E se dar abraços, “fazer conchinha” e aconchegar outra pessoa fosse um negócio? Pois bem, esqueçamos o condicional, isto é realidade. A história chega-nos do Wall Street Journal (WSJ) e começa com Kimberly Kilbride, uma “cuddler” profissional, que é como quem diz “aquele que abraça”.

Kilbride, com 33 anos e três filhos, cobra quase 70 euros à hora para abraçar outras pessoas. Por noite pode ultrapassar os 330 euros. É a sua profissão. Esta norte-americana recebe os clientes no seu quarto, em Nova Iorque. Este tipo de negócio está, assegura o WSJ, a registar um verdadeiro boom (16 estados norte-americanos já aderiram a esta tendência). “Estou convertida”, admitiu ao WSJ Melissa Duclos-Yourdon, uma escritora e editora residente em Washington. Quando requisitou o serviço esperava que dele resultassem ideias para escrever, mas acabou “transformada”, admitiu.

Mas há uma outra via para garantir esta prática, e bem mais barata (e em Portugal, já agora). Numa era em que andamos com a internet no bolso, não tardou para serem criadas aplicações com o fim de abraçar desconhecidos. A sério. A Cuddlr, por exemplo, conta o WSJ, foi lançada em setembro e regista já 240 mil downloads. São muitos os que recorrem a este serviço diariamente — entre sete mil e dez mil.

O Observador decidiu descarregar esta aplicação e aventurar-se neste mundo. “Cuddlr permite que encontres pessoas por perto para abraçar”, assim começa a mini-epopeia nesta aplicação. “Quando vês alguém que te parece bem, envia-lhe um ‘cuddle request’. Quando recebes um pedido, tens 60 minutos para começar a conversa. (…) Desde que mantenhas a conversação, o teu pedido para abraços continua ativo. Se parares de conversar por uma hora, expirará.”

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Tudo certo, estamos conectados. Aqui vamos nós: quem anda por perto a piscar o olho a um abraço? Um tal de Adam, a menos de um minuto a pé. Seguem-se Gavin, Rui, Henrique, Le e Luís. Tudo homens. Será que este género é mais carente quanto a abraços? Ou a Luz Soriano, aqui no Bairro Alto, está carente de mulheres? Bom, adiante. A senhora mais perto do Observador é uma tal de Magalie, que está a 548 minutos de distância (de bicicleta).

O perfil pode mudar-se, mas pouco. Pode alterar-se o género, quem querem abraçar os utilizadores, deixar umas palavras sobre cuddling e definir um raio de busca, que vai de um quilómetro a 500. Ao estilo “cão que ladra, mas não morde”, não foi enviado nenhum pedido para abraços, mas ficou a ideia.

Voltemos à história do WSJ. O jornal norte-americano diz ainda que a indústria dos abraços começou há cinco anos nos Estados Unidos. O pioneiro foi Travis Sigley, um antigo estudante de psicologia que chegou a aventurar-se no striptease. Sigley criou a Cuddle Therapy, em San Francisco, para colocar um ponto final na frustração que sentia quando terapeuta e pacientes estavam proibidos de ter contacto físico. “Uma vez tive uma senhora que queria passar a sessão inteira a fazer cócegas”, contou este profissional dos abraços, de 27 anos.

Samanta Hess, de 30 anos, abriu a Cuddle Up To Me em novembro, em Portland. O negócio está a crescer e a proprietária até já contratou três pessoas, que oferecem 50 maneiras de abraçar, aconchegar ou acarinhar (em inglês é mais fácil: cuddling). Hess contou ao WSJ que recebe inúmeros emails com clientes interessados e… com propostas de casamento. Quem está a precisar de um abraço?