Li Jianguo, diretor-geral de uma empresa estatal de água e eletricidade de Rucheng, na província de Hunan, sul da China, nunca terá imaginado que o seu cinto acabasse por ser notícia. Não era um cinto qualquer: nas fotografias de Li Jianguo colocadas no final do ano passado nas redes sociais, a marca daquele acessório salta à vista – Louis Vuitton.

A dúvida instalou-se logo: Como é que um gestor público do interior da China pode dar-se àquele luxo? Em Pequim, cidade cujo nível de vida é muito superior ao de Rucheng, o salário médio ronda os 5.000 yuan (cerca de 700 euros) por mês – não chega para comprar um cinto Louis Vuitton.

Alertada pelos comentários na Internet, a Comissão Central de Disciplina do Partido Comunista Chinês (PCC) decidiu “investigar judicialmente” Li Jianguo por “suspeita de violação da lei e dos regulamentos do partido”, anunciou a agência noticiosa oficial chinesa no dia 27 de dezembro passado.

Não é o primeiro caso do género, nem será o último. Cerca de 102.000 funcionários chineses foram punidos nos últimos dois anos por violarem a “política de frugalidade” imposta pela nova liderança do PCC e, em muitos casos, as primeiras pistas apareceram nas redes sociais.

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Mais de duzentos milhões de chineses usam o Sina Weibo, o Twitter chinês. Em 2013, o então diretor do gabinete de Segurança Laboral da província de Shaanxi, Yang Dacai, foi exposto na Internet usando relógios Rolex, Bulgari e outras marcas muito caras. Mais chocante ainda, Yang Dacai, usava um desses relógios quando se deslocou ao local de um acidente com um autocarro que causou 36 mortos. Yang Dacai acabou por ser preso e condenado a 14 anos de prisão por corrupção.

Provavelmente, os relógios de Yang Dacai e o cinto de Li Jianguo seriam um presente, dado em troca de algum favor, mas isso, que até há pouco tempo parecia prática corrente, já não é apropriado.

A “política de frugalidade”, lançada em dezembro de 2012, condena explicitamente os quadros dirigentes que dão ou recebem presentes. Organizar extravagantes receções, casamentos ou funerais com dinheiros públicos também passou a ser punido.

Durante as últimas três décadas, a economia chinesa cresceu em média quase 10% ao ano, num “milagre” sem precedentes na História moderna. A corrupção, no entanto, terá crescido ainda mais, ameaçando a sobrevivência do regime. “O combate à corrupção é uma luta de vida ou de morte. Se não conseguiremos controlar essa questão, isso poderá ser fatal para o partido e até causar o colapso do partido e a queda do Estado”, concluiu o XVIII Congresso do PCC, em novembro de 2012.

O atual Presidente, Xi Jinping, assumiu então a chefia do PCC e, sob a sua direção, a China lançou a maior campanha anticorrupção de que há memória. Dezenas de quadros dirigentes, com a categoria de vice-ministro ou superior, incluindo o antigo chefe da Segurança do país Zhou Yongkang e um ex-presidente da Comissão Militar Central, já foram presos.

No “Índex de Transparência” de 2014, que avalia o nível da corrupção em 175 países, a China figura em 100.º lugar.