A certeza é a do costume: sabe-se pouco mas tudo importa. Trata-se de Bob Dylan, o maior e mais importante dos heróis americanos, que insiste em dar-nos novas gravações desafiantes ao mesmo tempo que vai revelando um arquivo infinito, vindo que quem já julgávamos ter ouvido tudo. Ainda não há data de lançamento para o novo disco, ainda não há lista de canções. Há o pouco que aqui recapitulamos, depois de All Schmitt, companheiro de Dylan em estúdio, ter avançado algumas pistas à revista americana “Billboard”.

Onde está Dylan a gravar? Dylan está a gravar nos estúdios da Capitol, espaço que guarda lendas em cada recanto, que continua bem no centro de Hollywood, como mais uma estrela da terra. Foi uma das casas do próprio Sinatra. Este outro senhor, o cavalheiro Bob, não costuma fazer nada por acaso e a escolha da sala também não deve ter acontecido só porque sim. É verdade, não está confirmado que depois de “Shadows in the Night” venha mais um disco que recupera clássicos tornados populares por Sinatra. Mas também não veio ninguém dizer o contrário. Já agora, recordemos a efeméride: neste 2016 passam 60 anos desde que o famoso edifício da Capitol Records foi inaugurado há 60 anos. Dylan está a gravar no estúdio B. Em conjunto com o estúdio A as duas salas permitem a gravação simultânea de 75 músicos. O músico, no entanto, deve estar a seguir outro método, até porque quando gravou “Shadows in the Night” fê-lo com uma banda de cinco e ao vivo.

[veja Bob Dylan ao vivo no Late Show de David Letterman, no ano passado]

Quem sabe o que se passa? Se alguém tem todos os segredos na mão é certamente o engenheiro de som Al Schmitt. Mas porque sabe controlar o acesso à informação, terá tido a bênção necessária para se dirigir à Billboard e contar algumas (poucas) das coisas que acontecem com Bob Dylan por estes dias. “Está tudo a correr muito bem. Ele está ótimo, com um com incrível. Está com um espírito fabuloso no estúdio. Estamos a passar bons momentos. Somos como dois sapatos sempre juntos e estamos muito confortáveis com isso.” Não é muito mas chega para confirmar a novidade que interessa. Até porque não estava ninguém à espera que tudo fosse revelado com tanta antecedência, pois não?

Que canções são estas? Para já está confirmado que Dylan está a trabalhar sobre standards. “Mas não foi isso que ele fez no ano passado quando lançou ‘Shadows in the Night’?” Foi, e então? O que quer, quando quer, são mais ou menos estas as duas regras que lhe orientam o trabalho. No disco do ano passado, entre a pop americana da primeira metade do século XX e o jazz, Bob Dylan pegou em clássicos e cantou-os à sua maneira, mais ou menos como fez Frank Sinatra – e foi a Sinatra que foi buscar as canções que incluiu no álbum. Outra vez o Great American Songbook pelas manias de Dylan, como se a América se cantasse a ela própria.

Quem é que está a produzir? Bob Dylan produz Bob Dylan. Não é de agora nem a coisa deve ficar por aqui, assine ele com o próprio nome ou como Jack Frost, pseudónimo que também lhe cai bem. Foi o que fez em “Shadows in the Night”, “Tempest” e “Christmas in the Heart” e não quem lhe aponte mácula alguma ao trabalho. “Ele é extraordinariamente esperto”, acrescentou Schmitt ao relatório controlado que fez sobre o que acontece por estes dias em estúdio. “Está concentrado em tudo o que está a acontecer, sabe o que se passa em cada momento.” Ray Charles, Paul McCartney, Quincy Jones, Henri Mancini ou Steely Dan. Schmitt já trabalhou com esta gente toda e mais ainda. Vai com 85 anos e mais de 20 prémios Grammy no currículo. Já vimos pior.

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