Sátira sexual, paródias com figuras religiosas e agradecimentos. O semanário Charlie Hebdo, atacado há uma semana por dois extremistas islâmicos, já está nas bancas francesas. Tem 16 páginas, em vez das habituais oito. E os jornalistas que fizeram a edição, conseguem, mesmo, fazer humor com a sua sobrevivência, com a morte de dez colegas e com as próprias vendas que esta edição especial vai ter.

Na terça-feira um jornalista da BBC já tinha libertado algumas informações sobre a edição via Twitter. Fergal Keane revelou que a edição é preenchida em grande parte por “sátira sexual” e por paródias de figuras e organizações religiosas.

Além da caricatura de uma mulher que revela o corpo nu ao levantar a burca, há também conteúdo sexual relacionado com o Papa, e sátira ao Estado Islâmico, conta o jornalista, que revela ainda que no editorial desta edição é feito um ataque às “insinuações pseudointelectuais” de que o Charlie Hebdo é islamofóbico. Surge ainda um agradecimento a toda a gente que tem mostrado solidariedade para com os 10 jornalistas do Charlie Hebdo que acabaram mortos, na sequência de um ataque na semana passada.

Fergal Keane revela ainda uma das piadas do semanário: “O que nos fez rir mais esta semana foi os sinos de Notre Dame tocarem em nossa honra”.

O Le Figaro revela que no interior da publicação há várias homenagens às vítimas do atentados sob a forma de caricaturas. Há ainda um desenho dos irmãos Kouachi no céu. Os extremistas islâmicos perguntam: “Onde estão as 70 virgens?”. E respondem-lhes: “estão com a equipa do Charlie Hebdo”.

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O médico Patrick Pelloux assina uma crónica cujo título, traduzido, diz: “Eu, tu, ele, nós, vós eles somos Charlie”. E deixa algumas palavras ao seu amigo Charb: “O jornal teve que fazer um esforço incrível esta semana para ter tamanha cobertura. O Charb vai ficar contente, porque as vendas vão aumentar”.

O “The Independent” diz que esta é mais uma edição de “péssimo gosto”. Mais uma, segundo este jornal britânico, que classifica a revista como de “antirreligiosa” e dá como exemplo o cartoon de uma freira a masturbar-se ou do Papa vestido como o “patrão” da Máfia.

A revista traz ainda desenhos assinados pelos cartoonistas mortos – Wolinski, Cabu Tignous e Charb.

Já há edições à venda no e-bay

A primeira edição do Charlie Hebdo após o ataque da semana passada vai ser distribuída em mais de 20 países e será traduzida, excecionalmente, em cinco línguas: inglês, espanhol e árabe na versão digital, e em italiano e turco na versão em papel, precisou o chefe de redação, Gérard Biard, durante a conferência de imprensa em Paris, na redação do Libération. A edição terá uma tiragem de cinco milhões de exemplares em vez dos habituais 60 mil.

Depois da corrida às bancas para comprar um exemplar, há já quem esteja a leiloar  exemplares no ebay. O Observador encontrou um que já passa os 400 euros. Se quiser licitar, é aqui.

 N.R.: O Observador chegou a publicar aqui um link para a edição, que entretanto percebemos não ser autorizado – o que nos levou a removê-lo.