O líder da oposição moçambicana, Afonso Dhlakama, que estava há quase dois meses em silêncio, disse que vai sair depois da quadra de Natal do lugar desconhecido onde se encontra e governar o centro e norte do país.

O presidente da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) realizou um discurso por telefone durante uma reunião da Liga da Juventude do seu partido realizada em Maputo no dia 30 de novembro, e cuja gravação foi difundida na imprensa moçambicana e redes sociais.

“Não vamos fazer a guerra, eu prometo, vamos passar bem as festas da quadra de Natal e a seguir vamos tomar posse”, disse Afonso Dhlakama, referindo-se à iniciativa do seu partido de governar nos círculos onde reclama vitória eleitoral, no centro e norte do país, através de um modelo de autarquias provinciais já rejeitado pela maioria da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) no parlamento.

No seu discurso de pouco mais de sete minutos, o líder da Renamo referiu-se justamente ao projeto de revisão pontual da Constituição, para acomodar as autarquias provinciais, e que naquele 30 de novembro recebeu parecer negativo das comissões especializadas do parlamento e foi formalmente chumbado em sessão plenária na segunda-feira.

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Apesar disso, Dhlakama disse que não vai recuar e que o seu partido tomará posse nas seis províncias que reivindica, como forma de ultrapassar o que alega ter sido uma fraude nas eleições gerais de 15 de outubro de 2014, ganhas oficialmente pela Frelimo.

“Se for preciso vamos tomar Maputo também”, ameaçou, numa referência à capital do país e fora da lista de territórios que o partido ambiciona governar.

Passam hoje dois meses desde que o líder da Renamo não é visto em público, após as forças de defesa e segurança cercarem a sua residência na Beira, a 09 de outubro, numa operação de recolha de armas em posse da guarda de Dhlakama.

Na mensagem à reunião da Liga da Juventude, o líder da oposição afirmou que “o perigo já passou” e justificou o seu prolongado silêncio.

“Estou a preparar-me para obrigar o Governo da Frelimo a cair de uma vez por todas”, declarou Dhlakama, voltando a apelar para o respeito do Acordo Geral de Paz, que selou em 1992 o fim da guerra civil em Moçambique, alegando que “se o Acordo de Roma está caducado, a democracia está caducada”.

Insistindo que não deseja a guerra, o líder do maior partido de oposição disse que o seu partido vai tomar o poder nas províncias do centro e norte “sem derramamento de sangue”, mas aconselhou as autoridades a não responderem ou “vão receber porrada” e que, se puserem blindados nas ruas, “a Renamo vai destruir tudo”.

Nenhuma informação sobre o paradeiro de Dhlakama foi confirmada ou desmentida pelo partido, que garante que seu líder “está muito bem de saúde e tem trabalhado para o enriquecimento da democracia no país”.

Entretanto o gabinete do líder da Renamo disse à Lusa que está a ser preparada uma conferência de imprensa de Dhlakama para breve, mas não é a primeira vez que este propósito é anunciado e sem concretização até ao momento.

A operação policial na Beira ocorreu um dia depois de o líder da oposição ter reaparecido na serra da Gorongosa, ao fim de duas semanas em parte incerta, na sequência de dois incidentes na província de Manica envolvendo a sua comitiva em Chibata (12 de setembro) e Zimpinga (25 de setembro), onde as autoridades dizem ter morrido 25 homens da Renamo.

Após o cerco da Beira, as forças de defesa e segurança iniciaram uma operação de recolha coerciva de armas em posse da Renamo, que acabou em confrontos em algumas regiões do país, mas entretanto suspensa pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, para dar espaço ao diálogo.

Afonso Dhlakama esteve igualmente em parte incerta durante 17 meses, depois de as forças estatais tomarem de assalto a base de Sadjundjira (Gorongosa) e o desalojarem a 21 de outubro de 2013, tendo reaparecido para a assinatura do Acordo de Cessação de Hostilidades Militares, a 05 de setembro de 2014, com o Presidente cessante, Armando Guebuza.