As pessoas com problemas de saúde mental são ajudadas tarde e, na grande maioria das vezes, mal. Esta é a síntese dos trabalhos de análise da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) à forma como os vários estados-membros têm lidado com este problema de saúde, que tem um elevado impacto na vida dos doentes, dos empregadores e da economia em geral.

“Um dos maiores problemas em todos os países analisados ​​é o descompasso entre as necessidades das pessoas que sofrem de problemas de saúde mental e os serviços que são prestados”, lê-se no relatório “Fit Mind, Fit Job:
From Evidence to Practice in Mental Health and Work”, apresentado esta quarta-feira. É que, explicam os autores, muitos desses doentes precisam de apoio tanto ao nível de cuidados de saúde como do próprio emprego, até porque se a doença cria uma barreira à produtividade, a verdade é que o trabalho pode ser um elemento importante na recuperação. E “geralmente apenas recebem um ou outro, e às vezes nenhum dos dois”.

Como tal, avança a OCDE, são necessárias mudanças na política e na forma de encarar estas doenças. A resposta a estes doentes tem de ser necessariamente mais integrada e menos isolada. E a ajuda não pode chegar apenas das autoridades de saúde competentes, mas sim de toda a gente que rodeia o doente pois é quem se apercebe melhor do eventual problema.

Desde logo os professores. Diz a Organização que “mais de metade de todas as doenças mentais têm o seu início na infância e adolescência”. Como tal, “os sistemas de ensino têm, assim, um papel fundamental a desempenhar para garantir os bons resultados escolares e o sucesso na transição para o mercado de trabalho destas crianças com problemas de saúde mental”. Mas para isso seria necessário que professores, bem como outros profissionais como os médicos de clínica geral e familiar, tivessem por exemplo na sua formação um módulo sobre como detetar e lidar com doenças do foro mental, aconselha a OCDE. Na Áustria e no Reino Unido esta questão já está a ser discutida e outros como Austrália e Dinamarca já investiram significativamente em cursos de formação em saúde mental para os médicos de clínica geral.

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Em resumo, a OCDE aconselha os estados-membros a intervirem precocemente junto destes doentes. Logo na escola, ou quando o problema se manifesta na idade adulta, antes que eles tenham abandonado o trabalho. Depois da identificação do problema e dos doentes, as políticas de saúde, emprego e educação devem trabalhar de forma articulada para obterem melhores resultados e “o progresso não ocorrerá, se a questão for deixada unicamente para profissionais de saúde mental especializados e instituições”. É preciso que todos os outros principais intervenientes presentes na vida do doente intervenham. Aos governos cabe ainda um papel de monitorização dos cuidados e de introdução de penalizações para quem não cumpre com os regulamentos.

Só para ter noção do impacto destas doenças, nos países da OCDE, os problemas de saúde mental são responsáveis por entre um terço e metade de todas as doenças a longo prazo e deficiência entre a população em idade ativa. Cerca de 20% da população em idade ativa sofre de uma doença mental a qualquer momento e uma em cada duas pessoas vai sofrer um período de má saúde mental durante a vida. O mais comum é as pessoas desenvolverem doenças mentais leves a moderadas como transtornos de humor e ansiedade. O insucesso escolar nestas crianças e jovens é mais certo e a taxa de desemprego destes doentes é duas vezes maior do que a de pessoas com mente sã. Eles são também duas vezes mais propensos a viver em famílias pobres.

De acordo com o relatório divulgado esta quarta-feira pela OCDE, em 2010, os custos das doenças mentais para a economia portuguesa rondavam os 3,4% do PIB, ficando Portugal, naquele ano, abaixo da média da Europa (3,6%). Ainda no mesmo ano, mais de 65% dos trabalhadores com baixa produtividade apresentavam problemas mentais, quatro vezes mais do que a percentagem de trabalhadores com baixa produtividade mas sem nenhuma doença mental associada. E em 2012, Portugal era dos países da OCDE com maior consumo de antidepressivos. Só superado por Austrália e Islândia.