O destacamento da Força Aérea Portuguesa (FAP) em Porto Santo tem, desde 23 de dezembro, um piloto-comandante. Isto vai permitir que o helicóptero de busca e salvamento, um Merlin EH101, volte a estar operacional depois de oito meses parado devido à falta de um piloto com essas competências.

A situação foi regularizada depois de “dois militares da Esquadra 751” – sedeada na base aérea do Montijo – terem obtido “qualificação em piloto-comandante (…), o que permitiu à Força Aérea proceder ao reajustamento das tripulações em serviço de alerta”, explicou o porta-voz da FAP, coronel Rui Roque. Os helicópteros em estado de alerta para missões de busca e salvamento partem de três locais do país: Montijo, Açores e Madeira.

A ausência de um piloto-comandante em Porto Santo teve consequências trágicas a 21 de junho de 2014: um homem, que tinha sido colhido por um touro na ilha de São Jorge, acabou por não resistir aos ferimentos infligidos e à demora na prestação de serviços médicos. Na altura, o helicóptero habitualmente usado nas operações de busca, salvamento e evacuação de doentes açorianos tinha sido deslocado para uma operação de salvamento de um pescador que tinha naufragado ao largo da Madeira. Isto, porque o helicóptero estacionado em Porto Santo não podia descolar.

O ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, ouvido no Parlamento, descartou, então, quaisquer responsabilidades no caso, lembrando que a evacuação médica era uma “competência regional e para qual existe um protocolo de colaboração”.

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Ainda assim, Aguiar-Branco admitiu na comissão parlamentar de Defesa que existia um problema de saída de pilotos da Força Aérea Portuguesa, face à “competitividade com a aviação civil”, mais precisamente no que respeita ao nível salarial dos pilotos que integram os quadros das companhias aéreas comerciais. Esta competição era “prejudicial à aviação militar”, lamentava Aguiar-Branco.

Esta conclusão é suportada pelos dados: desde 2000, já tinham saído das fileiras da FAP 275 pilotos, com graves prejuízos para as regiões autónomas. Como lembrou o governante, um copiloto da TAP “ganha mais” que o chefe de Estado Maior da Força Aérea e que “dificilmente a Força Aérea poderá voltar a concorrer com os ordenados praticados numa companhia aérea civil”.

Na mesma ocasião, o ministro da Defesa chegou mesmo a afirmar que “a Força Aérea Portuguesa serve de barriga de aluguer de pilotos para depois a aviação civil serem beneficiários dessa matéria”.

Face à escassez de recursos, Aguiar-Branco prometeu o reforço do orçamento da Força Aérea em cerca de um milhão de euros para fazer uma “aceleração” da formação de pilotos, o que iria permitir, também, um aumento do número de horas de voo.