O antigo Presidente Jorge Sampaio disse esta sexta-feira nas Nações Unidas, durante o discurso de aceitação do prémio Nelson Mandela, que a comunidade internacional falhou ao não proteger os mais fracos.

“Quando testemunhamos estes alarmantes e trágicos desenvolvimentos, temos de reconhecer que nós, os nossos governos e a comunidade internacional, falhámos em atuar da forma correta para elevar as expectativas e liderar o caminho para proteger aqueles que mais precisam”, disse Sampaio, de 75 anos, num discurso em inglês.

O prémio Nelson Mandela foi criado no ano passado pela Assembleia Geral da ONU para homenagear personalidades que se tenham dedicado a promover os ideais das Nações Unidas.

Nesta primeira edição, o prémio foi também atribuído a uma oftalmologista da Namíbia, Helena Ddume.

Sampaio nomeou alguns dos desafios que o mundo enfrenta, como o terrorismo, “que está a matar pessoas em todo o lado e a toda a hora, além de qualquer limite de brutalidade ou grupo que esteja imune e que possamos nomear”.

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“Este é também um tempo em que vemos grande descontentamento e descrédito sobre a política e a democracia a pairar sobre muitos países desenvolvidos, nomeadamente na Europa”, disse.

Sampaio acredita que “em muitas sociedades, quando a mudança parece bloqueada e as reformas em espera, novas formas subtis de autoritarismo estão a emergir”.

O ex-Presidente português falou também de um mundo em que, “apesar dos progressos em concretizar os direitos humanos básicos assim como aparecem nos Objetivos do Milénio, milhões de pessoas ainda vivem abaixo do limiar da pobreza; e em que largos números de refugiados, populações deslocadas e migrantes ainda enfrentam todos os tipos de atrocidades – raptos, violações, assassinatos a sangue frio, tortura, e limpezas étnicas”.

O prémio tem como objetivo prestar tributo aos esforços de Nelson Mandela “a favor da reconciliação, da transição política e da transformação social” e esse objetivo não foi esquecido por Jorge Sampaio.

“A situação não precisa ser assim”, disse, para acrescentar: “Como Nelson Mandela nos lembrou ‘a maior gloria em viver reside não em nunca cair, mas em levantarmo-nos de cada vez que caímos'”.

“É nosso dever coletivo ser firmes e fornecer um escudo para os indefesos. Temos de levantar a voz pelos direitos humanos e por todos aqueles que estão a sofrer nas zonas de guerra, aqueles que estão em risco, em situações vulneráveis. Não existe outra hipótese além de ter as Nações Unidas a liderar o caminho”, concluiu Jorge Sampaio.

Presidente da República durante 10 anos (1996 a 2006), Sampaio foi também presidente da Câmara de Lisboa. De 2006 a 2012 foi enviado especial da ONU na luta contra a tuberculose.

Nos últimos anos tem investido numa iniciativa para fornecer subsídios de emergência para que estudantes sírios possam continuar os seus estudos, apesar da guerra na Síria, a chamada “Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios”.

No texto em que anunciava os premiados, as Nações Unidas citavam os seus esforços como “grande apoiante da democracia portuguesa”, desde o tempo de estudante em que era um ativista político e depois do 25 de abril, como político.

E falam do Jorge Sampaio Presidente, trabalhando para construir uma imagem de um Portugal democrática e moderna enquanto apoiava a integração europeia e supervisionava a entrega de Macau à China.

Helena Ndume criou nos últimos 20 anos centros de tratamento oftalmológicos em toda a Namíbia. Já ajudou cerca de 30.000 pessoas a recuperar a visão e a ter atendimento gratuito para problemas com cataratas.

Dirige atualmente o serviço de oftalmologia do hospital central de Windhoek.