Jorge Sampaio falava no colóquio “70 anos das Nações Unidas – 60 anos de Portugal nas Nações Unidas”, coorganizado pelo Instituto Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros e pelo Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa.

“A ausência de uma estratégia europeia, a incapacidade de atuar em tempo útil de forma concertada, a ausência do sentido de responsabilidade partilhada nunca foram tão chocantes, reduzindo a União Europeia a um mero espaço e desacreditando-a enquanto núcleo e força estruturante de um mundo bipolar”, afirmou.

O antigo Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações defendeu que “esta crise não é só um problema europeu”, mas também regional e global.

“As Nações Unidas (…) estão na linha da frente, não só porque lhes cabe lidar em primeira instância com as causas desta crise humanitária de grande escala porque acumula o efeito de vários conflitos combinados – no Médio Oriente, mas também no Magrebe e na África subsaariana -, mas também porque lhes incumbe dar resposta à crise humanitária propriamente dita”, destacou.

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Jorge Sampaio lamentou “o anacronismo em matéria de composição e pouca eficácia no funcionamento” do Conselho de Segurança da ONU, cujo mandato é zelar pela manutenção da paz e segurança internacional.

Este órgão decisor do sistema das Nações Unidas é composto por cinco membros permanentes com direito de veto (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido) e 10 membros eleitos por mandatos de dois anos.

“A questão da reforma do Conselho de Segurança não é opcional, mas um imperativo (…) Nada fazer significa (…) desacreditar o Conselho de Segurança e anuir que as suas resoluções sejam desrespeitadas e ignoradas”, sublinhou Jorge Sampaio, alertando que esta incapacidade contribui para deixar a paz e segurança internacional à mercê de toda a espécie de ameaças”, como no caso da Síria.

“A globalização requer regulação e exige o reforço da diplomacia multilateral. É preciso que a emergência de uma ordem jurídica mundial legítima e eficaz se traduza na realidade e que o mundo à escala planetária conheça menos violência, menos afrontamentos e mais justiça”, afirmou.

A finalizar a sua intervenção, o antigo chefe de Estado português manifestou esperança de que Portugal possa, no acolhimento aos refugiados, “consolidar a capacidade de convivência multicultural”. “Temos de estar à altura do desafio e, quem sabe, encontrar nele uma nova oportunidade para dinamizar, renovar e reforçar a coesão e o carácter inclusivo da sociedade portuguesa”, disse.