Está preso em Pinheiro da Cruz por vários crimes de burla e de extorsão, mas conseguiu que um guarda prisional lhe vendesse um smartphone com pacote de dados. E a partir daqui, Allan Shariff teve acesso ao mundo. O luso-americano que ficou conhecido por tentar assaltar um banco em Miami por telefone, telefonou para várias empresas e lojas a oferecer um serviço informático financeiro, conseguindo assim aceder ao sistema e fazer transferências bancárias para si próprio. Conseguiu amealhar, pelo menos, 30 mil euros.

A Polícia Judiciária chegou a ele depois de uma dessas empresas se ter queixado de que estaria a ser burlada. Uma investigação da Diretoria de Lisboa acabaria por identificar a origem da burla: um telemóvel na cadeia de Pinheiro da Cruz. Os inspetores foram conduzidos ao luso-americano Allan Shariff, já com um historial de crimes de burla e extorsão.

Com ele, identificaram um cúmplice: um guarda prisional de 42 anos que foi detido na quarta-feira. Este guarda receberia quantias em dinheiro do recluso para o encobrir. E fechar aos olhos à atividade criminosa que desenvolvia entre grades. Foi detido por crimes de burla informática, acesso ilegítimo e corrupção.

Esta não foi a primeira vez que Allan Shariff, já preso, se dedicou a cometer crimes na prisão. Em 2013, quando foi libertado por excesso de prisão preventiva, só teve alguns dias para gozar a liberdade. Acabaria detido também pela PJ por suspeitas de corrupção e burla qualificada — crimes que teria cometido quatro anos antes na prisão onde se encontrava. Também nesse caso o processo envolvia um funcionário da cadeia, entretanto constituído arguido.

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Neste caso recente, Allan Shariff tinha uma rede de contactos cá fora, alguns seriam familiares, para quem transferia parte do dinheiro burlado às empresas — o que conseguia com uma forte “engenharia social”, como descreve a PJ, ou seja, convencendo as empresas a aderirem aos seus serviços.

A investigação da PJ prossegue para apurar quem eram os colaboradores de Allan Shariff e se há mais vítimas, além daquelas que foram já identificadas.

Segundo a Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) ao Observador, o guarda detido será alvo de um processo disciplinar. Segundo os dados da DGRSP, em 2015 foram presos 21 guardas prisionais, 12 dos quais já foram libertados. Este ano de 2016 seis guardas entraram no sistema prisional, dois foram entretanto libertados.

“Estas pessoas entraram no sistema prisional por crimes diversos como sejam os de tráfico de estupefacientes, associação criminosa, corrupção passiva, branqueamento de capitais, abuso sexual de crianças, ofensas à integridade física, violência doméstica, violação, rapto, sequestro, homicídio, coação agravada, roubo e furto qualificado”, refere a DGRSP.

O telefonema para Miami para assaltar um banco

Aos 36 anos, Allan Guedes Shariff — filho de mãe portuguesa e pai indonésio — tem já um longo cadastro criminal. Em 2010 foi condenado a 17 anos de cadeia pelos crimes de burla qualificada, extorsão e branqueamento de capitais, que lesaram instituições financeiras de vários países, entre eles os EUA, Inglaterra, Suíça e Canadá. Com ele foram julgados sete familiares e amigos. Como recorreu, o caso não transitou logo em julgado e ficou em prisão preventiva.

Nesta acusação está um episódio pelo qual ficou conhecido, quando em março de 2007 telefonou para um banco em Miami, na Florida, ameaçando os funcionários e obrigando-os a entregar 20 mil dólares a um cúmplice no local. O cúmplice, também português, acabou detido ainda antes de receber o dinheiro. Allan Shariff ameaçou que havia explosivos e atiradores furtivos, tal como já tinha feito com outras instituições com as quais conseguiu arrecadar elevadas quantias em dinheiro.

Em 2012 foi novamente condenado a dez anos de prisão pelo rapto de um empresário canadiano, extorsão, branqueamento e falsificação de documentos. Também recorreu.