O Presidente eleito da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, deixou esta terça-feira a direção do partido islamita-conservador, que se encontra no poder, mas prometeu que o futuro primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu, vai continuar a mesma política.

Na véspera da investidura na chefia do Estado, Erdogan terminou um período de 11 anos à frente do governo e do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), perante cerca de 40.000 apoiantes reunidos num pavilhão desportivo de Ancara para assistir à posse do sucessor.

Num discurso de mais de duas horas, Erdogan – considerado um autocrata pelos adversários – garantiu que o partido não era “de um só homem” e Davutoglu não seria uma marioneta. “Os nomes não têm importância. Os nomes mudam hoje, mas a essência, a missão, o espírito, os objetivos e os ideais (que defendemos) permanecem”, declarou.

Cofundador do AKP em 2001, o presidente eleito, de 60 anos, concluiu a intervenção com uma nota emotiva. “O AKP é o meu quinto filho. O tempo de dizer adeus chegou. Todos sabem como é difícil, para mim, partir, mas vou continuar em contacto convosco, talvez com menos frequência do que até aqui”, disse. “Vamos continuar a servir o nosso povo, de Erdine (oeste) a Hakkari (leste)”, acrescentou.

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Na chefia do governo desde 2003, Erdogan foi eleito presidente a 10 de agosto, com 52% dos votos, no primeiro escrutínio presidencial por sufrágio universal direto. Obrigado a deixar as funções de primeiro-ministro, em junho de 2015, devido ao regulamento em vigor no AKP, que proíbe aos eleitos cumprirem mais de três mandatos, Erdogan repetiu que contava manter as rédeas do poder, modificando a Constituição de modo a reforçar os poderes do chefe de Estado, até agora essencialmente protocolares.

Este objetivo, denunciado pela oposição como uma nova prova da deriva “autoritária e islamita” de Erdogan, está dependente de uma vitória esmagadora do AKP nas legislativas do próximo ano. A maioria de dois terços (367 em 550 lugares) é necessária para alterar a lei fundamental e, atualmente, o AKP só tem 313 deputados. “As eleições de 2015 vão ser muito importantes para nós, porque queremos mudar a Constituição”, sublinhou.

Com 55 anos, Davutoglu é, desde 2003, um dos mais próximos colaboradores de Erdogan. Primeiro assessor diplomático e depois ministro dos Negócios Estrangeiros (2009), este académico definiu e aplicou uma diplomacia ativa, que transformou a Turquia num ator de peso na cena internacional. Esta política “neo-otomana” resumida pela fórmula “zero problemas com os vizinhos” sofreu alguns contratempos com as “primaveras árabes” e trouxe alguns problemas a Ancara perante os conflitos na Síria e no Iraque.

Assim que foi nomeado para suceder a Erdogan, Ahmet Davugotlu, um muçulmano intransigente, manifestou fidelidade ao presidente eleito. “Vou continuar o movimento de restauração iniciado há 12 anos (…) nenhum grão de discórdia pode ser plantado entre nós”, garantiu, na passada semana.

O novo primeiro-ministro turco deverá tomar posse formalmente na quinta-feira e formar um novo governo no dia a seguir. De acordo com a imprensa turca, a nova equipa ministerial deve manter os atuais responsáveis pela política económica para tranquilizar os mercados.