Tudo Mudou, novamente” com Nuno Machado Lopes. O homem que fez nascer a sala de espetáculos Paradise Garage, a editora independente Out There Records e aquele que já foi distinguido como o melhor rooftop bar do mundo, o Silk, em Lisboa, lança um livro que introduz termos como “obsessão”, “idolatração” ou “o absurdo mundo das startups” no ecossistema. São 400 páginas editadas pela Chiado Editora que chegam às bancas nesta quarta-feira.

Professor na Universidade Lusíada e responsável de marketing na Beta-i, associação para promoção do empreendedorismo, Nuno Machado Lopes contou ao Observador que houve dois motivos que o levaram a escrever o “Tudo Mudou, novamente”: a necessidade de refletir sobre porque é que tantas startups fracassam e de explicar o que está mesmo em causa quando se lança uma empresa. Nos últimos dois anos, foi mentor de cerca de 150 projetos.

“À medida que ia trabalhando com startups, ia percebendo que havia falta de informação e que isso tinha muito a ver com o diálogo que existe e que está muito unilateral. Fala-se de valorizações, de unicórnios em todo o lado. É tudo positivo, um mundo de grandes oportunidades, do sonho americano. Mas que, na verdade, fala muito pouco sobre o que é ser empreendedor e sobre o que os empreendedores enfrentam”, explica.

Nuno Machado Lopes licenciou-se na Universidade de Londres e, durante dois anos, trabalhou na bolsa londrina. Regressou a Portugal para dar início a projetos seus, em 2006. No livro “Tudo Mudou, novamente” – que também é o nome do blogue que lançou em 2006 – quer que os leitores entendam que “há outras formas de construir empresas”, que não passam pela “obsessão” com o crescimento, importado de Silicon Valley.

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Do vale-mãe de empresas como a Apple, Google, Facebook ou Uber, o autor considera que se deve retirar a melhor parte, como os programas de aceleração, e optar pela concentração nas pequenas e médias empresas (PME). “E ajudar os empreendedores que estão há sete anos numa crise profunda”, afirma.

“Silicon Valley está feito para os poucos que vencem e já conhecemos as consequências que estão a surgir: a desigualdade social, os altos níveis de desemprego. A verdade é que se fala muito de investimento e a ideia é sempre a de aumentar emprego, mas a tecnologia destrói emprego. Aumenta ordenados, mas não resolve o desemprego”, explicou Nuno Machado Lopes.

Nas críticas à “obsessão por Silicon Valley”, há destaque para a cultura que celebra o fracasso, que Nuno Machado Lopes considera um erro. “É possível aprender com os erros dos outros. Fracassar traz vários danos psicológicos e financeiros. Os empreendedores, em vez de estarem preocupados em criar emprego e ter sustentabilidade nas receitas, estão a tentar aumentar ao máximo o número de utilizadores”, explica. E é sobre isso que pretende refletir.

No livro, o autor também denuncia a forma como se tem celebrado o investimento – outro conceito que diz ser importado dos Estados Unidos. “Muito deste investimento não é alavancado por mecanismos de financiamento público. E, por isso, não é sustentado. Logo, não deve ser celebrado dessa forma. O objetivo de uma startup não deve ser chegar a unicórnio“, adianta.

Como alternativa, o autor refere que os portugueses devem estar mais focados em compreenderem o que querem fazer do que em perseguirem o “sonho americano”. Devem questionar-se porque estão a criar uma empresa e identificar quais são os objetivos.

“Grande parte dos fundadores procura ter um equilíbrio ente a vida profissional e a pessoal. Não serem escravos da sua empresa – e isso não é possível num modelo destes. Porque quando entra investimento, os objetivos passam por obter retorno para os investidores. Já não tem a ver com a qualidade do produto, com a relação criada com o cliente ou com a cultura da empresa”, diz.

O lançamento do “Tudo Mudou, novamente” está marcado para quarta-feira, 27 de janeiro, às 18h00, no Silk, em Lisboa.