Sabia que os portugueses “são mais reservados, falam muito menos e mais baixo, são muito educados e formais” em comparação com os espanhóis “extrovertidos, charlatões, que falam alto, expressivos, informais e beijoqueiros”? Nós também não. Quem o diz é o jornal espanhol ABC que, numa tentativa de quebrar estereótipos, traça um perfil único a todos os portugueses e a todos os espanhóis. Se não viesse no cabeçalho “Espanha não é só festa. Portugal não é só fado” podíamos mesmo acreditar que este artigo estava a perpetuar os velhos lugares comuns usados para nos diferenciar dos nuestros hermanos.

Fala-se de tudo alimentação, língua, horários e educação. Nada ficou esquecido nesta análise, nem mesmo o tira-teimas que nunca tinha sido dito. “Há que acabar com os mitos. Os portugueses são o rei do bacalhau mas não comem só este peixe.” Segundo o ABC, almoçamos a partir das 12h e jantamos cedo, 20h30 ou 21h. E claro, nunca nos esquecemos do café que é a nossa “grande vantagem” e que bebemos muito, em família, com amigos e várias vezes ao dia.

Em jeito de declaração de culpa, fala-se no nosso bom ouvido. Que é como quem diz, conseguimos fazer-nos entender do outro lado da fronteira e aprender línguas mais facilmente. Os espanhóis admitem a sua incapacidade linguística e que muita confusão faz aos portugueses. “Muitos continuam a achar que dizemos Piedras Rodadas em vez de The Rollling Stones ou Juanito Caminante em vez de Johnnie Walker.”

Estas diferenças são incutidas desde o nascimento e com prescrição médica. Parece que por cá os médicos nos aconselham a manter as crianças em casa nos primeiros meses de vida. Por outro lado, em Espanha, quanto mais saírem melhor. Se por acaso cometemos a loucura de levar um bebé a sair à rua protegemo-lo tanto do frio e do calor que é difícil apanhar um resquício de ar. Também na praia se aplica o mesmo “rigor com os horários das crianças e não se descuram detalhes”. Aparentemente, não deixar os mais novos nas horas de maior calor na praia é excesso de zelo.

Encontramo-nos na pontualidade. Encontramo-nos mas com atraso, chegar a tempo e cumprir horários não parece ser apanágio dos ibéricos.

Se, por um lado, o texto começa a explicar que ao contrário do que “todos acham, temos as nossas diferenças” termina dizendo que essas diferenças tornam este canto da Europa muito equilibrado. Por um lado, com a “confiança” e visão avant garde espanhola e, por outro, com o nosso “pessimismo, inveja e queixume” tipicamente português. Mais uma vez não sou eu que o digo, são os espanhóis.

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