Um verdadeiro barril de pólvora prestes a explodir. É este o ambiente que se vive em Bruxelas, numa altura em que as sucessivas reuniões entre os ministros das Finanças europeus falharam o objetivo principal: encontrar uma solução de compromisso entre os gregos e os restantes parceiros. E há quem aponte Yanis Varoufakis como o principal responsável pelo colapso das negociações: demasiado volátil, demasiado radical e demasiado diferente, o ministro das Finanças grego está provocar um “choque cultural” no seio do Eurogrupo, não estabelece pontes e, assim, está a contribuir para o braço-de-ferro que até ao momento se mantém por quebrar.

O estilo e a posição radical e às vezes professoral de Yanis Varoufakis estão a provocar a rutura, garantem fontes oficiais que estiveram nas reuniões em Bruxelas, citadas pela Bloomberg. “São 18 ministros das finanças sentados com um economista-académico radical e funky, que nunca tinha estado num Governo antes”.

Yanis Varoufakis, o “marxista errático” como se descreveu no Festival Subversivo de Zagreb, tem transportado o discurso contra a “repugnante crise europeia” não apenas para o interior das reuniões ministeriais, mas para todas as ocasiões mediáticas, o que lhe tem valido duras críticas, mesmo entre os seus eventuais apoiantes.

Puxão de orelhas de Mario Draghi

Um deles foi Mario Draghi. Depois de Varoufakis ter dito em diversas ocasiões que a Grécia estava “insolvente” e tinha atingido a “bancarrota”, o presidente do Banco Central Europeu avisou-o que esse discurso iria acelerar a fuga de depósitos da Grécia e pediu-lhe para ser mais cuidadoso. “Uma comunicação descuidada não é boa para o sistema financeiro”, terá alertado Draghi, segundo uma fonte que esteve presente nas reuniões, citada pela Bloomberg.

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Na reunião da semana passada em Bruxelas, Pier Carlo Padoan, o ministro das Finanças italiano, terá mesmo implorado a Varoufakis que moderasse a retórica, relatou o Wall Street Journal. “Este não é um exercício sobre o ‘dilema do prisioneiro'”, sublinhou Padoan, referindo-se a um problema da teoria dos jogos, que explica como, numa situação em que dois jogadores procuram apenas obter vantagem sobre o adversário em vez de cooperaram entre si, o resultado acaba por ser pior para ambos.

Aliás, a teoria dos jogos é uma das áreas de estudo de Varoufakis, que a ensinou nas suas aulas de Economia em universidades da Austrália, Estados Unidos e Grécia. E até isso parece separá-lo dos outros ministros das Finanças europeus: esta é a primeira vez que Varoufakis integra um Governo, ao contrário dos restantes que já ocuparam cargos em anteriores Executivos e, por isso, têm experiência de negociações europeias.

A diferença entre Varoufakis e os restantes ministros das Finanças europeus é uma evidência até para o próprio. “Estou a ser tratado como uma ave rara porque falo de macroeconomia. É surpreendente como um discussão quase-sofisticada sobre economia é quase considerada como más maneiras”, revelou o ministro grego numa entrevista.

A própria forma de vestir de Varoufakis é vista com desconfiança aos olhos dos tradicionalmente engravatados e formais representantes europeus. Por muito que o ministro das Finanças grego garanta que as diferenças entre ele e os restantes parceiros não são uma questão de estilo, mas sim de ideologia, a forma como Varoufakis rapidamente se transformou numa estrela mediática está a acentuar a divergência no seio do Eurogrupo.

20 minutos atrasado, e com uma televisão atrás

Um episódio que ilustra bem o desconforto existente foi a forma como entrou na reunião do Eurogrupo de segunda-feira passada. O grego chegou com 20 minutos de atraso, para mais seguido por uma câmara de televisão e entrou na sala com o jornalista atrás numa altura em que discursava Mario Draghi. Segundo fontes oficiais, a reação do ministro das Finanças holandês, que lidera as reuniões do Eurogrupo, foi dura: Jeroen Dijsselbloem interrompeu Draghi e exigiu que o repórter abandonasse imediatamente a sala.

E se a entrada de Varoufakis não ajudou a acalmar os ânimos, o discurso que proferiu a seguir elevou a tensão numa altura em que as negociações já estavam difíceis. De acordo com fontes próximas dos ministros Finanças europeus, sempre citadas pelo Wall Street Journal, o grego não apresentou qualquer proposta concreta e limitou-se a repetir algumas ideias vagas que tinha defendido em discursos anteriores.

A atitude do braço direito de Aléxis Tsipras irritou os outros parceiros, já frustrados com o decorrer das negociações. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble – desde o início, um dos maiores críticos do Governo Syriza – atacou publicamente a posição grega: “Nenhum dos meus colegas percebeu até agora o que a Grécia quer. Nem sequer é claro se a própria Grécia sabe”.

Fugas de informação a meio da reunião

A machadada final num mínimo clima de confiança e cooperação terá acontecido na mesma reunião de segunda-feira do Eurogrupo. Antes dela começar, o ministro das Finanças holandês entregou a Varoufakis um rascunho do comunicado que deveria ser discutido para ser divulgado no final da reunião. No documento, podia ler-se que a Grécia iria aceitar a extensão do programa de assistência financeira e cumprir um conjunto de medidas já acordado.

Descontente com as cláusulas do “contrato”, Varoufakis violou todas as regras de uma negociação. Assim, quando a reunião ainda estava a decorrer e a maioria dos ministros nem sequer sabia o que constava no comunicado, já vários jornalistas começaram a escrever no Twitter que as negociações tinham falhado, a revelar partes do comunicado e a dizer que os gregos rejeitavam as condições do acordo. O sigilo das conversações fora quebrado.

A fonte dessa informação? O próprio Governo de Tsipras. Uma atitude que precipitou o fim das negociações, com vários ministros furiosos com o comportamento de Varoufakis. Os próximos tempos serão decisivos para o futuro da Grécia, mas tudo aponta que a distância entre a “ave rara” do Eurogrupo e os parceiros europeus seja, neste momento, aparentemente insuperável.