Antes de falarmos dos partidos comunistas de outros países, é importante reter a seguinte informação sobre o Partido Comunista Português: em toda a zona euro, o partido liderado por Jerónimo Sousa é aquele que tem a votação mais alta entre os seus homólogos. Já é assim há alguns anos, mas as eleições legislativas de 4 de outubro confirmaram-no: o PCP conseguiu um resultado de 8,25% e 17 deputados, o mais alto desde 1999.

Na Europa, e depois do PCP, o segundo partido comunista com mais votos é o KKE, da Grécia, que chegou aos 5,6% dos votos. Um dos que tem menos é o Partido Comunista Britânico, que nas eleições de maio teve pouco mais de mil votos em todo o Reino Unido. E aqui ao lado, em Espanha, o partido comunista concorre coligado na Esquerda Unida desde 1986 — semelhante ao caso do PCP, que desde 1987 que vai a eleições com Os Verdes, na Coligação Democrática Unitária (CDU). Conheça, um a um, alguns dos camaradas do PCP no resto da Europa:

Grécia. Em perda, mas resistindo

Além do PCP, e entre aqueles partidos comunistas europeus que ainda mantêm a matriz ideológica do marxismo-leninismo, os gregos do KKE são os que têm mais sucesso eleitoral. Nas últimas eleições legislativas a 20 de setembro, que confirmaram a vitória que o Syriza já tinha obtido em janeiro deste ano, o KKE foi o quinto partido mais votado, com 5,6% dos votos.

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O KKE funcionou na clandestinidade até 1974, ano em que se dá o fim da ditadura de extrema-direita grega. Desde então, é um partido legal e que nunca deixou de ter representação no parlamento grego. O melhor resultado de sempre do KKE foi em junho de 1989, quando obteve 13,1%, indo a votos dentro da coligação de esquerda Synapismos — que mais tarde viria a ser uma das forças políticas a formar o Syriza.

O tempo das coligações para o KKE parece ter passado depois do fim da União Soviética — e foi precisamente a seguir a esse virar de página na História que os comunistas gregos perderam votos. Desde então que a votação estabilizou em entre os 5% e os 6% — embora em maio de 2012 tenha tido um pico de 8,5% sob a liderança de Aleka Papariga, a primeira mulher a dirigir o partido. Atualmente, o secretário-geral do KKE é Dimitris Koutsoumpas. O KKE defende a saída da Grécia do euro e da União Europeia, tal como da NATO.

No site do partido, disponível em várias línguas, pode ler-se uma mensagem bem ilustrativa da retórica inflamada do KKE:

“Sem subestimar as consequências da mudança do equilíbrio de forças, devemos ser mais exigentes connosco próprios. Devemos ser mais estritos não para consolidarmos e solidificarmos aquilo que já conquistámos, mas também para avançarmos para uma fase mais dinâmica de contra-ataque e de fortalecimento. Não nos vergamos perante dificuldades nem as ignoramos. Encaramos as nossas funções com objetividade, sem quaisquer tipos de niilismo ou embelezamento”.

Em Bruxelas, o KKE fez parte do grupo da Esquerda Unitária Europeia — o mesmo do PCP e do Bloco de Esquerda — desde 1994. Em 2014, depois das eleições para o parlamento europeu de maio, os comunistas gregos tomaram a decisão de não se inscreverem em nenhum grupo. “O Comité-Central reitera o principal compromisso do KKE perante o povo grego: revelar os planos contra o povo que são criados a União Europeia e acima compromisso de contribuir para o fortalecimento da luta do povo contra o imperealismo da UE (…). A participação de deputados do KKE em grupos cuja linha principal é o de embelezar e apoiar a UE não pode servir estes compromissos.”

França. Juntos numa Frente de Esquerda

Embora continue em atividade de forma autónoma, o Partido Comunista Francês apresenta-se ultimamente a eleições sob a capa da Frente de Esquerda (Front de Gauche). Dentro da coligação, o PCF é de longe o maior partido (em 2011, segundo o L’Express, tinha 138 mil militantes) mas é o líder da segunda maior força política, o Partido de Esquerda (9 mil mlitantes), que aparece em primeiro plano. Trata-se de Jean-Luc Mélénchon, ex-professor trotskista e Ministro da Educação no governo de Lionel Jospin, que decidiu sair do Partido Socialista Francês em 2008 para fundar a Partido de Esquerda. Mélénchon ficou em quarto lugar com 11,1% nas presidenciais de 2012. Uma das suas promessas era taxar a 75% quem ganhasse mais de 1 milhão de euros por ano.

Até 1994, o PCF foi detentor do diário L’Humanité, que desde então é uma publicação formalmente autónoma mas para todos os efeitos ideologicamente alinhada com o partido. À semelhança do caso português, também em França o partido comunista tem uma festa habitual, com concertos, debates e comícios, que também vai buscar o nome ao jornal. Ou seja, a Fête de L’Humanité.

A Frente de Esquerda é representada pelo Parlamento Europeu com quatro deputados no grupo da Esquerda Unitária Europeia.

