Em pleno processo de apresentação de propostas para a venda da TAP, António Costa não desarma e lança mais críticas à alienação da empresa. As palavras do líder socialista estão a assustar investidores, mas nem assim (ou talvez por isso), o secretário geral do partido tira o pé do acelerador das críticas: “Este Governo não fez nada para ter um consenso social e político. A privatização da TAP é de uma teimosia e radicalismo ideológico. É um erro e o Governo ainda está a tempo de emendar”, disse aos jornalistas.

António Costa promete que se for Governo tudo tentará fazer para travar a alienação total da empresa, para já trava a guerra das palavras. O líder do PS sabe que os investidores podem pensar duas vezes perante esta ameaça e insiste em mostrar-se contra: “Os governos têm legitimidade para governar na sua legislatura, mas decisões além deviam ser ancoradas em consensos. (…) Só chegámos aqui porque o Governo recusou todas as soluções de compromisso”, disse.

Além disso, acrescentou, para o líder do PS o Governo está com legitimidade diminuída por já ter passado o tempo normal de mandato: “Estamos numa situação política muito especial, porque daqui a três semanas este Governo cessaria funções. Só por um situação constitucional excecional é que o mandato foi prolongado”, disse. O mandato de Passos Coelho terminará como previsto na Constituição sem setembro, mas será um mandato mais longo por ter começado mais cedo, fruto da demissão de José Sócrates antes do verão.

Aos jornalistas, depois de participar num debate no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Costa relembrou que o PS apresentou ao Governo três possibilidades de compromisso para encontrar uma solução para a TAP e que todas foram rejeitadas: a primeira era uma possibilidade de capitalização pública, disponibilizando-se o PS para esforços juntos da Comissão Europeia, a segunda um reforço da TAP com dispersão em bolsa e também, diz, apenas a privatização de 49% da companhia . Todas estas propostas “o Governo recusou”, repetiu.

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Primárias sim, mas presidenciais logo se vê

No debate que teve no ISCTE, no âmbito do “Fórum das Políticas Públicas”, com Pedro Santana Lopes, António Costa defendeu o modelo das eleições primárias, quer para as eleições autárquicas quer para as legislativas, proque se “revelaram um bom método”, mas quando a pergunta é sobre se também este modelo serve para a escolha de um candidato presidencial, Costa não responde e diz apenas que “oportunamente” o PS se pronunciará sobre a escolha de um nome.

Costa esteve durante esta quinta-feira de manhã frente-a-frente com Santana Lopes. Não foi um frente-a-frente, foi mais um lado-a-lado. Dois ex-presidentes da Câmara de Lisboa, um agora candidato a primeiro-ministro e outro candidato a candidato a Presidente da República. António Costa e Santana Lopes concordam em muito e elogiaram-se. Os dois concordam com mudanças nas competências para as câmaras e para as instituições particulares de solidariedade social.

“Devia ser regra que o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa fosse sempre um anterior presidente da câmara. O município de Lisboa e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa levaram décadas de guerra. E nos últimos anos as coisas têm corrido melhor porquê? Por causa do seu próprio provedor, não sé pelas suas qualidades, mas por ter memória do que era enquanto presidente da câmara”, disse o líder do PS, elogiando Santana Lopes.

Já Santana prefere outra regra: “Costumo dizer que quem vai para o governo devia ter passado por uma câmara ou por uma Santa Casa, por um nível de proximidade com as pessoas”. Costa ouviu e sorriu. Afinal, entre Passos Coelho e António Costa, foi o único a passar por esse tipo de experiência traçada pelo antigo líder do PSD.

No que se refere à descentralização de competências quer para a autarquias quer para as instituições particulares de solidariedade social (onde se incluem as misericórdias), Santana defendeu que neste momento a principal questão “não é a descentralização, é a organização”. E que apesar “da boa colaboração entre CML, SCML não sei se é uma boa colaboração que se vai manter”.

Durante o debate, fica uma nota final. António Costa é avesso à atual discussão sobre a reforma do Estado. Disse o líder socialista que “não faz sentido” falar em áreas onde o Estado deve deixar de intervir e que o que “é a reforma do Estado” é a alteração permanente que passa por várias alterações, como por exemplo a descentralização.

“Não  acredito que haja um documento mágico que diga ‘hoje vamos fazer a reforma do Estado’. Não acredito nesse documento mágico”, acrescentou.