Xanana Gusmão justificou a escolha de Rui Araújo como seu sucessor no cargo de primeiro-ministro timorense pela sua integridade, “conhecimento profundo do sistema financeiro” e “experiência integral” do modelo de capacitação dos quadros técnicos.

A justificação é dada numa carta do chefe do Governo aos três partidos que integram a coligação pós-eleitoral que apoia o Governo – Congresso Nacional da Resistência Timorense (CNRT), Partido Democrático (PD) e Frente Mudança (FM) – e a que a agência Lusa teve acesso.

“Reitero que a minha escolha recai sobre o sr Rui Araújo para o cargo de primeiro-ministro, no VI Governo Constitucional”, refere na carta.

“O conhecimento profundo, por parte dele, do sistema financeiro e uma experiência integral, que não pode ser menosprezada, do modelo aplicado de capacitação dos quadros técnicos, levado a cabo durante anos no Ministério onde ele assessorava, e a sua integridade, como pessoa, foram os três aspetos relevantes que estiveram na base da proposta do seu nome”, escreve Xanana Gusmão.

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Xanana Gusmão pede também desculpa pela honestidade ao reiterar não ter encontrado no sei da coligação “uma pessoa com a preparação teórica, técnica e profissional que possa vir a garantir, como chefe de Governo, a estabilidade governativa tão necessária para esta transição”.

Na carta, datada de 4 de fevereiro, véspera da apresentação da sua demissão ao Presidente da República, Xanana Gusmão relembra que, já em dezembro, na sua última mensagem sobre este tema, pedira desculpa aos partidos da coligação “em jeito de apelo para considerar os interesses do Estado acima dos interesses dos partidos”.

Xanana Gusmão detalha, em particular, a necessidade do chefe de Governo ter um amplo conhecimento da pasta de finanças, tendo que liderar o Governo, pelo menos duas vezes por ano, quando “enfrenta o Parlamento Nacional sobre o orçamento de Estado”.

O líder timorense reconhece a “preocupação” que a escolha de Rui Araújo – membro do comité central da Fretilin, na oposição – sugira que a coligação possa ser vista como incapaz e também o argumento sobre o “governo ser o resultado das eleições”.

Explicando que ponderou esses e outros argumentos “durante um ano” explica que o “pensamento orientador era garantir que o programa do V Governo continuaria, com maior eficiência, para dar resposta às exigências da construção do Estado” e rejeitou mais reuniões de forma a não perder tempo “num ano crucial para a nação”.

No texto insiste que a sua saía do cargo é “irrevogável” e que a sua decisão “não é apenas uma questão puramente pessoal”, mas também “pelas implicações” para o futuro que a “decisão pode incutir, em termos de continuidade, de certeza, de confiança e de garantia”.

“A minha decisão de resignação como chefe do V Governo é irrevogável. Sobre esta questão, quero taxativamente dizer que ‘não há mas nem meio mas'”, escreve.

O líder timorense reconhece ter-lhe sido apresentada uma “outra opção para primeiro-ministro, a de escolher uma pessoa de entre o bloco de coligação”, opção que rejeita.

“A reestruturação não terá sentido se é apenas um mero exercício de tirar pessoas, para reduzir o peso financeiro e transferir pessoas para dar a aparência de legitimidade eleitoral”,

Xana Gusmão lembrou ainda que abordou, pela primeira a sua saída em 2013.

O compromisso que eu tomei antes do final de 2013, no Parlamento Nacional, mantém-se até não tiver provado que sei honrar a minha palavra”, escreve.