A audição a Hillary Clinton na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos durou onze horas e poucas novidades saíram dali, mas a candidata às presidenciais americanas do próximo ano, consciente de que não falava somente para os congressistas, aproveitou a sessão para dar a visão que tem do mundo e do papel do país no mundo. Ouviram-se-lhe frases como: “Aprendemos da forma mais dura que quando a América não está, especialmente em sítios instáveis, há consequências.”

A audição de Hillary, que foi secretária de Estado da Defesa do primeiro mandato de Barack Obama, surge no contexto de uma comissão parlamentar de inquérito ao ataque terrorista de Benghazi, na Líbia, em 2012, que vitimou quatro americanos, entre eles o embaixador dos Estados Unidos naquele país. Os republicanos aproveitaram a presença de Hillary para, na expressão do New York Times, “grelhá-la”, deixando logo de início claro que não ficaria nenhum pormenor por abordar na sessão, que já se sabia que ia ser longa. Para o Partido Republicano, o que aconteceu em Benghazi foi o resultado de incompetência dos serviços de segurança do país, encoberta por Hillary. O Partido Democrata rejeita esta tese, classificando-a como uma teoria da conspiração de que os republicanos querem tirar partido político. Quanto a Hillary Clinton, correu numa pista sozinha.

A questão dos e-mails enviados por Hillary através da sua conta pessoal enquanto tratava de assuntos de Estado voltou à baila. Uma representante republicana levou para a comissão dois grandes molhos de folhas com e-mails enviados pela secretária de Estado relativos a Benghazi em 2010 e 2011. Se no primeiro ano ouve perto de 800 comunicações, no segundo houve 67, o que serviu para sustentar o argumento de que Hillary se tinha desinteressado pela situação na Líbia de um ano para o outro. Outros republicanos fizeram dezenas de perguntas com base em e-mails específicos, mostrados nos ecrãs da sala. A agora candidata presidencial respondeu que o trabalho de secretária de Estado não consiste apenas em mandar e-mails. “Não fiz a larga maioria do meu trabalho por mail”, disse, lembrando a existência de encontros pessoais e de linhas telefónicas.

Durante a muito longa audição, Hillary manteve-se sempre dentro do guião que estabeleceu ao início, folheando incessantemente os muitos documentos que trazia, respondendo ora com calma ora com dureza às muitas perguntas que ouviu e até mesmo dando pequenos apontamentos cómicos às intervenções. Ainda assim, o ambiente geral das onze horas foi de tensão, com muitas insinuações da parte dos republicanos, muitas bocas de Hillary para os congressistas e mensagens políticas fortes. “Eu pensei mais no que aconteceu [em 2o12] do que vocês todos juntos. Perdi mais o sono do que vocês todos juntos”, atirou Clinton. 

No fim, nada mudou grandemente na investigação ao que aconteceu em Benghazi. O Congresso não apurou nenhum facto novo, mas mostrou uma grande divisão relativamente a Hillary. Se essa divisão é o espelho do que acontece nos Estados Unidos, só em 2016 se saberá. Onze horas de inquérito depois, Clinton saiu sem grandes sinais de cansaço. “O ioga ajuda”, riu-se.

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