Espanha. Longe do Podemos

À semelhança do que acontece em França, o Partido Comunista Espanhol (PCE) concorre a eleições coligado na Esquerda Unida (Izquierda Unida) desde 1986. Apesar de englobar outras forças políticas — como a Esquerda Republicana ou a Esquerda Aberta –, os líderes da Esquerda Unida têm sido sempre militantes do PCE, que com 12 558 militantes registados em 2009, é de longe o maior partido da coligação. Atualmente, é liderado por Cayo Lara.

(O caso do PCE é em tudo semelhante ao do PCP, que concorre coligado desde 1987 com Os Verdes, formando assim a CDU. Tal como na Esquerda Unida espanhola, na CDU também são os comunistas quem tem a fatia de leão dos assentos parlamentares, com 15 deputados contra dois d’Os Verdes.)

Coligação, sim, mas não ao ponto de se coligar com o Podemos, da família política europeia do Bloco de Esquerda. Depois de meses em que a aproximação dos dois partidos antes das eleições legislativas marcadas para 20 de dezembro de 2015 parecia tomar forma, o mau resultado do Podemos levou a que os dois partidos se afastassem. A separação confirmou-se após uma reunião entre os dois partidos, sendo que cada um falou de “unidade popular” no final, não obstante a falta de unidade entre eles. “Lamentamos que o Podemos tenha fechado a porta a uma unidade popular”, disse Alberto Garzón, o número um das listas da IU para as eleições.

“Seguimos o nosso trabalho na candidatura pela mudança e lamentamos que haja quem prefira não se somar (…). O nosso objetivo é claro: a construção de uma unidade popular”, disse o Podemos num comunicado.

A Esquerda Unida tem 4 deputados em Bruxelas, também no grupo da Esquerda Unitária Europeia.

Reino Unido. Uma ajudinha a Corbyn?

Quando dois partidos se confundem um com o outro é provável que nenhum deles seja especialmente forte. É assim no Reino Unido com dois partidos que se dizem comunistas: o Partido Comunista Britânico (Communist Party of Britain) e o Partido Comunista da Grã-Bretanha (Communist Party of Great Britain).

Em julho, o secretário-geral do PCB — o maior dos dois, que tem como jornal (embora não-oficial) o Morning Star, Robert Griffiths, declarou o seu apoio a Jeremy Corbyn, ainda antes de este ter sido eleito para a liderança do Partido Trabalhista. “Só o Jeremy Corbyn é que fala a favor de se taxar os ricos e os monopólios capitalistas, investir nos serviços públicos em vez privatizá-los, construir mais habitação social, trazer de volta a energia e as ferrovias para o público, rejeitar as leis anti-sindicais e as armas de destruição maciça que são caras, imorais e inúteis”, escreveu Griffiths.

A confusão instalou-se quando o outro partido comunista, o PCGB, foi acusado de infiltrar militantes nos trabalhistas para votarem em Corbyn nas primárias. Só que acusação estendeu-se ao PCB. Griffiths apressou-se a esclarecer que aquele partido comunista não era o seu partido comunista. “É um pouco parvo, um pouco como a Vida de Brian”, disse, comparando a situação ao filme do grupo cómico Monty Python.

Nas eleições legislativas de maio de 2015, o PCB recebeu apenas 1.229 votos. O PCGB não concorreu.

Mesmo assim, os comunistas britânicos não existem só nestes partidos. Dentro do próprio Partido Trabalhista há uma facção marxista, a Labour Party Marxists.

“O principal objetivo dos Labour Party Marxists é transformar o Partido Trabalhista num instrumento da classe trabalhadora e do socialismo internacional. Rumo a esse fim vamos juntar-nos a outros e procurar uma união da esquerda dentro e fora do partido”, lê-se na lista de princípios deste grupo.

Alemanha. Recuperar a Stasi?

Karl Marx e Friedrich Engels eram alemães, mas nem isso parece chegar para que o Partido Comunista Alemão seja um partido com verdadeira relevância na política do país. A última vez que o partido teve alguém no Bundestag foi em 2008, quando Christel Wegner (militante do PCA, mas incluída no grupo parlamentar do Die Linke) foi expulsa da bancada onde estava inserida após ter apelado ao regresso da polícia política da Alemanha de Leste numa entrevista:

“Acho que se fosse criada uma nova sociedade, iríamos precisar de uma organização [como a Stasi] de novo, porque teríamos de nos proteger das forças reaccionárias que tentassem destruir o Estado a partir de dentro”.

É precisamente no Die Linke que se concentra a esquerda alemã (aliás, o nome do partido significa A Esquerda), que foi formada em 2007 numa junção de várias forças à esquerda dos socialistas do SPD — inclusive dissidentes destes últimos, que são o segundo maior partido da Alemanha. Além disso, estão lá antigos militantes do Partido do Socialismo Democrático (o sucessor do Partido Socialista Unido da Alemanha, a força política por detrás da ditadura da Alemanha de Leste).

Nas últimas eleições legislativas alemãs, em 2013, o Die Linke teve 8,2% dos votos. Conta com sete eurodeputados em Bruxelas e foi a fonte de inspiração do Bloco de Esquerda quando, em 2012, decidiu optar pela solução de dois porta-vozes, conhecida como a liderança bicéfala.