A campanha eleitoral acelera: Passos Coelho e Paulo Portas vão para a rua a partir de sábado. António Costa sente-se reforçado depois do duelo televisivo.

A estratégia da coligação é clara: mostrar que Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, não tem medo do contacto com os portugueses e, prova disso, é a volta que vai fazer ao país durante 21 duas seguidos, com uma média de cinco paragens diárias em diferentes concelhos do país. Segundo o diretor de campanha, José Matos Rosa, a ideia é fazer uma “campanha de olhos nos olhos”. Sem medos.

Até aqui, Passos tem estado resguardado, sem muita agenda pública, ou apenas com agenda para eventos oficiais do Estado. E, ainda, sem o seu rosto estampado nos cartazes. Com os deslizes que marcaram a pré-campanha socialista (nomeadamente, a polémica dos cartazes), a palavra de ordem parecia ser descrição. E era mesmo – fontes próximas de Passos admitiam que bastava ao líder estar quieto e dar o tempo de antena todo a Costa para que as polémicas socialistas tivessem mais eco.

Os conselhos sucediam-se nesse sentido, à medida que as sondagens a apontavam para uma recuperação da coligação e uma quebra lenta dos socialistas. O debate de quarta-feira à noite, contudo, parece ter mostrado que é hora de avançar para o ataque. De aparecer. Mesmo entre os seus mais próximos, reconhece-se que houve no debate alguma “subestimação” do adversário e, com o seu estilo de “estadista” e de “tecnocrata”, Passos perdeu na eficácia comunicativa. Agora, é hora de olhar para a frente e corrigir os erros.

Os erros do debate

Isso significa uma alteração da estratégia? Não oficialmente. Fontes da campanha ouvidas pelo Observador garantem que “não muda nada em termos de estratégia”. A própria Cecília Meireles, diretora-adjunta da campanha da coligação, deixou isso claro esta quinta-feira aos jornalistas: “Não vamos fazer nada de diferente do que fizemos até agora”.

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A questão, para a coligação, é que “há dois estilos diferentes de fazer política”: Passos é mais “tecnocrata”, mais “estadista”, mais “seguro”, enquanto Costa é mais “politiqueiro”. Os sociais-democratas reconhecem, no entanto, que isso facilita o discurso de esperança na boca do líder do PS. Nesta fase de campanha, um dos objetivos é falar mais para as pessoas.

Outro ponto fraco de Passos no debate foi o tom considerado excessivo com que usou o nome de Sócrates. A estratégia é essa, colar Costa ao ex-primeiro-ministro, mas fontes do PSD admitem que é preciso um discurso “mais subtil e sóbrio”.

Apesar de tentarem minimizar os estragos de um duelo televisivo onde todos os dedos apontaram para a vitória de António Costa, é difícil ouvir no seio dos sociais-democratas quem aponte um Passos vencedor. O socialista ganhou o duelo das expetativas, reconhecem fontes da candidatura, desdramatizando o real impacto dos debates televisivos.

Costa na estrada desde junho, agora com “entusiasmo reforçado”

Se à direita se reconhecem falhas, à esquerda rejubila-se com a vitória de António Costa. Por isso mesmo não se ouve quem diga que há aspetos a mudar. Ao Observador, Luís Patrão, secretário nacional do PS para a Administração, diz ao Observador que foi um novo fôlego. “Saímos do debate com um reforço de entusiasmo, porque conseguimos transmitir os factos com mais clareza”, diz.

O dirigente socialista não nega que “o reforço que era preciso para dar novo impulso e nova energia, não tanto ao topo do partido, mas mais às bases”. “A campanha vai continuar sólida e continuaremos na tentativa séria e empenhada de fazer um esclarecimento sobre o programa do PS e sobre aquilo que foram os quatro anos de governação de direita e de promessas falhadas. Ficou tudo mais transparente aos olhos dos portugueses”, explica.

Sobre os ataques de Passos sobre Sócrates, Patrão considera mesmo que aquele passou “a linha vermelha e saiu-lhe o tiro pela culatra”. Já Pedro Nuno Santos, cabeça de lista em Aveiro, diz esperar que a coligação “reequacione a estratégia” e que Passos “deixe de ser invisível”.

Numa coisa todos concordam: o debate serviu pelo menos para “animar” a campanha.