Um jantar a quatro mãos, em pleno Algarve. O chef espanhol Roger Viñas juntou-se ao compatriota Jaime Perez que há cerca de sete anos está encarregue da cozinha do restaurante Vistas, no resort Monte Rei (Tavira). Do convite surgiu um menu de jantar que pode ainda ser degustado até este sábado (a iniciativa começou a 21 de agosto).

A autoria da carta pertence à dupla de cozinheiros, que além de amigos trabalharam juntos durante três anos. Ambos garantem que todos os pratos são de assinatura e seguem uma linha de trabalho identitária. “Esta é uma cozinha que nos representa, uma cozinha de produto e de inovação, na qual estamos a trabalhar há vários anos”, garante Jaime Perez. O chef, que durante a carreira cruzou-se com gigantes do sector, como Sergi Arola e Ferrán Adrià, confeciona comida mediterrânica, de inspiração ibérica. “Há que trabalhar com produtos frescos e acessíveis. Depois, entra a imaginação”, diz ao Observador. Acrescenta ainda que as diferenças entre Portugal e Espanha são poucas –“Os países são muito parecidos nos produtos, mas cada um tem as suas receitas”.

Voltando ao sábado à noite, da ementa fazem parte snacks (como terrina de foie gras com redução de vinho do Porto ou papada de porco com hummus) e uma amouse-bouche de filete de sardinha curada em cama de rebentos da estação e tomate. Seguem-se cinco pratos principais, entre os quais contam-se cannelloni de sapatateira com manga, mexilhões marinados com ravioli de alho e consommé de anéis de lula com almôndegas. A sobremesa é uma esfera de chocolate com gelado de baunilha e coulis de morangos, acompanhado de caipirinha, mas ainda há outros “mimos” dos chefs.

Esta é a primeira iniciativa do género. “O Jaime convidou-me. Somos amigos e esta foi uma oportunidade para conhecer o país e a cultura”, explica Roger Viñas que, desde 2003, comanda as operações gastronómicas no restaurante Manairó, em Barcelona, com uma estrela Michelin. Viñas aventurou-se entre tachos e panelas com apenas 14 anos, no Hostal de la Gloria. Desde pequeno que via a mãe cozinhar e garante que o que coloca no prato tem influências de saberes e sabores familiares.

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Ao Observador diz que, quando se trata de gerir uma cozinha, o que conta não é a estrela Michelin, mas antes o que acontece diariamente e a superação constante de desafios. “São muitas horas de trabalho. É duro, mas o restaurante [Manairó] é como uma grande família”, diz. Também o jantar em questão, a ocupar as mesas do Monte Rei, envolveu horas e horas de preparação técnica. Ao todo foram dois dias intensos, conta Jaime Perez. “A papada de porco implica uma cozedura a vácuo. Foram precisas 27 horas”.

Esse terá sido um dos motivos porque Roger Viñas, que está pela primeira vez em solo português, ainda não teve oportunidade para explorar o país. Diz ter ido apenas a dois ou três restaurante e confessa-se fã do bacalhau à braz. Depois de terminada a refeição que ficou incumbido de preparar, admite que vai tentar colocar a jaleca de lado e armar-se em turista.

Até lá há mais jantares na calha. A iniciativa tem corrido bem, garante a dupla. Na primeira noite, a 21 de agosto, foram servidos cerca de 30 jantares e as críticas foram positivas, razão pela qual os chefs permanecem entusiasmados para os restantes dias. O jantar é aberto ao público e tem um custo de 75 euros por pessoa (acresce outros 35 euros pelos vinhos).