O coordenador bloquista João Semedo acusa Pedro Filipe Soares de propor um BE “a olhar para si próprio” e “sem saída política” e afirma que “quem dividiu para impor uma visão não está em condições de unir”. Em entrevista à agência Lusa, João Semedo, que encabeça a “Moção unitária em construção” e se recandidata, com Catarina Martins, à liderança do BE, critica a decisão de Pedro Filipe Soares e Luís Fazenda de apresentarem uma moção que divide fundadores e algumas das principais figuras do partido, embora não antecipe cisões após a IX Convenção Nacional, que se realiza este fim de semana em Lisboa.

“Quem procurou, para dirigir o BE, dividir o BE, julgo eu, não está em condições de o dirigir para o unir. [A moção “Bloco plural”] é uma candidatura e uma moção que nascem de uma recusa de uma moção conjunta, de uma moção com todos, quem dividiu todos para impor uma visão julgo eu que mostrou que não está em condições de unir o BE quando, eventualmente, tiver a direção do BE”, considera João Semedo.

O atual coordenador da Comissão Política do BE revela ter reunido com a tendência Esquerda Alternativa, que representa grande parte estrutura ligada à UDP, para que houvesse uma moção única. “Não me surpreendeu a apresentação a esta Convenção de qualquer uma das moções que se apresentaram ou de qualquer lista que venha a ser candidata à Mesa Nacional, presumi que iria ser assim. Essa necessidade de clarificação veio sendo percebida dentro do BE (…) Agora, se me pergunta se ela era inevitável fazer-se e se podíamos ter encontrado outra solução para viver com esta diversidade eu acho que sim”, afirma.

João Semedo defende que “a diversidade do BE e as diferenças que existem e devem continuar a existir devem ser fator de inclusão e não de exclusão”: “É isso é que é preciso tornar claro nesta Convenção”. “O BE vive um momento de grande vivacidade e efervescência, um momento muito rico da sua vida, não o vejo com preocupação”, disse, defendendo que haja uma clarificação que terá “obviamente consequências políticas para o BE”. “Não devemos iludir que essas diferenças existem”, sustenta.

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Semedo acusa a moção encabeçada por Pedro Filipe Soares de pretender uma linha de isolamento e de autossuficiência do BE em relação a outras forças políticas de esquerda. “O BE não pode construir muros à sua volta, nunca os construiu, pode dizer-se até que se construiu derrubando muitos muros, nós não queremos um BE rodeado de muros à sua volta”, declara.

Para João Semedo, “não basta um BE que se mobilize na luta social, um BE que pretenda acumular força social, porque não há luta social sem saída política”, defendendo que saída política pretendida por Pedro Filipe Soares e Luís Fazenda “é a de um BE a olhar para si próprio, um BE autocentrado”. Semedo advoga que “o centro tático do BE deve ser a dívida e o combate à austeridade” e acusa Fazenda e Soares de proporem apenas uma solução “recuada e pouco clarificadora”, centrada na defesa da Constituição.

O coordenador bloquista defende também a manutenção de uma liderança partilhada, embora admita que este pode ser “concretizado de maneiras diferentes”. “Não é obrigatória uma simetria entre as funções da Catarina Martins e do João Semedo, podemos fazer de forma diferente e é isso que faremos se formos eleitos para a coordenação do BE”, diz. Sobre o futuro pós-Convenção, diz que terá de repensar a sua atividade “em função dos resultados”.

“Sinceramente não me preocupo comigo próprio, preocupo-me com o BE, sou coordenador do BE e quero que o BE saia o melhor possível desta Convenção. Terei de refletir sobre a minha atividade no BE em função dos resultados, mas para deixar de ser deputado como sou hoje não vejo nenhuma razão, nem vejo nenhuma razão para deixar de estar na Mesa Nacional”, afirma. A IX Convenção Nacional do BE realiza-se este fim de semana no Pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, existindo pela primeira vez desde a fundação do partido uma disputa da liderança.