Com 17 anos, Tiago Vidal não pensava apenas em futebol, saídas à noite e exames do secundário. Tinha vontade de fazer uma coisa diferente: “Ir a uma conferência que tivesse oradores com 20 e poucos anos, e perceber como é que era possível que jovens dessa idade tivessem tanto sucesso”. Como, na altura, “não existia nada do género” em Portugal, decidiu pôr mãos à obra. E começou, com essa idade, a organizar a Go Youth Conference, uma conferência de empreendedorismo dedicada a jovens, que este sábado arranca para a quinta edição. Só o conseguiu “pela persistência. Tentando, enviando muitos e-mails“. Até porque, diz, “ouvi muitos nãos, alguns que, com o tempo, passaram a sins”.

Pensei em como é que alguém em Portugal poderia fazer uma coisa desse género. Reuni uma equipa de amigos e fizemos a primeira edição teste. Foi essa a ideia principal, [porque] cá não existia nada do género. Havia dois ou três TEDx, estavam a começar a surgir, mas não havia nada focado nos jovens, que era o meu objetivo”, recorda.

Nessa primeira edição, a Go Youth Conference “só recebeu umas 80 pessoas, no máximo”. Teve a presença de “alguns oradores portugueses”, nenhum internacional. Tiago Vidal diz que gostou de a fazer, mas que ficou “um bocado frustrado”. “Achava que, com mais tempo e mais organização, podia fazer um evento mais a sério, melhor”, explica. Se o quis, melhor o fez: quatro anos volvidos, a Go Youth Conference tornou-se num dos principais eventos de empreendedorismo do país e espera receber, este fim de semana, “à volta de 500 pessoas”: cinco vezes mais do que há quatro anos.

Oradores internacionais não faltarão: do fundador da Siri (empresa adquirida pela Apple), Adam Cheyer, ao responsável pela comunicação interna da Soundcloud, David Noel, passando por dois jovens empreendedores europeus, Roland Grenke e Bastian Knutzen, cofundadores da Dubmash e Movinga (respetivamente) e responsáveis por uma das maiores rondas de investimento feitas na Europa, em 2015. Ou ainda Dan Price, o fundador e líder executivo da Gravity Payments que ficou conhecido por aumentar o salário mínimo na sua empresa (que emprega 120 pessoas) para os 62.2150 euros anuais, mais de quatro mil euros por mês, fazendo a conta a 14 meses, e que foi difícil de convencer.

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Foi muito complicado, com ele [Dan Price] e com o assistente dele foram mais de 150 e-mails [trocados], para trás e para a frente, até o conseguir convencer a vir. Até houve alguns contratempos, pensámos que já não vinha”, confessa.

O mais difícil? “Conseguir apoios de patrocínios”

O trabalho de pôr em pé um projeto destes até pode não lhe ter deixado uns precoces cabelos brancos, mas dos nervos Tiago Vidal não se livrou. “Na primeira edição o meu pai levou-me de carro, no primeiro dia da conferência. Estava super nervoso. [Mas] agora é muito pior. Estou muito mais nervoso do que na primeira conferência. Agora [a Go Youth] é uma coisa muito maior, tenho responsabilidades perante os patrocinadores [aos patrocinadores anteriores — Explorer Investments, Schneider Electric e Color Elephant — juntaram-se, este ano, a EY, a Jerónimo Martins e a OLX]. Quando comecei não tinha essa preocupação”, explica.

