Dias antes das eleições no Reino Unido, que aconteceram no dia 7 de maio, a diferença nas sondagens entre os principais partidos era 1%, com os conservadores de Cameron com 34% da intenção de votos e os trabalhistas de Milliband com 33%. Os resultados chocaram a nação, quando o primeiro-ministro conseguiu ser reeleito com maioria absoluta. Mas será a coligação Portugal à Frente capaz da mesma proeza? Apesar de algumas semelhanças, o caso britânico e português estão mais longe do que se imagina.

Coligação uma legislatura inteira

Desde logo, ambas as coligações – no Reino Unido, os conservadores estavam coligados com os liberais – duraram uma legislatura inteira, algo que segundo Cristina Leston-Bandeira, que leciona na Universidade de Hull, no Reino Unido, afirmou ao Observador ser “mais extraordinário para Pedro Passos Coelho do que para David Cameron, já que em Inglaterra existe uma tradição de cumprimento de mandato”.

Números da economia a crescer

Para além disto, depois de uma situação de crise, os dois Governos emergiram do final dos mandatos com números na economia melhores que os da partida. Com a devida distância entre Portugal e Reino Unido, o crescimento britânico situou-se nos 2,8% no segundo trimestre de 2015, enquanto no período homólogo, em Portugal, houve um crescimento de 1,5%.

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Oposição com um líder refrescado

Mas as semelhanças ténues ficam-se por aí. Enquanto Cameron tinha pela frente Milliband, que Cristina Leston-Bandeira caracteriza como um líder “muito desgastado” que tinha chegado à eleição nacional depois de eleição interna nos trabalhistas “que dividiu o partido trabalhista profundamente”, Passos Coelho vai enfrentar António Costa. “Costa é novo e apesar de algumas controvérsias, ainda se apresenta como uma cara nova, de alternativa”, afirma a investigadora. Sendo que se pode acrescentar que Costa, ao contrário de Seguro, tem sido apontado pela direita como mais ligado à gestão passada (socialista, de Sócrates).

Também Pedro Adão e Silva, professor no ISCTE, disse ao Observador que Costa tem “um perfil mais elevado do que Milliband algum dia teve”. “Em relação a Costa no PS, sempre houve a expetativa que ele viesse a avançar, enquanto Milliband subiu ao poder de forma diferente. Agora a campanha do PS centra-se no líder aproveitando esta credibilidade, enquanto no Reino Unido a campanha foi sustentada pela marca do partido trabalhista”, afirmou.

O que ainda não é perceptível é se Costa consegue evitar a imagem de um líder mais à esquerda, que Milliband tinha e que muitos analistas disseram ter sido factor importante na derrota eleitoral.

O caso escocês

Enquanto PS e coligação Portugal à Frente são os maiores adversários em Portugal, no Reino Unido os trabalhistas tinham de se bater contra os conservadores no centro e no sul e contra o Partido Nacional Escocês (SNP) na Escócia, algo que acabou por dispersar as atenções do partido e tornou a sua mensagem difusa. “Os trabalhistas ficaram completamente presos na Escócia. Enquanto no resto do país precisavam mostrar-se ao centro no resto do país e na Escócia posicionar-se mais à esquerda, mas com o mesmo programa”, afirma o académico Pedro Adão e Silva.

Cristina Leston-Bandeira afirma ainda que o sistema eleitoral em Portugal “conduz mais naturalmente a uma situação de não maioria absoluta”. No Reino Unido a eleição faz-se através de círculos uninominais, enquanto em Portugal o sistema é proporcional, o que torna mais difícil a constituição de maiorias absolutas de um único partido já que é mais fácil aos pequenos partido em Portugal eleger mais deputados – um exemplo disso é a votação do UKIP, já que o partido recebeu 12,6% dos votos, mas apenas elegeu dois deputados.

As sondagens enganam

Devido ao sistema eleitoral, também as sondagens são mais difíceis de elaborar do que em Portugal. “As sondagens são mais coerentes em Portugal”, refere Adão e Silva, embora indique que na eleição do Reino Unido havia dois factores relevantes que indicavam para uma possível vitória dos conservadores: Cameron era o líder que os ingleses viam a comandar o país e o programa eleitoral favorito era o do seu partido.

No inquérito levado a cabo pela Eurosondagem para o Expresso e a SIC em julho deste ano, António Costa o líder mais popular com 18,2% dos portugueses a terem uma imagem positiva a seu respeito, enquanto Passos estava no fundo das preferência com um saldo negativo de 2,3%.

Há ainda mais um ponto a ter em conta nas sondagens em Portugal e no Reino Unido: os eleitores envergonhados. Pedro Adão e Silva diz que o voto destes eleitores que não assumem em quem votam – especialmente quando estão ao lado dos partidos que estão no poder – por receio serem mal vistos pelos outros é impossível de prever. No entanto, o académico refere que a sensação de que a maioria está a ganhar apoio, pode levar a uma maior bipolarização dos votos e beneficiar o PS.