O administrador de Gorongosa, centro de Moçambique, desmentiu a existência de uma vala comum no distrito, contrariando o relato de um grupo de camponeses que asseguraram à Lusa terem observado dezenas de corpos depositados no local.

Num comunicado citado pela Agência de Informação de Moçambique (AIM), Manuel Jamaca afirma que uma equipa do governo distrital foi enviada ao local, na zona 76, posto administrativo de Canda, mas não encontrou a referida vala comum, que, segundo os camponeses, terá mais de 100 cadáveres.

A zona é descrita como de difícil acesso e de risco elevado, dada a presença de militares no contexto da atual crise militar que opõe as forças do Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido de oposição.

A polícia de Sofala anunciou esta sexta-feira que vai iniciar uma investigação para apurar a veracidade da denúncia da descoberta da vala comum.

Daniel Macuacua, porta-voz da Polícia de Sofala, informou que “um trabalho de interação” entre o comando provincial da PRM (Polícia da Republica de Moçambique) e distrital da Gorongosa estava em curso para apurar a veracidade da descoberta de uma vala comum por um grupo de camponeses.

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Segundo o relato dos agricultores, a vala foi descoberta numa área utilizada para a extração de areia para a reabilitação da N1, a principal estrada de Moçambique, num lugar próximo de uma mina de extração ilegal de ouro, entretanto abandonada devido à escalada da violência militar na região.

“A vala tem cerca de 120 corpos, uns já em ossadas e outros ainda em decomposição”, disse à Lusa um dos camponeses, sem precisar se os corpos tinham marcas de balas, suspeitando apenas que foram descarregados por viaturas devido a sinais de manobras no local.

Apesar de não haver qualquer indício que relacione esta vala com a atual crise militar em Moçambique, um outro camponês que esteve no local lembrou a onda de perseguição e execuções por razões políticas e que a região tem sido palco de combates entre a ala militar da Renamo e as forças governamentais.

“Não há vestígios militares visíveis e alguns corpos estão sem roupas”, descreveu um camponês.

A Renamo e as forças do Governo mantêm confrontos no centro do país desde 2013, com especial incidência na região da Gorongosa, onde se presume encontrar-se o líder da oposição, Afonso Dhlakama.

No contexto desta crise, que se agravou nos últimos meses, há vários registos de confrontos militares entre as partes mas nenhuma informação nem imagens sobre as respetivas baixas.

Em declarações na quinta-feira à Lusa, o administrador da Gorongosa não confirmou nem desmentiu a descoberta da vala, apelando ao grupo dos camponeses para contactarem as autoridades para ajudar na investigação deste caso.