Se, com o crescimento da conferência, veio o aumento da responsabilidade, com esta chegou outra coisa: a dificuldade em conciliar o projeto e os estudos. “Nestas duas edições [2015 e 2016] foi uma loucura nisso, sobretudo este ano está a ser uma loucura. Tira-me imenso tempo, não há outra maneira” de o fazer, diz Tiago Vidal, que está neste momento a finalizar uma licenciatura em Gestão, pela Universidade Católica Portuguesa (UCP). Mas o mais difícil nem é o tempo despendido, mas a dificuldade em obter patrocínios:

No início, conseguir apoios de patrocínios era muito complicado. Ainda continua a ser. Já se consegue [melhor] este ano, porque já se leva uns anos a fazer estes eventos. [As empresas] conseguem ver [isso] e perceber o que é [a conferência], acham mais interessante estarem envolvidas. A parte de convencer os oradores, sendo difícil, é [mesmo assim] mais fácil do que esta. Muitas empresas, quando temos precisado de um serviço qualquer, também não se têm mostrado muito recetivas”, diz.

Para ultrapassar estas dificuldades, não há uma fórmula mágica de sucesso, defende. Até porque, “se a principal característica que é preciso ter é a persistência, [é] não desistir ao primeiro não”, também “há alturas em que é preciso” fazê-lo. Tudo depende da viabilidade dos projetos, considera. Ainda que acredite que, para chegar a bom porto, seja “sempre preciso ser racional, persistente e ter força de vontade”.

Ameaçado pela Web Summit? “Não é um problema”

Já sobre o futuro da Go Youth Conference, o jovem empreendedor português não se compromete. Em dezembro de 2015, afirmava à revista Exame, do Expresso, que havia a possibilidade de a conferência ser “integrada num evento maior”, como a Web Summit, que, com uma dimensão muito superior, chega este ano a Portugal, e que tem “pequenas summits, pelo que seria [poderia ser] interessante incluir a Go Youth Summit, por exemplo”. Ao Observador, Tiago Vidal afirma que não há novidades sobre o assunto:

Neste momento [ainda] não houve [contactos] e não tenho grande seguimento disso. [Mas] continua a ser uma possibilidade não continuar.”

Certo é que a vinda da Web Summit (o maior evento de empreendedorismo, inovação e tecnologia da Europa) para Portugal, nos próximos três anos (2016, 2017 e 2018), dificilmente não afetará a dinâmica empreendedora da capital portuguesa. Tiago Vidal diz que não se sente ameaçado pela conferência. “Não é um problema”, antes pelo contrário, diz: “A vinda da Web Summit é positiva, vai ser ótimo. Dirige-se a um target [público-alvo] diferente. [A Go Youth Conference dirige-se] mais a estudantes, mais a jovens”.

Há coisas que a Web Summit oferece e que é impossível oferecermos, [mas também] há coisas que nós oferecemos que eles não conseguem oferecer. É uma conferência mais intimista, com mais contacto direto entre oradores e participantes. (…) É sempre muito informal, e isso é das coisas que as pessoas gostam mais, não há separação nenhuma” entre oradores e participantes, diz, dando o exemplo das sessões Pitch the Master, onde os participantes poderão agendar reuniões de 10 minutos com um orador à sua escolha.

Futuro: lançar empresa tecnológica ou trabalhar em capital de risco

O evento contará ainda com a “Portugal Showcase”, uma feira onde sete startups nacionais — a Wime, a Agroop, a Chic by Choice, a Vertty, a Science4you, a Sleeklab (que “vai fazer uma demonstração de drones“) e a Freakloset — vão mostrar os seus produtos. A ideia é promover as empresas nacionais, podendo inspirar jovens que tenham o desejo de se tornar empreendedores. Até porque “a Go Youth é para todos” e porque, na hora de escolher duas referências na área do empreendedorismo, Tiago Vidal opta por dois empreendedores nacionais: Miguel Santo Amaro, fundador da Uniplaces, e Cristina Fonseca, fundadora da Talkdesk.

Para o futuro, o único objetivo já definido por Tiago Vidal é concluir a licenciatura. Depois, pensa em duas possibilidades: lançar uma empresa na área tecnológica ou trabalhar em capital de risco (área em que já trabalhou, visto que já fez um estágio em Londres, na sociedade de capital de risco Index Ventures). “Será uma das duas [possibilidades]. Mas ainda não pensei muito nisso”, atira.