Quinze detidos da prisão norte-americana de Guantanamo foram transferidos para os Emirados Árabes Unidos, o maior grupo libertado nos últimos anos, anunciou o Pentágono. Aprovados para libertação, mas ainda sem país que os receba, estão outros 20 detidos.

“Um capítulo triste na história americana”. As palavras são do próprio Barack Obama, que fez do encerramento da controversa prisão uma das suas mais sonantes promessas na histórica campanha de 2008, aquela que levou o primeiro afro-americano à mais cobiçada das cadeiras do poder.

A esperança que prometeu nos cartazes já icónicos voltou abrangia na campanha o encerramento desse “capítulo triste”, com Obama a reafirmar durante uma entrevista a uma televisão norte-americana esse objetivo já depois de eleito, em 2009. A prisão seria encerrada nesse ano e consigo uma das piores memórias dos anos Bush, juntamente com a controvérsia sobre os métodos de tortura utilizados em nome da luta contra o terrorismo, como o waterboarding (afogamento simulado).

NEW YORK, NY - MAY 23: Protestors demand the closure of the Guantanamo Bay detention center, used by U.S. military forces to hold people indefinitely, in Times Square on May 23, 2014 in New York City. Organizers of the protest claimed the gathering was in coordination with protests happening in 40 other cities. (Photo by Andrew Burton/Getty Images)

A contestação à existência desta prisão tem acontecido um pouco por todo o mundo e cresce à medida que o tempo passa, com histórias de muitos detidos por engano, sem direito a julgamento e torturados durante anos. Na foto, uma manifestação em Nova Iorque em maio onde se pede o encerramento da prisão, como parte de um protesto que aconteceu em simultâneo em 40 cidades.

No entanto, a realidade tem sido outra e em Guantanamo, mesmo depois desta ‘vitória’, ainda estão mais de 60 detidos. A libertação de um terço destes detidos já foi aprovada, mas como não têm país que os acolha, e com a administração sem crédito num congresso dominado por republicanos cada vez mais à direita do espetro político, Obama não parece sequer perto de encerrar a prisão.

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Até lá, continua a ofensiva diplomática. “Os Estados Unidos agradecem ao governo dos Emirados Árabes Unidos pelo seu gesto humanitário e vontade em apoiar os esforços dos Estados Unidos para fechar o estabelecimento prisional de Guantanamo”, disse o Pentágono, em comunicado.

Destes quinze detidos, doze são iemenitas e três são afegãos. Todos estiveram detidos pelas forças norte-americanas em Guantanamo durante 14 anos, sem direito a serem julgados.

A administração norte-americana tem desenvolvido esforços para convencer os países do golfo a receberem estes detidos, porque estes países têm maiores semelhanças em termos de língua e cultura às das pessoas detidas, dispondo assim de melhores condições para os reintegrar (mas também de serviços de segurança com capacidade para os monitorizar).

No entanto, as preocupações não são apenas uma questão de cultura. Barack Obama chegou a propor fechar a controversa prisão, transferindo para prisões em solo norte-americano os detidos que não pudessem ser libertados. O plano foi bloqueado no Congresso, com os republicanos a sugerirem até a suspensão dos prisioneiros que representassem perigo menor para outros países, citando razões de segurança.

“Penso que teria fechado Guantanamo no primeiro dia” – Barack Obama, questionado por um aluno numa conferência em Cleveland, no Ohio, sobre o que mudaria no seu primeiro dia como Presidente dos Estados Unidos.

Quando Barack Obama chegou ao poder em 2009, Guantanamo albergava 242 detidos. Agora tem 61, graças a um esforço diplomático em final de mandato. O Presidente do EUA entende que a prisão só promove sentimentos anti norte-americanos e engrossa as listas dos movimentos terroristas, mas o objetivo de fechar a prisão criada pelo seu antecessor George W. Bush para manter os prisioneiros da guerra contra o terrorismo depois do 11 de setembro teima em permanecer um espinho no mandato de Obama.

Em março do ano passado, Barack Obama foi questionado por um aluno numa conferência em Cleveland, no Ohio, sobre o que mudaria no seu primeiro dia como Presidente dos Estados Unidos. “Penso que teria fechado Guantanamo no primeiro dia”, disse. O erro de cálculo pode levá-lo a falhar uma das suas maiores promessas de campanha, numa altura em que qualquer um dos candidatos – seja Donald Trump ou Hillary Clinton – têm visões mais intervencionistas que a sua no que à luta contra o terrorismo diz respeito.