Os deputados do Partido Socialista querem ouvir o presidente da Eurofin, sociedade financeira suíça, na comissão parlamentar de inquérito aos atos de gestão do Banco Espírito Santo (BES) e Grupo Espírito Santo (GES). O requerimento a pedir a audição de Alexandre Cadosh já seguiu para o presidente da comissão, Fernando Negrão.

A Eurofin Securities, uma empresa de intermediação financeira que fez muitos negócios com o BES e o GES, é uma peça central de uma das operações mais complexas e ruinosas para o banco, que gerou avultados prejuízos nas semanas que antecederam a resolução. Em causa está a recompra de obrigações próprias por parte do BES que tinham sido colocadas pela Eurofin junto de clientes não residentes do banco.

Estas obrigações emitidas a cupão zero e com uma maturidade de 30/40 anos foram colocadas pelo banco junto da Eurofin com uma yield (rendibilidade) elevada de 7%, o que pressupõe um preço baixo. Os títulos foram depois recolocados nas carteiras dos clientes com uma yield mais baixa, e um preço mais alto, substituindo dívida das empresas do Grupo Espírito Santo (GES). Esta diferença nos preços concretizada num prazo muito curto e gerou mais-valias que terão beneficiado as empresas do Grupo Espírito Santo e prejudicado o BES em cerca de 780 milhões de euros.

Mas foi a recompra antecipada destas obrigações realizada entre junho e julho de 2014, que se materializou avultados prejuízos para o BES e cujo reconhecimento no balanço, por recomendação doa auditores, contribuiu de forma decisiva para destruir a almofada de capital do banco. O reconhecimento destas imparidades nas contas semestrais foi questionado esta terça-feira por Ricardo Salgado. O ex-presidente do BES lembrou que houve administradores (do Crédit Agricole) a votar contra.

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As suspeitas em relação a estas operações, que envolveram ainda sociedades veículo em offshores e o envolvimento do Crédit Suisse na montagem, têm sido noticiadas em Portugal, mas também pelo Wall Street Journal. Nas entrevistas dadas por Alexandre Cadosh, a última das quais publicada esta semana no jornal Público, o presidente da Eurofin tem desvalorizado a ligação próxima ao BES que descreve como um de vários clientes, e salientado que a sociedade atuou como intermediária, não tendo conhecimento de todo o circuito da operação.

A vez do génio financeiro do BES

As operações que envolvem obrigações do BES deverão ser, também, um dos pontos fortes da audição desta quinta-feira ao antigo administrador financeiro do banco que está agendada para as 17h00, na Assembleia da República. Amílcar Morais Pires, apontado como braço direito de Salgado, que o propôs como presidente executivo, tem sido associado aos esquemas financeiros mais sofisticados que terão permitido ao BES e seus clientes continuar a financiar o GES, à revelia das instruções do Banco de Portugal.

Algumas transações, como as que envolveram a Eurofin, são tão complexas que até os técnicos do Banco de Portugal que as estão a investigar sentiram dificuldades em as compreender. O antigo CFO (chief finance officer) do BES tem sido igualmente indicado como o gestor que contribuiu para o sucesso do último aumento de capital do banco e de toda a estratégia de financiamento do banco no período da intervenção da troika.