Agora com sinal reforçado em Lisboa 98.7 FM No Porto 98.4 FM Cultura / Cinema Português Seguir Curtas Vila do Conde. Documentário sobre as Caxinas estreia 39 anos depois "E do Mar Nasceu" é um documentário de 1977 do realizador Ricardo Costa. Foi exibido pela primeira vez em Portugal no Curtas Vila do Conde. Este domingo, há uma nova sessão. Rita Neves Costa Texto Texto 16 Jul 2016, 19:39 i ▲"E do Mar Nasceu" é um documentário de 1977 sobre a comunidade das Caxinas "E do Mar Nasceu" é um documentário de 1977 sobre a comunidade das Caxinas 13 fotos A 24ª edição do Curtas Vila do Conde termina este fim de semana. Desde 9 de julho, que várias curtas-metragens têm sido projetadas no Teatro Municipal: algumas pela primeira vez, outras voltam a ser exibidas para o evento. “E do Mar Nasceu” insere-se na primeira categoria, pelo menos, em Portugal. O documentário realizado em 1977 por Ricardo Costa e com produção da extinta cooperativa de cinema, Grupo Zero, foi apresentado pela primeira vez ao público. A casa cheia no passado domingo fez com que a organização do Curtas apostasse numa nova sessão.[Veja aqui o trailer] Três anos após o 25 de Abril, a Direção-Geral da Educação Permanente, antiga instituição do Ministério da Educação, pretendia criar condições de acesso à cultura e ao alfabetismo, pela população adulta e mais velha. O cinema aparecia como uma das soluções para essa maleita portuguesa: uma equipa de uma cooperativa de cinema foi convidada a fazer um documentário nas Caxinas, sobre os efeitos da Revolução na comunidade piscatória, nomeadamente o surgimento do associativismo e do cooperativismo. “Falava-se muito nas cooperativas agrícolas do Alentejo, mas pouco das cooperativas de pesca”, afirma Ricardo Costa, realizador de “E do Mar Nasceu”.Muitos pensariam “porquê as Caxinas?”, quando o próprio cineasta é natural de Peniche e poderia escolher entre tantos outros locais de Portugal para retratar. A explicação é simples: naquele lugar de Vila do Conde “encontravam uma junção de crença, fé e superação de dificuldades” — ingredientes indispensáveis para demonstrar a realidade de centenas de pescadores — que se viam nas malhas dos novos desafios de um Portugal pós-revolucionário.Era necessário, os pescadores organizarem-se em associações e cooperativas, para fazer valer a força da profissão perante a sociedade e eles próprios. E foi fácil convencê-los a entrar num documentário? “A gente das Caxinas é especial, tem uma mentalidade diferente da dos pescadores de Peniche ou do Algarve. São mais difíceis de abordar. Tive a desenvoltura e a experiência para explicar-lhes o que pretendia”, esclarece Ricardo Costa.A desconfiança inicial, de ter uma câmara a seguir bem de perto os seus passos e a sua vida, desapareceu para dar lugar à naturalidade. “Porque afinal é disso que se trata um documentário”, diz o realizador. Não podia dizer que aquilo era para a televisão, teve de repetir que não podia pagar a nenhum dos intervenientes, porque corria o risco de entrar no mundo da ficção e do teatro – Ricardo Costa acredita os 29 documentários que realizou antes, a partir de 1975, para a série “Mar Limiar” em coprodução com a RTP, foram necessários para ganhar confiança junto dos pescadores.A convite da organização do Curtas Vila do Conde e em parceria com a associação cultural Bind’ó Peixe, “E do Mar Nasceu” foi projetado pela primeira vez em Portugal. Depois de em 1978, ter passado por um festival na Alemanha, o documentário teve “casa cheia” no Teatro Municipal de Vila do Conde. Um feito que Ricardo Costa não estava à espera: “Diziam-me que íamos ter lotação esgotada, mas eu não acreditava muito”. A dificuldade que encontrou em projetar o filme fora do circuito televisivo explica a estreia tardia, mais precisamente, de 39 anos. “Ninguém se interessou muito em exibir esta curta-metragem”, desabafa.A ida até ao festival de curtas-metragens foi também um regresso às ruas das Caxinas — “uma estratégia para me ambientar”, diz Ricardo Costa. Uns edifícios foram abaixo, outros reergueram-se. Definitivamente, este já não é o lugar que filmou e onde esteve há 39 anos. “Talvez na próxima sessão não estejam tantas pessoas”, acrescenta.Este domingo, “E do Mar Nasceu” é exibido novamente às 15h no Teatro Municipal de Vila do Conde. Os bilhetes custam 3,5 euros.