Esplanadas cheias, lojas vazias. Atenas é uma cidade cheia no verão, mas por estes dias com uma alma diferente. Entre os muitos turistas que procuram um lugar bonito para se refrescarem na tarde quente que se faz sentir, são muitos os que discutem a situação no país. Com referendo no domingo, a política domina todas as conversas.

À volta da Acrópole, encontrar um lugar parece uma miragem. Mas, pelo caminho, sente-se o estado de alma de muitos gregos. “Tsipras não está cumprir o que prometeu”, diz Yannis, dono de uma loja de recordações a um casal de turistas austríacos. “Há muita gente a passar, mas estão a guardar o dinheiro para jantar e não compram quase nada. As caixas multibanco estão impossíveis”, diz Eleftheria, enquanto espera na rua que alguém queira comprar um íman para o frigorífico ou um postal de recordação.

Numa rua inclinada e estreita, quatro jovens brasileiras (Juliana, Eudora, Daniela e Neide) aproveitam a sombra de uma das muitas lojas de recordações para ganhar fôlego e continuarem o passeio. Aproveitam para conversar com um dos trabalhadores, Chrysovalantis, de 32 anos, sobre o que se passa em Atenas. O Observador intrometeu-se na conversa para perceber o que cada um pensa sobre o que está a acontecer.

“No domingo temos um referendo. É sobre sair do euro ou não. Acho que estamos melhor fora. Assim não conseguimos nada. Agora só podemos ir ao multibanco levantar 60 euros por dia. É o que chamam de controlo de capitais. Vocês [turistas] não. Mas nós não podemos levantar mais. Como é que eu vivo se não tiver dinheiro?”, pergunta Chrysovalantis.

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Sentada, Juliana questiona se o custo de vida é muito alto para o jovem grego, vestido de preto numa tarde quente, enquanto tenta convencer quem passa a comprar um dos muitos ímanes que preenchem a parede ao lado da sua loja. O jovem explica que, agora, tem de trabalhar “mais horas para manter o mesmo nível de vida”: “Antes, trabalhava oito horas. Agora tenho de trabalhar pelo menos 12 horas. Quando se é novo, tudo bem. Aguenta-se. Mas agora? Assim não temos vida. Só trabalhamos. E para quê?”

Juliana, a mais curiosa do grupo, diz que no Brasil também se trabalha muitas horas, mas o jovem grego não desarma. “Eu sei que vocês também trabalham muito. Quando era novo fazia sentido. Mas a uma certa altura temos de parar. Não é para morrer, é para aproveitar um bocado a vida. Agora não sei como vai ser. Não vamos ter pensões”.

Sem euro seria melhor, desabafa o jovem. Agora, com mil euros viveria confortavelmente em Atenas. Mas os amigos, de classe média baixa, não têm emprego. Nas estatísticas, tenta explicar às quatro jovens, o desemprego anda entre os 20 e os 30%, mas “nas ruas é mais do que 50%”.

“Não temos nada. Se quisermos lavar casas de banho, temos de mandar um currículo. E, mesmo assim, é difícil”, diz Chrysovalantis. Mesmo com divergências de opinião sobre o que fazer, nos culpados os gregos estão de acordo: “São os políticos. Todos, nos últimos 40 anos. Não é só o Syriza. São todos. O Syriza só chegou lá agora”. Mas também culpam os jornalistas. “Nas televisões, parece que estamos em guerra civil. Veem alguma guerra civil?”, questiona o jovem grego.

Daniela, mais calada a ouvir, admite que estava preocupada. “Antes de virmos para cá estava preocupada. Vimos as televisões, lemos notícias, mas já tínhamos as viagens e não tínhamos mais dinheiro. Não podíamos desmarcar”. “E agora?”, pergunta Chrysovalantis. “Nada. Tudo muito normal”, responde Daniela. “E os transportes? São grátis porquê?”, pergunta Neide. “Os controlos de capitais. As pessoas não conseguem sempre dinheiro, mas também acho que é para as tentar acalmar”, responde o jovem comerciante. “Para nós é ótimo, ficamos com mais dinheiro. Dá para comprar mais uma coca-cola”, diz Neide.

Entre risos, as jovens preparam-se para seguir viagem, com Chrysovalantis a dizer que não quer “ser chato” e que as jovens deviam aproveitar, porque a cidade é muito bonita. As jovens passam uma mensagem de otimismo: “Vai tudo correr bem”, dizem. Resignado, o jovem alinha. Com um sorriso despede-se: “Mesmo que não se passe nada, tudo vai correr bem. Brasil e Grécia, os dois têm muito sol. Dá para ser feliz assim”.