BESA na Maianga, centro da capital angolana. À saída, e apesar da preocupação inicial, admitia não ter motivos de queixa, pelo menos por enquanto: “Espero que se resolva a situação o quanto antes, sem afetar os clientes”, apontou.

Na segunda-feira, numa declaração com eco em toda a imprensa pública, o Governador do BNA, José de Lima Massano, anunciou a adoção de “medidas extraordinárias de saneamento” do BESA e a nomeação de “administradores provisórios”, de forma a “garantir a sustentabilidade financeira e operacional” do banco.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em causa está um volume de crédito malparado no BESA que poderá chegar aos 5,7 mil milhões de dólares (4,1 milhões de euros), alvo de uma Garantia Soberana pelo Estado angolano que, segundo Massano, será agora revogada.

À porta de outro balcão na capital, Mondlane Silva dá corpo às notícias e à preocupação sobre o banco, até agora detido em 55,71% pelo BES português, participação que integrará o denominado “banco mau”, em Portugal.

“Tenho acompanhado a situação pelos órgãos de comunicação social. Sou cliente e fiquei atento às notícias, mas até agora não senti nada na pele. Ontem [segunda-feira] o governador do BNA falou sobre o assunto, se as coisas se complicarem vou ter que ver, porque o que os clientes querem é segurança”, reclama. Por isso mesmo diz que sem uma palavra de “confiança” e sobretudo de “segurança”, as dúvidas podem subir de tom rapidamente. “Se não há [confiança], fica difícil de a gente continuar num banco com problemas”, admite.

As dúvidas agravam-se no relato de António Valeto, que há vários dias enfrenta problemas para levantar o vencimento no BESA. Mais tempo que os dois dias habituais. A instituição, refere, diz tratar-se de um “problema administrativo”, mas as dúvidas de António permanecem. “Sou cliente do banco porque o meu salário é depositado no BESA e, não sei se fruto deste problema que o banco está a atravessar ou não, o salário está atrasado já há cinco dias”, garante.

Depois de nova consulta com o gerente do balcão, vai ter de continuar a aguardar, envolto nas notícias que se repetem sobre o BESA. “A solução foi a empresa emprestar-nos dinheiro para depois devolvermos, quando estiver regularizada a situação. Só espero que tudo se resolva, mas parece que está complicado”, desabafou, sem esconder a preocupação.

O BESA conta atualmente com 1.050 trabalhadores.

Segundo o Governador do BNA, as medidas em curso no BESA visam “garantir a proteção dos depositantes e o cumprimento das demais responsabilidades” daquele banco, assim como “assegurar a contínua estabilidade do sistema financeiro nacional”.