Exporta mais de 85% do que produz e viu o volume de negócios crescer 50% nos últimos três anos. Todos os anos, o grupo Tekever reserva cerca de cinco milhões de euros para apostar em Investigação & Desenvolvimento (I&D) e, este ano, o investimento chegou ao pódio da Cotec Portugal – Associação Empresarial para a Inovação. Juntamente com a Palbit, o grupo venceu o prémio PME Inovação COTEC, que visa distinguir as pequenas ou médias empresas que se tenham destacado no panorama nacional pelo seu cariz inovador.

Tekever e os 30 milhões em I&D sob gestão

Nasceu pelas mãos de um grupo de ex-alunos do Instituto Superior Técnico, em 2001, com o objetivo de desenvolver uma plataforma própria que integra tecnologias de mobilidade e de inteligência artificial para gerir fluxos de trabalho. Hoje, o grupo Tekever está em duas grandes áreas – a de tecnologias de informação e a divisão aeroespacial, de defesa e segurança. É esta equipa que é responsável pelo desenvolvimento do sistema mobile da EDP, o terceiro maior da Europa, e pela aplicação Mobizy, distinguida nos prémios World Summit Award, atribuídos pelas Nações Unidas, como a melhor app de negócios em 2015.

O que fazemos de diferente? Provavelmente, fazemos aquilo que costumamos dizer e, se calhar, é essa a diferença. A Tekever é um grupo, mas todas as nossas empresas são focadas no produto, em produtos de grande intensidade tecnológica. A grande diferença é que o nosso processo de desenvolvimento de produto começa com trabalho em investigação e desenvolvimento de tecnologia base, muito em parceria com universidades e institutos internacionais. Depois, ‘produtizamos’ essa tecnologia e levamo-la para o mercado. E quando se faz isto bem, vêem-se os resultados. Eu diria que a chave é fazer isto bem”, explicou ao Observador Ricardo Mendes, administrador da Tekever.

A Tekever é a empresa que está por detrás dos aviões não tripulados (drones) que vão ser utilizados para vigilância marítima dos países da União Europeia no Atlântico Norte e Mediterrâneo, no âmbito de um consórcio criado pela Agência Europeia de Segurança Marítima e pela Agência Espacial Europeia. Além disso, o grupo – que é composto por sete empresas – tem estado a apostar no setor das telecomunicações espaciais e na produção de nano e microssatélites. Emprega 120 colaboradores e tem subsidiárias no Reino Unido, Estados Unidos, Brasil e China.

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“Acho que esta distinção teve muito a ver com três fatores. Um é a cultura do grupo. De facto, todas as empresas têm este tipo de processos, que são bastante valorizados. Depois, contribuiu o facto de estarmos a trabalhar em tecnologia de ponta. Somos um dos principais agentes do mercado internacional de drones, estamos a fazer o primeiro satélite só com tecnologia portuguesa. E o terceiro ponto a favor é que conseguimos ter bons resultados com este foco na tecnologia. Temos um desempenho muito bom do ponto de vista financeiro. E isso também pesou”, acrescentou Ricardo Mendes.

As estimativas para este ano apontam para que o grupo volte a crescer na casa dos dois dígitos. A Tekever tem apostado em diversas parcerias de desenvolvimento tecnológico com entidades como o Exército, a Marinha, a Guarda Nacional Republicana ou a Polícia de Segurança Pública. Exemplo: um dos drones do grupo foi testado no Kosovo, numa missão real da NATO, que terminou em outubro. Recentemente, a empresa apresentou um novo projeto, o Brainflight, que permite controlar drones com a mente.

Ricardo Mendes explica que o processo não é fácil. Pelo meio, há obstáculos que têm de ser ultrapassados. E o financiamento (ou falta dele) é o primeiro. “Contar com fundos internacionais é importante, mas obviamente que Portugal tem fundos bastante limitados. Por vezes, é difícil fazer I&D já com algum volume a partir de Portugal, porque os fundos estão bastante dispersos”, disse. De qualquer forma, o mercado português tem servido como teste para a empresa. Transformaram a dificuldade em mais-valia.

“O nosso mercado é um mercado pequeno, o que é uma dificuldade, porque não pode ser o nosso mercado base. Por outro lado, é uma vantagem. Utilizamos Portugal como laboratório para testar os nossos produtos. É isso que fazemos, por exemplo, na área dos drones”, explicou.

Com cerca de 30 milhões de euros em I&D sob gestão, o grupo Tekever tem vindo a crescer sem recorrer a financiamento externo. “Há pouco dinheiro em Portugal para investimento. Por outro lado, tem grandes vantagens: tem muito talento, escolas fantásticas, condições excelentes ao nível de segurança, de visa. E isso é importante para reter pessoas com grande qualidade”, adiantou Ricardo Mendes.

Palbit e as ferramentas de corte que voam para mais de 50 países

O outro exemplo líder de inovação é a Palbit, que atua no desenvolvimento, produção e comercialização de ferramentas industriais de elevada performance, executadas, por sua vez, em metal duro e aço. Apesar de ser recente – nasceu em 2004 – tem raízes no início do século XX, quando em 1916 assegurava a concessão da exploração das Minas de Galena do Palhal, no concelho de Albergaria-a-Velha.

Vinte e cinco anos depois, a empresa foi adquirida pelo grupo Sapec e, em 1952, passou a produzir peças e ferramentas de corte. Hoje, atua em três áreas de negócio (ferramentas de corte, anti desgaste e ferramentas para pedreiras), está presente em cinco continentes e exporta mais de 80% daquilo que produz para mais de 50 países. O enfoque está, sobretudo, no mercado europeu.

Com 93% do capital da empresa em mãos de acionistas portugueses e 7% nas mãos de um acionista sueco, a produção de ferramentas de corte gera 80% do volume de negócio da Palbit, que em 2014 registou um volume de negócios de cerca de 11,9 milhões de euros.