A Câmara Municipal de Lisboa tem sido um dos grandes centros de recrutamento para gabinetes governamentais. De lá vieram seis secretários de Estado do Executivo de António Costa, mas a conta não ficou por aqui e a contratação nos Paços do Concelho continuou quando se formaram cada um dos gabinetes dos ministérios e das secretarias de Estado (ver cada caso em baixo). Entre os despachos já publicados no site oficial do governo, contam-se 18 pessoas vindas do universo camarário.

Até agora, foi o Ministério da Presidência e da Modernização Administrativa que mais recrutou em Lisboa. Destas pessoas identificadas pelo Observador nos despachos, sete estão sob a alçada de Maria Manuel Leitão Marques, a maioria com a secretária de Estado Adjunta e da Modernização Administrativa. Aliás, Graça Fonseca é, ela mesma, uma das governantes que trabalhou com António Costa na Câmara Municipal, precisamente como vereadora da Modernização Administrativa. Renunciou ao mandato assumido em 2009 para tomar posse como deputada, mas não chegou a ter tempo para aquecer a cadeira no parlamento e seguiu para o governo socialista. É o Ministério onde, até agora, mais se contam nomes vindos da CML, com o gabinete a dizer que “é verdade que são pessoas que vieram da Câmara”, mas a garantir que o critério foi o de já existir um histórico de colaboração entre a maioria das pessoas e as governantes (ministra e secretária de Estado da Modernização).

O Ministério da Cultura é outro posto do governo onde cheira a Lisboa. João Soares foi presidente da Câmara e foi a esses tempos (mas não só) recrutar para o seu gabinete no Palácio da Ajuda. Mas também há resquícios do universo municipal lisboeta no Ministério dos Negócios Estrangeiros, no Ministério das Finanças e, claro, no gabinete do primeiro-ministro. O apelido Soares esteve recentemente no epicentro de uma polémica que envolve uma contratação para a CML, com o Público a noticiar que o filho do ministro, Mário Barroso Soares, fora contratado por dois para prestar funções de assessoria no gabinete da vereadora da Educação da Câmara de Lisboa. João Soares utilizou as redes sociais para negar ter tido “a menor interferência nesse processo de contratação. Quando escrevo a menor, quero dizer nenhuma”.

A presença forte da CML no governo fez-se sentir ainda antes da composição dos gabinetes. Logo na composição do governo surgiram, além de Graça Fonseca, o secretário de Estado para o Desenvolvimento, Nelson Souza, que era diretor municipal das Finanças, e também José Wengorovius Meneses, para a secretaria de Estado do Desporto, vindo do Centro de Inovação da Mouraria. Mas há mais: Ana Sofia Antunes, que também passou pela autarquia entre 2012 e 2013, é a secretária de Estado da Inclusão. Há também João Vasconcelos, o secretário de Estado da Inovação que esteve à frente da Startup Lisboa, a incubadora de empresas criada numa parceria autárquica da era Costa.

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Secretaria de Estado da Modernização Administrativa

Graça Fonseca foi buscar três pessoas à CML, a começar pela chefe de gabinete Ângela Ferreira, que já estava na autarquia desde 1999 e era atualmente diretora do Departamento de Projetos Estruturantes da Direção Municipal de Urbanismo. Para sua adjunta, Graça Fonseca levou Rute Machado, que era assessora do vereador que tinha o pelouro da Educação, economia e inovação. O gabinete da Modernização administrativa argumenta que antes da CML, Rute Machado tinha trabalhado João Tiago Silveira, no anterior governo do PS, como técnica especialista na área da simplificação administrativa. “Foi essa experiência que dominou” no momento do recrutamento, diz fonte oficial. O terceiro elemento é a sua secretária nos Paços do Concelho, que também foi para a rua Gomes Teixeira, na Lapa, onde se instala a Secretaria de Estado.

Ministra da Presidência

Maria Manuel Leitão Marques foi também buscar uma chefe de gabinete à CML: Mariana Rafeiro, que foi assessora do vereador do urbanismo entre 2011 e 2015. E ainda levou do mesmo gabinete João Farinha (ex-assessor do vereador de urbanismo) para seu Adjunto. O gabinete esclarece que no caso de Mariana Rafeiro, “não só trabalhavam há anos, tendo a chefe de gabinete sido técnica jurídica quando a ministra foi secretária de Estado” nesta área, no último governo socialista, como desde então “têm feito conferências e dado aulas juntas e já publicaram um livro juntas”. No caso de João Farinha, nunca tinha trabalhado com a ministra, mas foi aconselhado por Mariana Rafeiro que conhecia o seu trabalho na “gestão de projetos da Câmara”

Ministério da Cultura

O chefe de gabinete do ministro, José Tomás Vasques, estava exatamente na mesma função nos tempos de João Soares na autarquia, entre 1996 e 2001. Rui Nereu, atualmente adjunto do ministro deixou para trás a assessoria do Conselho de Administração da EGEAC (a empresa municipal de animação cultural) e, no mandato de João Soares, tinha sido assessor de comunicação da CML. Diretamente do quadro da câmara para o Ministério da Cultura foram Francisca Assis Teixeira (passou de técnica superior de primeira classe na câmara para técnica especialista do ministro) e ainda Filomena Conceição, que é a secretária de João Soares, como já o fora na CML. Mais recentemente estava na autarquia como secretária da direção municipal de Cultura.

Ministério das Finanças

André Caldas, 33 anos, presidente da Junta de Freguesia de Alvalade, dentista, jurista e um dos preferidos de António Costa – teve um resultado eleitoral de relevo, roubando a autarquia ao PSD -, foi o escolhido para estar no olho do furacão: na chefia do gabinete do ministro das Finanças.

Ministério dos Negócios Estrangeiros

Augusto Santos Silva chamou para o seu gabinete Anna Elisabet Bergström de Sousa Pinto. O apelido é familiar para os socialistas, é ex-mulher de Sérgio Sousa Pinto, de acordo com o livro “Os predadores”, da autoria do jornalista Vítor Matos. Desde 2009 que era assessora internacional do presidente da Câmara de Lisboa.

Primeiro-ministro

Patrícia Melo e Castro é adjunta de António Costa, no gabinete do primeiro-ministro. Durante todo o tempo do mandato de Costa na autarquia (2007-2015) “exerceu funções de assessora no Gabinete do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa”, de acordo com o currículo disponibilizado no despacho, publicado em Diário da República, assinado pelo primeiro-ministro. Começou a carreira como advogada e, entre 1999 e 2002, foi consultora jurídica do Secretário de Estado da Justiça, Diogo Lacerda Machado. É cunhada de Ana Catarina Mendes, a secretária-geral do PS adjunta de Costa, de acordo com o livro já citado.