“Sexo oral: 20 euros. Quer número de contribuinte na fatura?” O diálogo é fictício mas as prostitutas argentinas bem gostariam que não fosse. Para chamar a atenção para o vazio legal em que a prostituição se encontra na Argentina, uma associação de mulheres do setor lançou uma campanha em que são distribuídas faturas por serviços sexuais aos transeuntes de Buenos Aires.

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Retirado do site da AMMAR

A iniciativa da Associação de Mulheres Meretrizes da Argentina (AMMAR) visa “eliminar o grande estigma” que existe relativamente à prostituição naquele país, disse ao jornal espanhol El Mundo Georgina Orellano, secretária-geral da AMMAR. “É um trabalho como qualquer outro e nós, que o exercemos, somos também trabalhadoras com direitos e obrigações”, defendeu a responsável, que decidiu lançar a campanha simbolicamente a 1 de maio, Dia do Trabalhador.

Nesse dia, aproveitando um comício de uma central sindical argentina, representantes da AMMAR estiveram num estádio de Buenos Aires a manifestar-se e a distribuir os modelos de faturas que gostariam que se tornassem realidade. Nesses modelos, um serviço de sexo oral (a ‘francesa’ que aparece na imagem) custa 200 pesos (cerca de 20 euros) e um serviço completo ronda os 500 pesos (ou seja, 50 euros).

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“O nosso setor sempre foi criminalizado e estigmatizado. Há muito preconceito relativo ao nosso trabalho e queremos que a sociedade não nos veja como vítimas, mas sim como sujeitos de direito e como classe trabalhadora”, escreveu a AMMAR numa entrada de blogue.

Nesse texto, a AMMAR defende igualmente a criação de uma lei que enquadre a atividade laboral sexual e insta os apoiantes da campanha a fazerem o download da fatura e a partilharem uma versão própria nas redes sociais. Associadas ao reconhecimento da prostituição como trabalho estão outras reivindicações: a possibilidade de poderem passar faturas pelos serviços prestados e a criação de uma obra social, por exemplo.

A luta das prostitutas argentinas pela legalização do trabalho sexual já é longa e a criação destas faturas é apenas mais um passo. Na Argentina, a prostituição está num vazio legal: nem é proibida nem é legal. Para colmatar isso, a AMMAR promoveu, ainda em setembro do ano passado, uma discussão pública que visava regularizar a situação de milhares de mulheres. Só em Buenos Aires, a capital do país, a associação diz ter mil sócias, das quais 86% são mães.