O Governo moçambicano assinou hoje em Maputo um acordo com a Fundação Joaquim Chissano e a organização sul-africana ‘Peace Parks Foundation’ para o reforço de meios de combate à caça furtiva no Parque Nacional do Limpopo.

Ao abrigo do acordo, a fundação sul-africana criada para proteção das zonas naturais transfronteiriças vai investir 2,2 milhões de euros em equipamento e assistência no combate à caça furtiva no Parque Nacional do Limpopo e áreas adjacentes, na província de Gaza, sul de Moçambique.

Segundo a ‘Peace Parks Foundation’, o entendimento assinado segue-se a um memorando de entendimento alcançado em abril entre o Governo moçambicano e o Departamento de Assuntos Ambientais da África do Sul – que dirige o Programa de Proteção do Rinoceronte -, nos domínios da biodiversidade, conservação e gestão de áreas naturais.

A organização sul-africana, criada em 1997 pelo ex-Presidente Nelson Mandela e pelo representante local do Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF), refere que a caça furtiva é a quarta maior atividade ilegal do mundo, com um movimento anual de 15 mil milhões de euros, e está a dizimar espécies icónicas do continente africano, como elefantes, leões e leopardos, e a ameaçar as áreas protegidas que vivem do turismo.

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“Os crimes contra a vida selvagem são muitas vezes transnacionais por natureza e a existência de áreas de conservação transnacionais e acordos como o de hoje representam uma importante plataforma para conter a dizimação das nossas espécies protegidas”, comentou Werner Myburgh, diretor-geral da ‘Peace Parks Foundation’.

Este tipo de crimes, segundo Carvalho Muária, ministro moçambicano do Turismo, está a atingir não só a fauna selvagem como também o desenvolvimento sustentável das comunidades locais e “só com esforços conjuntos será combatido eficazmente”.

O acordo prevê a formação e melhoria das condições dos guardas do parque e também o fornecimento de tecnologias de telecomunicações e um sistema partilhado de rádio entre o Limpopo e o Parque Kruger, na África do Sul, que juntamente com o Parque Gonarezhou, no Zimbabué, cobrem uma área contínua de 5,5 milhões de hectares nos três países.

A cooperação entre Moçambique e a África do Sul será alargada à Fundação Joaquim Chissano, que deverá lançar programas específicos contra a caça furtiva e ainda o lançamento de um projeto de cães pisteiros para sinalizar rotas de traficantes.

Dados recentes divulgados por organizações de proteção ambiental referem que, em Moçambique, pelo menos quatro elefantes são abatidos todos os dias, “mais de 1.500 todos os anos”.

A crescente procura de presas de marfim e do chifre de rinoceronte em mercados asiáticos, como a China e o Vietname, está na origem do aumento exponencial do fenómeno da caça furtiva em Moçambique, onde, na década de 1970 existiam cerca de 50 mil elefantes, população entretanto reduzida para menos de metade.

Já extinto pelo menos na região sul de Moçambique, o rinoceronte tem sido alvo de ataques de caçadores furtivos moçambicanos no Parque Nacional Kruger, da África do Sul, mas pela relação contígua desta reserva com a do Limpopo, de Moçambique, a preservação da espécie é também uma preocupação das autoridades locais.