Matheus Fellipe Costa Pereira. O garotinho de Belo Horizonte chegou a Portugal em meados de 2008. Tinha somente 12 anos e a timidez (tão natural) de quem se vai enturmando aos poucos. Em Portugal, o seu primeiro clube foi o Trafaria. Mas o clube de Almada era pequeno para os tantos malabarismos que a canhota de Matheus conseguia fazer. Quando a bola se lhe colava àquela bota, lá se ia a timidez, e com a timidez lá se iam um, dois, três, os adversários que lhe viessem pela frente.

Não saiu da margem sul do Tejo, mas mudou-se para Alcochete, para a Academia do Sporting, onde saltou escalões atrás de escalões, competia com os mais velhos como se da idade dele fossem, os calmeirões não o amedrontavam nada, e rapidamente se viu nele, Matheus Pereira, o que Cristiano Ronaldo foi e Fábio Paim não chegou a ser: um talento bruto, pronto a lapidar.

O problema é que Matheus, no seu derradeiro ano de júnior, se recusou a renovar pelo Sporting e esteve com pé e meio fora de Alvalade, sendo o Mónaco de Leonardo Jardim o seu mais que provável destino. Volte face, quando em janeiro Matheus Pereira tinha a possibilidade de assinar por quem quisesse, por quanto quisesse, lá acabou por renovar pelo Sporting – onde estava a treinar, sim, mas sem jogar um só minuto; uma situação semelhante à de Carrillo.

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Mas renovou, até 2020 e com um clausula de rescisão de 60 milhões de euros, saltou logo para o Sportintg B, onde disputava os jogos do fim-de-semana com os seniores, sendo que, durante a semana, assim houvesse um jogo da 2.ª Fase do Campeonato Nacional de Juniores, onde se apurava o campeão, lá estava Matheus, para dar uma perninha à formação de Luís Boa Morte.

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Porquê falar-lhe de Matheus? É que depois da convocatória para o jogo contra o Boavista, onde até acabou por ficar na bancada do Bessa, não só Jorge Jesus o convocou para ir à Turquia, como lhe deu a titularidade, aos 19 anos.

Sporting: Rui Patrício; João Pereira, Tobias Figueiredo, Naldo e Jonathan Silva; William Carvalho, Alberto Aquilani e Bryan Ruiz; Matheus Pereira, Carlos Mané e Teófilo Gutiérrez.
Besiktas: Tolga Zengin; Andreas Beck, Rhodolfo, Ersan Gülüm e Ismail Köybasi; Atiba Hutchinson, Necip Uysal e José Sosa; Gökhan Töre, Ricardo Quaresma e Mario Gómez.

Matheus foi a maior novidade de Jesus na visita ao Estádio Atatürk. Mas não foi a única. Jonathan foi o defesa-esquerdo na vez de Jefferson, Aquilani entrou para o lugar de Adrien, Teó substituiu Slimani como ponta-de-lança de serviço, Mané foi o “Carrillo” que Gelson tem tentado ser, mas William, ele sim, que até já tinha regressado no Bessa para desentorpecer as pernas, foi a outra surpresa, a seguir a Matheus, do onze leonino. Se William teria pulmão para o tempo todo? Dir-se-ia que não, mas a verdade é que sim, que teve, ainda que em ritmo lento, mas com a passada larga, a marcação corpulenta a que a todos habituou. Está de volta, e mesmo que sem o ritmo desejado, é titular de caras.

Diz-se da Turquia, dos estádios turcos, mais a mais em Istambul, que são um inferno. O Besiktas é o primeiro dos primeiros na Liga Turca e tem no ataque, como quem não quer a coisa, Quaresma, de quem já tudo se disse e de quem tudo se sabe, Gökhan Töre, outro tecnicista, tão bom de canhota no relvado como turbulento fora dele, e, claro, Mario Gómez, um “panzer” alemão, com fome de golo, na área. Mas com o estádio às moscas, o Sporting não se atemorizou com o apregoado inferno, e, ele sim, infernizou a primeira parte ao Besiktas, que não fez um só remate em direcção da baliza de Patrício.

Aos sete minutos, logo a abrir, com os onze de um e de outro lado ainda a apalparem terreno, Aquilani viu Matheus a ganhar metros na esquerda ao defesa Ismail Köybasi, e desmarcou-o nas costas da defesa. Matheus recebeu a bola, orientou-a em direção, mas esta foi pousar-lhe na bota direita, que é a menos espevitada das duas, e, pressionado por Köybasi, lá rematou, mas o guarda-redes Tolga Zengin, seguro, ajoelhado sobre o relvado, aninhou a bola nos braços.

