Amigo de Hugo Chávez, ex-ministro de Lula da Silva e um dos seus braços fortes, entre 2003 e 2005. José Dirceu via o seu nome estourar na opinião pública, há dez anos, por causa do envolvimento no Mensalão, um dos maiores esquemas de corrupção no Brasil. Foi condenado e cumpriu prisão domiciliária até esta manhã de segunda-feira, altura em que teve de abandonar a sua casa por suspeitas de corrupção numa nova investigação: o Lava-Jato.

O homem do Partido dos Trabalhadores (PT) volta a enfrentar a justiça. Foi detido esta manhã, pelas 10h00, depois de ordem do juiz de primeira instância, Sérgio Moro. Dirceu deverá ficar em prisão preventiva, em Curitiba.

Mas estas não são as únicas razões para o seu nome ser sonante deste lado do Atlântico. A influência de José Dirceu atravessou o oceano e também chegou a Portugal por alegadas ligações a outros negócios. Recordemos:

A PT, a Oi a Vivo e a Telefónica: o homem das ligações?

  • Em 2010, já depois do escândalo Mensalão José Dirceu, defendeu a fusão da Portugal Telecom com a brasileira Oi. Dirceu estaria ligado à empresa portuguesa Ongoing e à Portugal Telecom. O esquema era simples: o então ministro exercia influência em troca de doações, não só a si próprio, mas também ao Partido dos Trabalhadores, do qual fazia parte;
  • A ligação à Ongoing, é contada no livro do jornalista Otávio Machado: a empresa portuguesa terá sido o terceiro cliente fixo de José Dirceu e procurava instalar-se no Brasil: “Além da remuneração, havia uma questão estratégica a aproximá-lo dos portugueses: achava que poderiam construir no Brasil uma rede de TV, rádio, jornais e internet próxima a seu grupo político”, conta Otávio Machado no livro; No final, a tal rede nunca se criou, mas Dirceu tinha uma coluna semanal no Jornal do Brasil e no Brasil Económico, onde partilhava as suas opiniões e atacava o processo do Mensalão;
  • José Dirceu também teria ligações ao Ministério das Comunicações e Agência Nacional de Telecomunicações o que facilitaria o trabalho com empresas de comunicação;
  • Acompanhou, como representante do governo brasileiro, o negócio de venda de ações da Vivo, detidas pela PT, à espanhola Telefónica (que pagou 7500 milhões de euros). Depois deste negócio, a brasileira Oi entrou na PT e a PT na Oi.
  • José Dirceu terá promovido os contactos entre portugueses, brasileiros e espanhóis. O ex-ministro terá prestado serviços a empresas, sobretudo às relacionadas com grandes negócios que precisavam de autorizações políticas. As ações decorreriam por via das sociedades de advocacia e de consultoria, Oliveira e Silva & Associados, JD Consultores e JC&S;
  • Quando, em 2010, a Telefónica recorreu aos serviços do escritório Oliveira e Silva, terá sido Dirceu que abriu à empresa espanhola as portas do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) – instituição pública federal que financia os grandes investimentos. Fala-se em registos de vários reuniões entre as sociedades de Dirceu e responsáveis da Telefónica.
  • No mesmo ano, José Dirceu viajou para Lisboa a fim de estabelecer contactos. Foi nessa altura que defendeu publicamente a fusão da Oi com a Brasil Telecom ou com a PT;
  • O ex-ministro da Casa Civil participou em reuniões com os acionistas da Oi. Otávio Marques Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez (empresa ligada ao processo Lava-Jato) e maior acionista da operadora brasileira pode ter chegado a entendimento com o capital da PT, na sequência destas reuniões. No negócio, anunciado em julho de 2010, a Telefónica pagava 7,5 mil milhões à PT para ficar com 50% da Vivo. Por outro lado, a PT usava parte do encaixe para investir 3,75 mil milhões na compra de 23% da Oi. A brasileira Oi adquiria 10% da PT.
  • José Dirceu surge ainda associado ao escritório português de advogados Lima, Serra, Fernandes & Associados. De acordo com o Público, aquele escritório prestou apoio à PT no quadro do dossier da Vivo. A LSF & Associados terá recebido uma avença pelo trabalho;

E os negócios da Abrantina

  • José Dirceu será ainda amigo próximo de João Abrantes Serra, ex-gestor da construtora Abrantina, e do ex-ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas.

A influência para a entrada de Efromovich na TAP

  • Em 2011 Miguel Relvas terá recebido Efromovich a pedido do empresário;
  • José Dirceu terá promovido a candidatura de Gérman Efromovich à privatização da TAP. A proposta chegou a ser avaliada por Pedro Passos Coelho;
  • As movimentações para vender a companhia aérea portuguesa a Efromovich (dono da companhia colombiana Avianca-Taca, por sua vez, ligada à Avianca-Brasil) terão começado em setembro de 2011 quando o ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, recebeu o empresário para negociar o hipotético investimento na TAP.
  • À data, Miguel Relvas chegou a confirmar ao jornal Público: “O ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares (…) confirma que recebeu, em Setembro e Outubro de 2011, pedidos de audiência do empresário mencionado [Efromovich] para falar com o Governo português sobre as suas intenções de poder vir a investir em Portugal”. E acrescentava: “Foram concedidos e decorreram, como é usual, com a maior cordialidade”.
  • Mais tarde Relvas garantia que, com o início da privatização, não tinha tido mais contactos com o empresário. Mas dias depois de o receber, terão começado as comunicações para ajudar o empresário natural da Bolívia a entrar no negócio da TAP. Em 2011, novembro, o irmão de José Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva (também detido esta manhã no âmbito do processo Lava-Jato), deslocou-se a Lisboa para se encontrar com altos responsáveis financeiros e políticos. Mais uma vez, as reuniões terão sido articuladas com o escritório de advogados LSF & Associados, liderado por Fernando Lima e amigo de José Dirceu.

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