O Papa deu hoje início no Vaticano à reunião extraordinária do Sínodo dos Bispos e pediu que os responsáveis da Igreja trabalhem com “liberdade, criatividade e diligência” em favor das famílias, informa a agência Ecclesia.

“As assembleias sinodais não servem para discutir ideias bonitas e originais, nem para ver quem é mais inteligente… Servem para cultivar e guardar melhor a vinha do Senhor, para cooperar no seu sonho, no seu projeto de amor a respeito do seu povo”, declarou, na homilia da Missa na Basílica de São Pedro, concelebrada pelos padres sinodais.

O Papa alertou para a tentação da ‘ganância’ na sociedade e na Igreja, referindo que o “sonho de Deus” para a humanidade “embate sempre contra a hipocrisia de alguns dos seus servidores”.

“Podemos frustrar o sonho de Deus, se não nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo. O Espírito dá-nos a sabedoria, que supera a ciência, para trabalharmos generosamente com verdadeira liberdade e humilde criatividade”, acrescentou.

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Francisco precisou que nos trabalhos das próximas duas semanas a Igreja é chamada a “cuidar da família que, desde os primórdios, é parte integrante do desígnio de amor que Deus tem para a humanidade”.

“O sonho de Deus é o seu povo: Ele plantou-o e cultiva-o, com amor paciente e fiel, para se tornar um povo santo, um povo que produza muitos e bons frutos de justiça”, explicou, partindo das passagens bíblicas que são hoje lidas nas igrejas de todo o mundo.

Nesse contexto, o Papa observou que na parábola apresentada por Jesus sobre o dono da vinha e os agricultores, o projeto de Deus é destruído por pessoas que “não trabalham para o Senhor, mas só pensam nos seus interesses”.

“Jesus diz que aqueles agricultores se apoderaram da vinha; pela sua ganância e soberba, querem fazer dela aquilo que lhes apetece e, assim, tiram a Deus a possibilidade de realizar o seu sonho a respeito do povo que Ele escolheu”, advertiu.

Francisco realçou que esta observação era dirigida “aos «sábios», à classe dirigente” do seu tempo, realçando os perigos da “tentação da ganância”.

“Ganância de dinheiro e de poder: para saciar esta ganância, os maus pastores carregam sobre os ombros do povo pesos insuportáveis”, lamentou.

253 pessoas, entre cardeais, bispos – incluindo D. Manuel Clemente, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa -, religiosos, peritos, casais e representantes de outras Igrejas, vão marcar presença nos trabalhos da terceira assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos.

O Papa assinalou o início do Sínodo com uma mensagem na sua conta ‘@pontifex’, da rede social Twitter, pedindo também a oração dos católicos.

“No momento em que começamos o Sínodo sobre a Família, peçamos ao Senhor que nos indique o caminho. ?#‎prayforsynod?”, escreveu.

Oiçam os “sinais deste tempo”

“Para encontrar o que o Senhor pede à sua Igreja, devemos escutar os sinais deste tempo e perceber os odores dos homens de hoje, para nos impregnarmos das suas alegrias e das suas esperanças, das suas tristezas e angústias. Nesse momento, saberemos recomendar com credibilidade a boa notícia da família”, tinha já afirmado no sábado o pontífice argentino citado pela agência noticiosa EFE.

Além disso, o papa afirmou que a família continua a ser “uma escola sem igual na humanidade” e uma contribuição indispensável para “uma sociedade justa e solidária”.

O papa Francisco falava durante a vigília de oração organizada pela Conferência Episcopal Italiana (CEI) na praça São Pedro, na Cidade do Vaticano, que antecedeu a assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos.

Debater os desafios pastorais da família, no quadro da evangelização, e analisar a doutrina da Igreja Católica no contexto atual são algumas das linhas principais do debate na assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, que teve início hoje.

Sobre o Sínodo, o papa invocou o Espírito Santo para que conceda aos padres sinodais o “dom da escuta”, do debate e da visão.

Da escuta para poder sentir “o grito do povo”, do debate “sincero, aberto e fraterno” para afrontar com responsabilidade aqueles que se interrogam que esta “mudança de época traz consigo” e da visão para não afastar a vista de Jesus, requisito ‘sine qua non’ para afrontar dos tempos modernos.

“Com a audição e o debate sobre a família, teremos uma ocasião oportuna para renovar a igreja e a sociedade. Uma igreja reconciliada e misericordiosa, pobre e amiga dos pobres, capaz de vencer com paciência e amor as aflições que recebe tanto de dentro, como de exterior”, disse.

O papa Francisco presidiu a missa solene de inauguração do sínodo, que contou com a participação de 253 pessoas.

O sínodo acaba a 19 de outubro com a beatificação do papa Paulo VI, que, além de concluir o decisivo Concilio Vaticano II, instituiu o sínodo dos bispos.