António Guterres continua a ser o candidato presidencial preferido da maioria dos socialistas, e nem as notícias dos últimos dias conseguiram abalar aquele trunfo do PS para Belém. A notícia da provável prorrogação do mandato como Alto-Comissário da ONU para os Refugiados até dezembro de 2015 (em vez de junho) começou por ameaçar fechar a porta de entrada de Guterres em Portugal, mas não demorou muito até o próprio socialista vir explicar que uma coisa não impede a outra. Assim sendo, o PS está descansado.

“Não vejo ninguém preocupado com as presidenciais”, admitiu ao Observador o socialista Sérgio Sousa Pinto, que se recusou a entrar em detalhes sobre a possível incompatibilidade temporal entre o fim do mandato na ONU, em Genebra, que pode vir a terminar só em dezembro, e a campanha eleitoral em solo nacional, que em dezembro já tem de estar em marcha.

A verdade é que, depois de António Guterres ter mantido a porta de Belém bem aberta, ao dizer ao Expresso que era “livre de decidir a sua vida”, os socialistas dizem que a indisponibilidade de Guterres é um “não-assunto”, já que não há razões para descartar essa hipótese. “Guterres deixou claro que não há nenhuma conexão entre o prolongamento do mandato nas Nações Unidas até ao final do ano e o possível avanço de uma candidatura à Presidência da República”, disse ao Observador o dirigente Manuel Pizarro que, tal como Sousa Pinto, é membro do secretariado. Logo, a eventual ausência do seu candidato preferido não está, para já, na lista de preocupações do PS.

A questão, no entanto, não cabe ao PS nem está nas mãos do partido, como sublinhou Pizarro ao Observador. “António Guterres será um grande candidato se quiser ser candidato”, disse, vincando a ideia de que uma candidatura presidencial não é uma candidatura partidária e que, por isso, a iniciativa tem de partir apenas do cidadão, neste caso de Guterres – e não do partido. Para Sérgio Sousa Pinto, é natural que Guterres esteja a ser falado para a corrida, por ser “um forte ativo do PS”, mas tudo depende da vontade dele: “Por isso, tudo o demais é especulação”.

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Primeiro São Bento, depois Belém

De todo o modo, falta ainda um ano até às presidenciais de 2016, e até lá ainda há muito tempo para os candidatos decidirem “a sua vida”. Questionado sobre os timings ideais para um anúncio de Guterres, caso esse anúncio venha a acontecer, Manuel Pizarro arrisca dizer que “até ao fim do verão” ainda é tempo. Mas até outubro, pelo menos, as presidenciais não vão estar no centro das preocupações dos socialistas. “As atenções estão concentradas nas legislativas”, afirmou Manuel Pizarro, garantindo que “até lá” o PS vai “dedicar-se inteiramente em apresentar-se como alternativa” e não vai perder o sono com Belém.

Apesar de Guterres ser o candidato preferido “para a maioria do partido”, segundo defendeu Pizarro, o PS não parece estar refém do avanço do ex-primeiro-ministro. Na eventualidade de este optar por manter-se afastado, os socialistas estão seguros de que há outros nomes no PS capazes de disputar o cargo – “e de serem candidatos vencedores”. Quando a polémica dos (hipotéticos) avanços e recuos de Guterres estoirou, reforçada na sexta-feira depois de o semanário Sol ter noticiado a prorrogação do mandato na ONU até dezembro, vários foram os socialistas que começaram a adotar um discurso de desdramatização, dizendo haver vários nomes fortes à esquerda para suceder a Cavaco em Belém, tais como Jaime Gama, defendido por exemplo por Miranda Calha ou Sérgio Sousa Pinto, António Vitorino ou António Sampaio da Nóvoa, ex-reitor da Universidade de Lisboa.

Entre os próximos de António Costa, reina a convicção que Guterres não deixará o PS descalço, ou seja, avisará o secretário-geral da sua intenção em candidatar-se (ou não) a Belém a tempo – se decidir não avançar deverá comunicá-lo a tempo de poder desenhar-se à esquerda uma outra solução.

“Quem tem razões para estar preocupado é a direita, não nós”, referiu ao Observador fonte próxima de Costa. “Onde é que Guterres disse que não era candidato? Não disse”, acrescentou referindo-se à declaração deste ao Expresso.

Esta segunda-feira, o ex-primeiro-ministro e ex-líder do PSD, Pedro Santana Lopes, declarou ao DN ser candidato a candidato presidencial, desafiando Guterres a clarificar uma posição o mais cedo possível e instando Marcelo Rebelo de Sousa também a definir-se.

Em outubro, há eleições legislativas, mas Santana quer que os candidatos presidenciais se apresentem muito antes desse ato eleitoral.