O Sporting, sem fazer uma exibição de gala, foi competente, seguro na defesa, afoito no ataque, e ora saía em velocidade, no contra-golpe que Jesus gosta, ora saía mais pausadamente, com segurança na posse de bola, mas com um só objectivo: o golo. Cedo, de preferência. Aos 12′, foi Teó que tentou, mas o mérito é todo de Ruiz, que nos primeiros minutos resolveu-se a atazanar os turcos. Bryan, camisola “10”, tinha Rhodolfo nas costas, a respirar-lhe no cachaço, a dizer-lhe que por ali não, por ali não passaria. Mas a bola foi mesmo ter com Ruiz, este, sem lhe tocar, só com um ziguezaguear do corpo, deixou Rhodolfo preso à relva, seguiu com a bola, viu Teó na área, endossou-a para lá, mas o colombiano, nem à primeira, nem na recarga, conseguiu fazer o 1-0.

Não marcou o Sporting ali, marcaria logo depois, aos 16′, e por Ruiz, quem mais?… Mané viu Matheus sobre a direita, quis tabelar com ele, a bola chegou ao brasileiro, mas a tabela não saiu, desviada que foi pelo central Ersan Gülüm. Abençoado corte, que foi ter, direitinho, com Ruiz. O costa-riquenho encheu-se de força, bateu na bola com a canhota, esta saiu meio torta, ainda se entortou mais quando tocou em Rhodolfo, e tão torta foi, que nem Tolga Zengin, todo esticadinho, lá chegou. 1-0 para o Sporting em Istambul.

Ruiz e Teó, na frente, o colombiano a “9”, o costa-riquenho a banditar, ora a “10”, ora na ala esquerda, faziam a cabeça em água aos defesas do Besiktas. Aos 35′, Teó vem da direita para o meio, bola controlada, cabeça levantada, vê que Ruiz está sozinho, de braços no ar, a pedir-lhe o passe, e é mesmo para lá que a bola vai. Bryan Ruiz tem tempo para tudo, para recepcionar, para mirar a baliza, tirar-lhe as medidas, e bater em arco, com a parte de dentro da bota, mas o remate, colocadíssimo, saiu ligeiramente ao lado.

Aos 37′, foi Teó, que recebeu um passe daqueles a rasgar, desde o meio-campo para a área, de William. Dali, de onde a recebeu, só tinha como a rematar a bola de pé esquerdo e desviá-la o mais possível de Tolga Zengin, para o poste mais distante. Lá desviar, Teó desviou, mas foi demais, o remate saiu ao lado, e até ao intervalo nada mais se viu, nem do Sporting, nem do Besiktas.

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O reinício teve menos Sporting, mais Besiktas, mas não se rematou tanto como na primeira parte — e menos ainda se rematou com perigo. Os leões, aos 51′, tiveram a sua primeira e única oportunidade de golo. Aquilani, que não tem a velocidade de outrora (que nem outrora fora tanta assim, diga-se), preserva, aos 31 anos, toda a qualidade de passe que o destacou em Itália. Onde ele põe os olhos, põe a bola. Pôs os olhos em Teó, a desmarcar-se entre Ersan Gülüm e Ismail Köybasi, e pôs lá o passe, pois claro. O colombiano, não conseguiu desviar o remate de Tolga Zengin, foi à figura do turco, e este, à segunda, desviou-a para longe.

O Besiktas foi crescendo, mas, verdade seja dita, contabilizando as duas partes, só teve um remate de verdadeiro perigo. Foi aos 61′. Um remate enquadrado, 1-1, empate no jogo. Andreas Beck, um ruço entre morenos, avançou pela direita, galgou metros em velocidade, Ruiz não o segurou, menos ainda o seguraram Jonathan e William, e entregou a bola, quase no pé, a Sosa, que estava no centro da área, à pivô, marcado por Tobias. O médio argentino viu Gökhan Töre nas suas costas, livre da marcação de João Pereira e desmarcou-o, de calcanhar, para o golo. Patrício ainda cresceu para cima de Töre, abriu-lhe os braços, mas o remate não deu hipótese de defesa.

O Sporting jogou por duas vezes na Turquia, primeiro com Kocaelispor, em 1993/94, e depois com o  Gençlerbiligi, em 2003/04. Empatou sempre. E à terceira ainda não foi de vez, voltando a empatar. O Lokomotiv é líder do Grupo H, com seis pontos, o Besiktas é segundo, com quatro, e o Sporting terceiro, com um ponto em dois jogos. Se os leões quiserem seguir em frente na Liga Europa, vão ter que vencer, dê lá por onde der, os albaneses do Skenderbeu (ainda a zeros no grupo) no próximo jogo, a 22 de outubro, em Alvalade. Depois do afastamento no playoff da Liga dos Camepões (venceu em Lisboa e perdeu em Moscovo, com o CSKA) e da derrota contra o Lokomotiv já na Liga Europa, o Sporting de Jesus deu continuidade em Istambul ao início tremido dos leões na Europa. Há plantel e futebol para bem mais.