O académico suíço Tariq Ramandan considerou hoje que África é “uma bomba-relógio” e defendeu que a segurança mundial necessita de um continente africano “mais estável”, criticando a comunidade internacional por ignorar os conflitos naquela região.

“Não haverá segurança sem um continente africano mais estável”, sustentou, em declarações à Lusa, o professor de Estudos Islâmicos Contemporâneos da Universidade de Oxford, em Lisboa, onde participou na segunda edição das Conferências de Lisboa.

África assiste a lutas entre tribos e clãs e a atentados terroristas, mas a comunidade internacional “não se importa porque pensa que não tem importância geoestratégica”.

No entanto, avisa, economicamente, o peso “é enorme”.

“É preciso olhar para regiões muito importantes no norte do Níger, norte da Nigéria, norte do Mali, onde há petróleo e urânio. Devíamos parar de nos preocupar apenas com o que está sob o solo, mas com o que está acima”, considerou.

O académico suíço de origem egípcia lamentou que, de uma forma disfarçada, haja um “racismo normalizado” no discurso, em que “as vidas de determinadas pessoas têm mais valor que as vidas de outras”.

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“Não nos preocupamos com os africanos. Distinguimos entre refugiados económicos, refugiados de guerra e refugiados políticos. Aceitamos estes, estamos a lidar com os de guerra, e os económicos são criminalizados”, criticou Ramandan.

“Estamos a instrumentalizar os direitos humanos dependendo da nossa agenda, mas não estamos a pensar nos seres humanos”, salientou.

Tariq Ramandan foi um dos mais de 30 oradores que, durante dois dias, participaram na segunda edição das Conferências de Lisboa, subordinada ao tema “A globalização do desenvolvimento”, na Fundação Calouste Gulbenkian.

Os encontros, bienais, são uma iniciativa conjunta da Gulbenkian, Câmara Municipal de Lisboa, Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Fundação Portugal-África, ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), Sofid e Instituto Marquês de Valle Flôr.