“Desliguem o flash. As vossas fotografias vão ficar muito melhores sem flash. Confirmem que o flash está desligado.” O espetáculo ainda não tinha começado, mas já se ouvia o sermão. “Extensive video projection, no flash, enjoy the show.” A voz-off fazia prever que a chegada do trio estaria por minutos, mas às 20h30 a lotação esgotada da bilheteira ainda não estava por ali.

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Mais de meia hora depois, pouco passava da hora prevista (21h) para o início do primeiro concerto da Drones World Tour em Lisboa (o segundo é esta terça-feira), o público começa a ficar impaciente. E começa a criar ondas. Literalmente. Dispostos à volta do palco instalado no centro da arena, os devotos começam a desenhar ondas gigantes com os braços e os assobios multiplicam-se. Instantes depois as luzes descem e o espetáculo arranca.

Há por ali drones sim senhor, ou assim parecem as esferas penduradas no topo do pavilhão, ao mesmo tempo que as palavras que contam a história do álbum conceptual com o mesmo nome desfilam por cima do palco. A luz metálica e azulada dá o tom que é preciso, ouve-se um cântico religioso (um trecho de Missa Papae Marcelli, que faz parte da canção Drones), lê-se “Amen”. Matthew Bellamy, Christopher Wolstenholme e Dominic Howard sobem ao palco e os fãs ficam oficialmente em delírio.

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A digressão apresenta o sétimo álbum de estúdio dos britânicos e as primeiras canções que tocaram — “Psycho”, “Reapers” e “Dead Inside” — servem de amostra perfeita para o que o disco mostra e para o habitual rock espacial e virtuoso que esta rapaziada faz desde que se estrearam em disco em 1999 com Showbiz. E em palco asseguram uma prestação em jeito de competição “eu toco mais do que tu”: Bellamy dedilha a guitarra como se não houvesse amanhã, Wolstenholme não lhe fica atrás no baixo e os braços de Howard parecem robóticos. O costume, afinal.

muse, meo arena,

Primeiro tudo é azul e roxo, depois é vermelho e laranja. Importa mudar e surpreender, este é um concerto de rock mas também é um circo visual. Era isso que estava prometido e a produção que acompanha os Muse não desiludiu, bem pelo contrário. A multidão vai atrás e só regressa à realidade para gravar um vídeo, tirar uma fotografia ou espreitar o Benfica-Braga.

O palco quase faz uns 360º perfeitos e permite o passeio desenfreado do líder Matt Bellamy — que depois de uma fratura no dedo do pé, parece disposto a mostrar que está totalmente recuperado. Há guitarras e drones a sobrevoar e filmar a plateia, luz e som (mesmo que este último esteja longe do que poderíamos esperar) para assegurar uma sobrecarga de informação. A vontade da banda é clara: não deixar espaço para qualquer outra ideia que roube a atenção de quem os vê. E tudo parece estar a correr como planeado.

muse, meo arena,

“Starlight”, “Time is running out”, “Uprising”, não falta nenhuma canção naquele cardápio de temas favoritos e obrigatórios. Os sentidos parecem meio atropelados mas aconteceu tudo com gosto e não há quem desista de mostrar que está ali enquanto houver caminho pela frente. E mesmo no final, por mais uns minutos, ainda há tempo para “Knights Of Cydonia”, a canção que costuma encerrar os concertos do grupo. Empresta-se a voz a mais um coro, as pernas a mais uma dança e aquele aplauso final, de pé. Estávamos capazes de apostar que, mesmo com tanta informação a ser processada ao mesmo tempo, haverá repetentes na segunda noite de Muse em Lisboa, esta terça-feira.