É sobretudo conhecida por ser a religião de algumas estrelas de Hollywood, como Tom Cruise e John Travolta. Mas são os milhões que gasta em advogados e a quantidade de processos que tem em tribunal que mais dão nome à igreja da Cientologia. Crença religiosa e espiritual ou uma seita associada a maus tratos e corrupção, há muito pouca unanimidade em torno daquela que é de facto considerada uma religião, isenta de impostos, em países como EUA, Portugal ou Austrália. O tema é controverso e é agora retratado pela primeira vez em documentário, pela lente do realizador Alex Gibney. A estreia está marcada para dia 13 de março, no cinema, e 29 de março, no canal de televisão norte-americano HBO.

“Tornar claro: a Cientologia, Hollywood e a prisão da crença” (Going Clear: Scientology, Hollywood, and the Prison of Belief) é o nome do filme que, baseado num livro de investigação com o mesmo nome, se propõe a desmontar aquilo que é a Cientologia através de testemunhos de ex-altos funcionários da Igreja sobre más condições e maus tratos a membros da igreja, imagens de arquivo e reconstruções de histórias passadas. Segundo a Business Insider, o resultado é um documentário “explosivo” e “devastador”.

Em duas horas de filme, o documentário centra-se nas origens daquela Igreja, criada pelo norte-americano L. Ron Hubbard, assim como nas celebridades que dão fama a esta religião e que a tornam uma das crenças mais polémicas e intrigantes do mundo. Mas mais do que isso, centra-se na reconstrução das histórias de abusos contadas em discurso direto por antigos membros. A ideia é, segundo chegou a dizer o próprio Alex Gibney, não tanto expor os “podres” da Igreja, mas principalmente perceber o que faz as pessoas procurarem a Cientologia para terem vidas melhores.

A ideia começou por ser considerada impraticável e não havia realizador que, por mais interesse que tivesse no tema, ousasse aventurar-se. É que fazer um filme sobre o funcionamento da Igreja da Cientologia, com um olhar crítico e infiltrado, parecia ser impossível sem que a equipa fosse alvo de dezenas de processos judiciais, a avaliar pelos milhões que a Cientologia gasta habitualmente em advogados e detetives para processar quem quer que se atravesse no seu caminho.

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Daí que Alex Gibney tenha chegado a recusar pegar no tema mais do que uma vez. Mas há cerca de dois anos teve uma proposta irrecusável, conta a Business Insider. Dar continuidade e visibilidade ao livro do jornalista de investigação norte-americano Lawrence Wright, com o mesmo nome, que já revelava muitos dos pontos fracos daquela crença religiosa que é vista também como uma seita. O desafio era agora passar algumas das histórias relatadas na obra para o ecrã, de forma a mostrar ao mundo não só como funciona aquela Igreja mas, sobretudo, o que move as pessoas que fazem parte dela.

De acordo com a Business Insider, em duas horas de documentário, Gibney procura retratar alguns dos maiores mistérios que giram em torno da Cientologia: a longa batalha que aquela Igreja travou na California, na década de 50, para ver reconhecido o seu estatuto de organização religiosa isenta do pagamento de impostos; o porquê de a Cientologia recorrer a estrelas de cinema como Tom Cruise para fins promocionais, e de conseguir, em alguns casos, manipulá-los para que mantenham o vínculo. Ou ainda as dissidências. Por que acabam por sair alguns dos membros de mais alto nível?

A história do realizador Paul Haggins, um dos casos mais conhecidos de abandono da Cientologia, é uma das retratadas no filme e foi mesmo a que motivou o jornalista Lawrence Wright a escrever o livro, quando lhe fez uma entrevista em 2011 para o New York Times onde Haggins já levantava uma ponta do véu. O documentário, no entanto, tem estado em permanente luta com a Igreja da Cientologia. Desde que foi exibido pela primeira vez, em janeiro, no âmbito do Festival de Cinema de Sundance, a Cientologia tem tentado descredibilizar o filme de várias maneiras. Primeiro, na véspera da exibição do filme no festival, comprou uma página de publicidade no New York Times para denegrir a imagem de Gibney. Depois, divulgou um vídeo no Youtube onde desmentia determinados aspetos do filme, nomeadamente sobre as alegadas más condições em que vivem os membros da Igreja.

O documentário vai ser exibido no final de março pelo canal de televisão norte-americano HBO.