O antigo Presidente da República, Jorge Sampaio, respondeu, este sábado, a Durão Barroso, afirmando que “não cabe ao Presidente autorizar ou deixar de autorizar atos de política externa”, desmentindo o ex-primeiro-ministro, que em entrevista à SIC e ao Expresso, disse que Sampaio concordou com a Cimeira das Lajes. Um dia depois, em resposta ao Diário de Notícias, Sampaio reitera que tinha uma visão divergente da de Durão Barroso relativamente à questão do Iraque e que concordou com a Cimeira por lhe ter sido transmitido que era uma cimeira para a paz.
A primeira resposta de Jorge Sampaio a Durão Barroso surgiu em forma de artigo de opinião no jornal Público este sábado, precisamente no dia em que a SIC e o Expresso divulgaram a entrevista ao antigo primeiro-ministro, Durão Barroso.
Confrontado sobre a invasão do Iraque, decisão saída da Cimeira das Lajes, Durão Barroso admitiu que, na altura, era favorável por causa dos argumentos e documentos que lhe apresentaram, entre eles a existência de armas de destruição maciça. Durão Barroso admitiu que se fosse hoje, “não teria tomado a mesma decisão”. Mas, afirma que falou com Sampaio e que este concordara, assim como o parlamento.
No Público, com o título “Iraque, evocações presidenciais”, Jorge Sampaio começou por referir que “costuma dizer-se que a memória é seletiva e que os relatos históricos são reconstruções narrativas”, para depois sublinhar que “as chamadas fontes em história permitem colmatar lacunas e reconstituir factos passados”. Ao longo do artigo, Sampaio acabaria por desmentir as afirmações de Barroso.
Este domingo, o Diário de Notícias voltou ao tema, perguntando diretamente a Jorge Sampaio se tinha ou não concordado com a Cimeira das Lajes, ocorrida a 16 de março de 2003. Jorge Sampaio respondeu que foi contactado dois dias antes da realização da cimeira, numa reunião de urgência, e que o argumento de Durão Barroso era de “de que se tratava da derradeira tentativa para a paz e para evitar a guerra no Iraque“. Pelo que Sampaio anuiu. Foi também isso que Durão Barroso disse aos portugueses, a 15 de março, em direto na televisão: “a Cimeira dos Açores não resultará em nenhuma declaração de guerra, isso posso garantir.” Afinal acabou por decidir-se pela invasão do Iraque. O que aconteceu três dias depois do encontro internacional nos Açores.
O antigo chefe de Estado lembra que desde “o primeiro momento em que a questão do Iraque surgiu na agenda nacional, no início de setembro de 2002” ficou “claro” que os dois tinham pontos de vista diferentes. Como Presidente da República, Jorge Sampaio, não podia fazer muito quanto à condução da política externa do País — que cabe ao Governo — mas acabou por marcar a sua posição opondo-se ao envio de tropas para o Iraque. E fê-lo enquanto “comandante supremo das Forças Armadas”.
(Artigo atualizado às 10h20 do dia 8 de maio de 2016)